quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Ao vento

A tempestade e os campos verdejantes. Uma construção continuamento conturbada. O pôr-do-sol relanceado de êxtase no horizonte redesenhado por minhas mãos. As reticências nunca completadas e sempre sendentas de mais e mais pontos infindáveis. A velocidade imposta em mim por mim mesmo. A energia que parece nunca se extinguir, nem dar mostras disso.

O toque insano e incessante é menos terror do que amor.

O encontro de almas é vital para continuar persignando-se diante da igreja que já não representa nada além de uma arquitetura bonita e que traz boas lembranças. Sim, boas lembranças. As pessoas começam a chegar e encher o espaço sem necessariamente marcar presença, entende? O som, que eu não gosto, rola sem fazer diferença. Uma boa diferença é aquela respeitada em conjunto, mesmo que ele seja díspare.

Já estou cá comigo, feliz, alegre e serelepe, com pessoas muito queridas e pra sempre amadas e especialmente fundamentais em minha vida. Família escolhida mesmo que tenha o mesmo sangue que corre aqui em minhas veias. Desses só foram... A Amy faz parte da última trilha sonora do ano. Seu vozeirão invade os recantes encharcados de esperança de um ano passado esplêndido e um novo que promete.

Com a certeza de que tudo passa, eu sigo vivendo como se nada pudesse me cutucar como aquela urtiga que pinica e provoca um sensação de dor, mas logo alivia quando me deparo com aquela imensidão de rio, de água doce, que alimenta a minha alma... E as reticências. De novo as retincências...

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Gentes

Estava sentindo falta de ver gente, desfilando para lá e para cá, com seus problemas, sonhos, emoções e esperanças. É tão bom ver as relações, os olhares, as ações, os anseios. Sim, porque tudo isso fica muito perceptível quando se sai às ruas. Naquelas catracas ali passam vários mundos andantes, vários destinos customizados de forma aleatória, mas com um sentido intrínseco a cada estranho que passa pelo caminho.

Esse material mutante e fascinante é o que me faz pensar e interagir com a complexidade da minha existência. A prisão forçada estava me sufocando e me fazendo esquecer de mim mesmo e dos meus iguais. Por isso, fiz a promessa: sair para uma caminhada qualquer pelo menos uma vez por semana, mas nunca apagar a certeza do mundo que me envolve em seus tentáculos desordenados e descaracterizados de prioridades urgentes.

Por fim, a presença sua me move para o imutável dos saberes distinguidos em si mesmo pela pompa sem intenção de parecer rei.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Aquela pela qual eu morreria

Hoje eu estive com ela. Aquela mulher pela qual eu morreria sem pestanejar. Este foi o mesmo dia que consegui quebrar, com meu adorável e querido pai, a unha do meu pé esquerdo. Esquerdo?

O gelo arde em cima neste momento e eu já não consigo pensar de forma cronológica. Tudo é aleatório. Mas permaneço na missão que me prometi há algumas horas atrás: escrever que por ela eu morreria. Morreria sim! Mesmo com todas as unhas quebradas, mesmo com o coração rachado, mesmo que já não houvesse recomposição dos sentimentos amigos, aqui e agora com ela na praça eu me estenderia ao chão e ofereceria a ela a minha alma de bom grado. De bom e belíssimo grado. Pois se sou feliz hoje é porque tive um olhar de compreensão lá naqueles idos dos anos do início do século 20, quando eu pensava não haver felicidade em nenhum canto da face da Terra.

Está dormente agora. Chutei o gelo para longe. Mas sigo no caminho e na minha ilustre determinação de homenageá-la. Você pensa que é balela, não é? Volta a arder. Mas se eu tivesse a oportunidade neste momento, aqui e agora novamente, você ia ver se eu não seria capaz de cumprir o que digo. Não para parecer verdadeiro e fiel às minhas palavras, mas para ser fiel a mim mesmo e também à amizade pela qual sempre esperei e pela qual me sinto digno de ter vindo a esse mundo sem propósito e sem noção.

O sentido de viver é não ter sentido algum. Ponto final. A ferina e singela amiga está permanentemente fincada por aqui...

domingo, 28 de dezembro de 2008

Empanzinando

- Estou me sentindo assim um tanto quanto empanzinada...
- Foi exatamente como eu me senti mulher, quando bebi toda aquela garrafa de vinho ali.
- Você também se sentiu empanzinada?
- Sim... Pensei até que fosse morrer.
- Pare de bobagem, mulher. Até parece que alguém morre por causa de uma garrafa de vinho de nada...
- Ah, morre sim...
- Morre não! Foi só um porre. Sossegue... Mas o próximo só no fim do ano que vem, viu?
- Tá bom, tá bom...
- [pensamento] Essas pessoas que não sabem beber viu... Ai ai.

sábado, 27 de dezembro de 2008

2008 Retrô

A retrospectiva da vida deve ser feita ao longo dela, não em breves momentos. Acho que a memória, mesmo que ela vá rareando ao longo dos anos, é a maior detentora de tudo o que fizemos, de tudo o que fazemos, independente de como buscamos registrar todos os acontecimentos decorridos ao passar os dias, as semanas, os meses e os anos ao lado de pessoas amadas e amigos próximos e essenciais que nos ajudam a viver nesse mundo tão desconjuntado. De certa forma, fazemos um balanço diário de tudo o que vivemos. Por quê isso tem de ser feito em apenas uns dias que finalizam um período de tempo chamado de ano? Não, a nossa existência não é separada tão rigidamente assim. O tempo, como não canso de dizer, é apenas uma das ferramentas criada para nos localizarmos melhor em nossas idéias e realizações. Mas o tempo não-oficial é o que importa. É aquele que não pode ser capturado, nem se submete ao cabresto das indecisões. Ele é eterno, mesmo que não dure para sempre. A idéia de eternidade que temos é baseada, sobretudo, na religião. Então, quando a religião já não desempenha um papel fundamental em sua vida você passa a ser eterno? Talvez... Mas só para deixar um rápido registro: a impressão que tenho é que a cada ano, desses que a gente marca no calendário contando para que tenha muitos feriados durante a semana, sinto que há uma evolução nas conquistas e no crescimento intelecto-pessoal a cada instante, a cada respiração entrecortada e sobressaltada de tempos em tempos com surpresas muito caras a mim, almas amigas que me complementam e me decifram do pé a cabeça, cada uma a seu modo... Retrô finalizada a cada dia vivido. É uma reconstrução contínua que se passa aqui dentro. Até quando não sei.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Empada

Entornado. Empada. Empáfia. Estonteante...

Me lembro daquele olhar. Agora. Mas ele aconteceu antes, bem antes que eu pudesse desarmar as minhas emoções de tudo que pudesse ser repassado e transmitido com o inesperado. Está na memória. Que ele, o olhar, esteja bem, assim como eu.

O eu que resvala em ti e volta para mim com novos olhares e novas expectativas de vida. A surpresa foi que eu já não era o que fui ontem. Personalidade dupla? Bah! Que nada...

A noite encobriu o campo impregnado de ar puro. Você já sentiu? Ou já nasceu nesse emaranhado de prédios sufocantes, porém tão respeitosos? Queria sentir a chuva sobre o meu corpo, os seus pingos fortes e potentes, purgando tudo o que de inútil tenha grudado ao longo desse ano...

A retrospectiva eu deixo para o último suspiro de desafogamento das águas límpidas e distantes de mim... Uma longa estrada pela frente, ladeada por frondosas árvores... Estou nela até quando?

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Nascido

Nascido num tempo errado, numa época distante da correta, da prevista, da esperada. Mas quem esperava? Quem previa? O futuro de agora já não é o mesmo de ontem, nem será o de amanhã. Nessa época é quando sinto de forma mais contundente e dilacerante que eu não devia estar vivendo agora, nesses dias. Mas se eu estou aqui é para viver, não é? Mas isso também não quer dizer que eu tenha que fazer parte de tudo, de todas as festas despidas de qualquer significado profundo para mim...

A minha festa sou eu quem faço, junto daqueles amados por mim. Importantes no meu dia-a-dia, não aqueles outros ali que só levam algum grau de parentesco no sobrenome. Não, sobre mim eu que sei o que vale a pena dar valor. E ponto. Se você não concordar, apenas lamento.

Hou. Hou. Hou... O Natal chegou.

E tomara que vá embora bem rápido. Ufa... terei um ano inteiro pela frente de muito descanso... Ah!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

In ou Out?

Incerto. Intransigente. Impossível. Imposto...

Gosto tanto das palavras. Já te disse isso, não disse? Tenho a leve impressão que já disse sim... Você não se lembra? Eu me lembro vaga e parcialmente...

...Impaciente. Imperado. Inanimado. Insano. Imortal. Id. Ídolo. Ícone. Imagens. Ilógico. Ilha. Ilhado. Ijexá. Iogurte. Imaculado. Iglus. Importante. Ítalo. Irascível. Isonomia. Impostura. Ihaaaa. Insone. Insosso. Ilegal. Igor. Iago. Ipê. Intransigente. Introspectivo. Ira. Irei. Iremos. Iron.

Mas quem disse que o Instrumento não inseriu uma nova perspectiva em sua vida?

Agogôs. Alfaias. Tamborins. Ganzás. Abês. Caixas. Gonguês... O som me levava extraordinariamente para um plano onde era tudo florido, onde o jardim florescia a cada instante. Não adiantava ninguém chegar para cortar as lindas flores e o capim bem cuidado. Havia uma esfera de proteção ali... Você consegue imaginar?

Reflexão... Flexão. Chão.

Chão.

Férias!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Planos inviáveis

A estrela pop brilhou e se apagou e voltou a brilhar de novo. No peito de milhares de pessoas. Mas isso eu deveria presenciar, pois além de tudo era isso que gostaria de presenciar. A paixão estampada no rosto das pessoas. Não importa o motivo da adoração, mas é preciso acreditar, sonhar, transcender o dia-a-dia monótono de nossas vidas. É preciso se levar menos a sério. Por quê? Porque não somos nada, apenas corpos andantes e pensantes no mundo complexado por si próprio, que já não encontra mais soluções viáveis. Mas pra quê a solução? A razão! A balbúrdia é tão mais interessante. Ha-ha.

Notícias expostas de uma vida sem brilho, mas com muita aparência construída em cima de falsidades ideológicas, personagens levados tão a sério que chegam a confundir até aos mais espertos. Nem os sábios distinguiram o que vinha lá ao longe. Eles não previram o futuro. Ainda não tinham apreendido e aprendido a arte da vida desregulada.

As luzes ofuscam a beleza comum e necessária à humanidade... Mas quem liga para a humanidade? Tudo é nada, e o pó se sobressai aos grandes sucessos e pensamentos positivos. Salve os escravos atuais de nosso mundo justamente injusto!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Imagine

Com seu violino a tira colo, ele ficou embasbacado com aquele som que pulsava do instrumento para as suas veias, e delas para o instrumento. Era algo mágico, perceptível. Em alguns momentos velozes era possível até enxergar o que o olho comum não consegue absorver. Não estou falando das notas musicais como a gente vê nos desenhos animados. Falo de uma coisa mais subjetiva. Consegue imaginar, não consegue?

A concentração desconcertou o espetáculo da vida que habitava debaixo da árvore sem folhas e sem frutos e sem vírgulas e sem pontos e sem conectivos e muito menos sem regras que não eram impostas de jeito nenhum pois o atrevimento não chegava a tanto no entanto e no portanto também os poréns apareceram e disseram que queriam saber o que ocorria por ali com todos os quês que eles tinham direito de assumir o risco de viver livremente sem rabos na língua e sem papas no preso.

Ou seria papas na língua e rabo preso? Ha-ha. Ainda bem que já está acabado.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Tempeando

O tempo nunca foi nem nunca será o senhor dos meus dias. Ele tenta, mas eu destruo todos aqueles ponteirinhos ali, tá vendo? Não deixo de jeito nenhum ele se achegar pra perto de mim como se não quisesse nada. Mas ele quer. Quer sim. Quer tudo quanto é mais precioso para mim: os mais pequenos momentos saboreados na companhia de amáveis almas amigas e singelas, que não me pertencem, mas se ligam à minha por instantes rápidos como o relâmpago.

Sabia que essa história de brincadeiras infantis fica martelando na minha memória? Ah, a memória. Transpiro e transmito de dentro de mim todas essas palavras. Este é meu talento que não será roubado jamais. Elas, as palavras e as letras, são tão lindas que meus olhos chegam até a marejar neste momento. Falo sério, acredite! Olhe estes desenhos, estes contornos, estes versos transversais de mim mesmo, que me representam e são representados por meu olhar sobre as coisas, animadas ou inanimadas, não importa. As coisas!

O teto aqui está branco, completamente branco. Uma rachadura naquele canto ali me diz que nada é para sempre, nem perfeito. A perfeição é uma bobagem inventada para vender boas imagens de pessoas disfarçadamente boas. As luzes giram na velocidade do vento, que entorta a minha pele para todos os lados. Ele está incansável nesta noite gélida, enquanto olho para o mar desse mirante improvisado dentro de mim.

A liberdade.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Longos dedos

Passo a mão no cabelo e sinto os fios bem macios. A nuca ainda está ali bem quentinha, entremeada com seus dedos longos e gostosos. Carinhosos. A atitude é pra quem tem. Mesmo que não saiba que tem. É preciso tê-la. Viver é uma questão de atitude. E não falo aqui de fortes e fracos. Balela. Falo de fazer ou deixar que os outros façam. Consegue perceber?

A lacuna muitas vezes é saudável, pois é a partir dela que se cria, recria e inventa um novo desenho, com diferentes traços daqueles que permearam o passado longínquo dos dias gelados de inverno. O caminho seguia direto para o rio, no qual adorávamos tomar banho. Era tão divertido. O trecho não era tão curto, mas a nossa felicidade fazia tudo parecer mais pulsante, mais colorido, mais vermelho. Era a vida. É a atitude que eu tava falando ali em cima.

Prestar contas a quem? Só devo fazer isso comigo mesmo, pois é o juiz mais rígido e intransponível, que não sossega enquanto não me joga contra a parede e aponta o dedo em riste contra minha bela face. A emoção de ouvir o som do piano ao longe me fez ver que não é preciso se preocupar com pequenas coisas, com sentimentos equivocados, com olhares maldosos.

Sou eu no meu eu descarregado em cada poro de minha pele.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Submarino

Imerso em meus pensamentos, vejo tudo tão turvo. A falta de concentração me leva para mundos diferentes do meu. De mim só resta o eu interior, que vaga sem saber se sabe por onde quer ir. Porém só por um momento, pois em todos os outros é tudo tão claro como os corais no oceano da imensidão do tamanho das minhas dúvidas.

O clássico está no olhar singelo da criança sem cobrança e sem intenções. Ela é apenas ela, e só!

Se é que existe próxima reencarnação... Mesmo assim ele disse: quero nascer negão da próxima vez!

Será que ele vai ser atendido no seu pedido?

É...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Cuba

Cuba sempre. Agora e sempre. Sua música e seu povo. Sua cultura e sua história. Suas lutas e suas conquitas. Seus beijos na boca entranhandos em cada sorriso de agradecimento. No belo caminhar da negra que não se cansa de dançar ao som da rumba. A ilha do Caribe parece não pestanejar quando se trata de lutar por suas memórias, principalmente as que já passaram. Mas lutam também pelas memórias do presente, do já, do hoje, do agora.

Mas o que seria o facínora? Deixo a pergunta no ar. Democracia? Será?

O sono parecia tomara conta de todo o vagão. As pessoas pareciam zumbis. Amanhã será outro dia? Quem foi que disse? Me diga! A felicidade não é para poucos, mas sim para a parcela mínima da parcela ínfima do mínimo, ou seja, do NADA.

Não precisa gritar? Quem foi que disse? Então continue calando a sua vontade. Sempre haverá outro para querer por você. Continue delegando o prazer de viver a outros. Você não é digno. Já pensou? Você não terá outra vida. Acredite! É agora ou agora. Você não tem opção. As opções não existem. Elas são apenas ilusões de mentes sedentas por respostas.

Como eu prefiro as perguntas, continuo vivendo ao meu bel-prazer.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O cemitério

O cemitério exibia suas lápides super elaboradas e magníficas. Era um lugar bonito e mórbido. Claro que era mórbido não é, afinal de contas, era um cemitério. Nós que aqui estamos por vós esperamos. Que experiência marcante no primeiro ano de faculdade. Ah! Mas de onde eu via tudo aquilo a situação era pior. Muito, muito aperto. Era o transporte público, que eu continuava sentindo na pele. Até quando?

Até quando as pessoas vão se reduzir a pó para ganhar o pão de cada dia e ainda se submeter àquelas condições? Triste, deveras triste. Mas eu já me perco nos meus pensamentos e eles voam tão alto que eu nem sei mais por onde eles se enfiaram. Autonomia. Eles sempre reclamam por isso.

Preencher as lacunas que existem em mim mesmo é um desafio que vou levando adiante, até não poder mais arrastar esse fardo. Que Deus o carregue. Se é que ele existe!

Interrogação. Câmbio. Desliga. Épico. Heroísmo.

Agnóstico.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

As crianças

A criança, enluarada e hipnotizada pelo belo satélite que ainda não estava cheio de si, fez uma pergunta qualquer e provocou a projeção de um filme na cabeça. Na minha cabeça. Nomeei aquilo de nostalgia de algo que ainda não chegou, ou que já passou há muito tempo, quando a consciência ainda não havia sido formada. O agogô e seu som metálico me surpreendeu de uma vez por todas, e me laçou no seu som envolvente e suingado. A música está em mim, assim como eu estou naquele pequeno objeto tão belo.

Mas a criança, agora outra, corria pela rua. Outras duas tomavam banho de mangueira. Ah, mais nostalgia. Imediatamente fui invadido por uma lembrança de uma fotografia, na qual o sorriso era tão gigante que quase tomava todo o enquadramento. Soma de passado e presente, é tão difícil dizer isso, mas é fato: o futuro não existe, pois ele é o presente que a gente mesmo se dá de presente.

Qual seu maior sonho? Todos são maiores e transbordam de mim como aquele rio sujo em dia de chuva na cidade grande, deteriorada pela ação vil e infame daquele e daquele outro homem. E daquela mulher também.

Frases soltas muitas vezes representam mais o mundo do que um simples sussurrar avantajado na sua vontade de segredar os principais detalhes da obra de arte exposta na rua, na frente de sua casa, no seu nariz ultrajante e arrebitado, que não vê senão seu próprio umbigo, contraditoriamente.

As borboletas voaram para longe. Eram de todas as cores, formatos e sonhos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A crise

Alimento a crise dentro de mim, pois é dela que renasço a cada manhã. A cada manhã renasço da crise e alimento. Dentro de mim, alimento a crise a cada manhã. Renasço e alimento a crise dentro de mim, a cada manhã. Alimento dentro de mim, a cada manhã, a crise. A crise e o alimento, tudo renasce em mim a cada manhã. Alimento a crise, a cada manhã, que renasce em mim. Em mim, dentro, renasce a crise que alimento a cada manhã. Da crise renasço dentro de mim a cada manhã. Renasço da crise a cada manhã alimentada dentro de mim. Dentro de mim, a cada manhã, alimento a crise. De mim, dentro, alimento a crise a cada manhã.

A competência nem sempre vem acompanhada de uma boa avaliação. As perspectivas, agora, são infinitas, basta apenas saber fazer boas escolhas.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A caatinga

A caatinga. A catinga da pitangueira que reflorecia a cada entardecer. E o anoitecer baixou uma luz inebriante e conturbada. A brilhantina dos tempos áureos voltam sempre que é possível sonhar mais um pouquinho. Mas e quando a morte chegar? Não existe mais nada depois. Aí é só o vazio que prevalece? Pode acreditar que sim. Mas eu me sinto como um zumbi, sendo controlado por uma força incomum e não visível. A loucura? Depende do nível de saciedade do mundo que você tem, pois a fome de comer é diferente da fome de possuir. Transcendo para outros espaços, sem precisar me movimentar, sem sair do lugar, rastejando a palha seca atrás de mim. A tenda foi montada sobre mim e tudo pulsava incessante e desconexado de meus poros em fúria e em chamas. Tudo ardia como se a vida explodisse num grande impacto de verde e vermelho. E fogo. Para salvar a humanidade basta apenas uma pequena quantidade de sol e de reflexo do ouro. Apesar. Os pesares foram abandonados diante da dinastia errante e errada pela honras da casa. A casa onde sempre me senti eu. E ser eu foi um preço muito alto pago por continuar vivendo e ser feliz para sempre, pelo menos por um período comumente chamado de sempre, mas que dura tão pouco. É, o sempre dura muito pouco. Quem foi que o nomeou? Eu, o rei do mundo e de mim. Dos meus atos e dos meus disparates. Eu sou feliz. Eu sou um grão minúsculo de nada. Mas ao mesmo tempo eu sou tudo e um enxame de palavras toma conta de mim e exige: Fim. É preciso parar por enquanto, é forte demais para seguir de uma vez só... Apenas sozinho e só.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Dois copos de cerveja

Ao lado da garrafa de cerveja havia apenas um vazio. Um lugar vago que nunca antes foi ocupado. Então, como é que podia estar vago? O vazio só existe depois que um espaço foi preenchido por algo palpável ou não. Mas o fato é que ele queria dialogar com este vazio. Talvez assim a solidão fosse amainando aos poucos.

Você gosta de dançar? Sim. Você dança bem? Depende do ritmo. Do ritmo da vida? Não, dos acordes do violão mesmo. Mas se não tiver violão? Que seja de qualquer instrumento. Qual você prefere? A rabeca. O que é isso? Uma espécie de violino brasileiro. Bacana. É sim, bem bacana. Você sabe tocar? Não, mas ainda vou aprender. Quando? Em breve. Em breve quando? Quando eu construir uma e sair por aí tocando. Nossa, construir uma? Sim, construir uma nem custa tão caro assim. Como seria a vida sem música? Não haveria vida. Será? Tenho certeza, acredite nisso. Mas eu sou tão cético. Mas em algo você acredita, não? É, talvez. Tá vendo como você já começa a distinguir os contornos? Do quê? Do mundo. Que mundo? Do nosso, ora bolas. Nosso quem, cara pálida? Cara pálida não, eu sou negão. Me desculpe. Tá desculpado. O mundo é negro, sabia? Quem disse? Eu tô dizendo, acredite homem! A lua está tão linda. É verdade! O que deve estar acontecendo lá? Orgasmos múltiplos, é claro. Hã? Sim, o gozo de lá deve ser pleno para haver tanta beleza assim. E essas modelos magrelas ainda pensam que são belas, né? Mas o que é a beleza, meu caro? Não sei, só sei que é a melhor forma de ver o mundo: através das ínfimas belezas escondidas no óbvio ignorado por todos.

Ah, o óbvio.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Surpresa

A pressão em minha cabeça não foi suficiente para eu perdê-la, afinal de contas tudo isso é aprendizado. Está tudo tão bom que eu não vou deixar a impulsividade dominar minhas veias. É preciso parar, pensar e ouvir os mais velhos. Muitas vezes eles se enganam. Mas é aí que nós, com o frescor da juventude, temos de assumir o controle da situação e tentar relevar certos gritos impetuosos. Eles são necessários para o fortalecimento contínuo da máquina que é a minha mente.

Dois dias de descanso? Imagina. Grandes acontecimentos. Grandes fechamentos de etapas. Grandes palavras. Grandes homens. Grandes mulheres. Grandes amigos. Grandes sorrisos.

Grande vida!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Balançar

O balanço proporciona o sossego. O sossego, a calma. A calma, a prudência. A prudência, a sabedoria. A sabedoria, o acúmulo. O acúmulo, a gana. A gana, a guerra. A guerra, a morte. A morte, a vida. A vida, a floresta. A floresta, a pedra. A pedra, o caminho. O caminho, a possibilidade. A possibilidade, a fé. A fé, a mudança. A mudança, o sorriso. O sorriso, a dúvida. A dúvida, o perdão. O perdão, a majestade. A majestade, o poder. O poder, tudo.

A responsabilidade de viver e morrer é só nossa e de mais ninguém. Não a jogue para outras pessoas, santos ou divindades. Você é o que você pratica. Poutz, mas isso está tão auto-ajuda, e eu já ia me enveredando novamente pela negação permanente de Deus. Mas isso você já sabe.

A Lua veio me dizer que o amanhecer está próximo. A luz, que sou eu, será espalhada pelo resto e pelos cantos do mundo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Falta

O mês começa agora por aqui. A bodeação dos últimos dias talvez tenha sido acúmulo de devaneios não passados para o papel, não explicitados, não vomitados. A sensação de estranhamento de mim mesmo vai passando aos poucos. A adaptação vai acontecendo gradualmente. O elevador de estados de espírito ainda continua a descer e subir. Agora ele está no térreo. Estabilizado? Imagina. Daqui a pouco ele dá um forte impulso e sobe ao vigésimo andar. Talvez até mais.

A respiração está até mais tranqüila agora. Interessante isso. Muito interessante. Mas eu não quero esta abolição do trema; ele é tão charmoso. Essa inconseqüencia ainda vai nos trazer maus bocados. Escreva o que estou dizendo. E com trema, por favor. O sistema pode cair, e eu também. Mas está clara a diferença entre mim e ele, não é? Pergunto assim meio despreocupadamente, sem querer uma resposta de pronto. Você tem dois minutos para pensar.

Já reparou que as dores na coluna parecem nada quando a chuva cai lá fora e se está debaixo de um cobertor quentinho, assistindo um filme qualquer na TV à tarde. Se houver uma bela companhia ou uma companhia bela, como preferir, melhor ainda. Mas isso é tão romântico e não é isso o que me representa nos últimos dias. Mas algo consegue me representar completamente em alguns instantes ínfimos que seja?

O ritmo do frenesi que invadiu aquele homem ali passou desapercebido por todos. Ninguém o olhava mais, ele já não existia em carne e osso. Apenas seu nome permaneceu. Ah, a história. Quão leviana e instável ela é.

Ela se parece comigo e, talvez por isso, eu insisto em me jogar no seu rio escaldante de memórias.