quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O roubo do medo

Parece que todas as constelações se concentraram naquele momento ao redor da minha cabeça. O baque foi tão grande que era possível ver os passarinhos voando em círculos, frenéticos. Enquanto a dor latejava fundo e o chão parecia não ter fim, me veio uma pergunta na mesma cabeça atordoada: o mar tem fim? Onde ele acaba? Depois dele há futuro? Há vida? Há mistérios? Só não devem existir fórmulas, nem formas, nem quadrados, nem rodas. Apenas expansão e atração. O cheiro das coisas provocam arrepios diante da beleza de uma chuva que cai ou de um bem-te-vi que canta. Quanto tempo perdido com idas e vindas desnecessárias, quando olhar para o lado teria bastado para ser feliz, quando a paixão gritava nos holofotes dos olhares, mas só você não via... quando o coração latejava de dor, mas só você não sentia. Os ponteiros dos relógios vão caminhando velozes, sem culpa, sem pena, sem medo de nossos medos e anseios. Eles só cumprem seu papel, enquanto nós tentamos fazer o mesmo. Às vezes o sentido parece tão despido de qualquer sentido que fico sentido de pensar que o sentimento tornou-se tão secundário, que as relações estão tão conturbadas, que é tão difícil impregnar o coração de paz e solicitude, que o coletivo está cada vez mais decepado, que a mesmice que assola nosso cotidiano torna-se cada vez mais feroz, que o meu eu parece perdido nos minutos que escorrem pelas tantas possibilidades e pelos infinitos caminhos que posso seguir. Se é esse, não sei. Nem terei tempo para saber. Quando acontecer, já foi. Já não é mais. E é aí que pinta a dúvida: tudo isso realmente existiu algum dia?