quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Fato consumido

A beleza de viver sem medos (isso é belo?) nos traz questionamentos que mal conseguem se levantar. A roupa da beleza nunca é tirada completamente, porque ela é feita de um material que até a própria natureza duvida. Mas se ela duvida, então como pode ser chamada de bela e maravilhosa por muitas bocas por aí? Outro dia perguntei à minha mãe se Deus era a natureza e se a natureza era Deus. Ela se calou e não soube responder. Não deu trela. A pergunta, apesar de estar carregada de provocação, também estava cheia de inocência de uma criança que começa a descobrir o mundo. Mas não era mais criança há muito tempo. No mais, esta é uma questão que se acende com certa frequência ultimamente aqui em minha caixola. 21 anos. A construção de mim e do mundo. Qual o grau de interferência minha nisso tudo? Será pelo menos uns 50 por cento? Não importa se as decisões são certas ou erradas, o que realmente importa é que elas foram tomadas. De assalto. O resto é consequência. É fato consumido e consumado!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sem máscaras

19 de outubro. Quase noite. Ao som de música clássica (estou tomando gosto por discos!), devaneio sobre as águas chuvosas que caem sobre o meu teto, telhado. Ter você ao lado me faz feliz sempre. Mesmo quando você não está presente. Mesmo que você ainda não exista. A felicidade é feita de fórmulas, mas nenhuma delas é lá muito eficaz. Então o que fazer? Olhe para frente e perceba (sinta!) o quão bela e renovadora é a brisa que bate em seu rosto. Estamos no topo do mundo. Observe as casinhas lá embaixo. Olhe só aquela estradinha no meio da imensidão da floresta. Que nostálgico! Que campestre! Que pureza! Consigo até ver a cor do ar. Instantes degustados até o último suspiro. Tragados sem estragos. A fantasia não escondeu ninguém. Pelo contrário! Revelou ainda mais a sintonia de almas e a felicidade dos encontros certeiros. Os amigos estão aqui. Não do lado esquerdo do peito, mas no dia e no espaço de hoje. Não mais do que isso. Quero hoje e somente hoje, pois o amanhã é apenas uma invenção da mente humana. Só se É uma vez na vida. Então porque perder tempo com teias de aranha que não levam a nada? Que não revelam ninguém? Revele o que há de mais singelo aí dentro. O resto é uma reles consequência do meu e do seu ato. Ate-se a mim. A ele. A ela. A nós. A todos. Ate suas mãos. Ate seus pés. Só não ate sua alma e seus ideais. Eles jamais poderão ser encarcerados.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um sol encarnado

Ainda bem que inventaram as palavras. Bendito! Se não fossem elas, como eu sobreviveria? Respiraria? Enxergaria o mundo? Será? Como colocaria estes meus anseios e insatisfações para fora, pela janela, pela porta, pelas escadas, pelas ruas? Como vomitaria minhas dores banhadas de sangue? Como seria? Eu seria alguma coisa? Algum humano? Algum bicho pensante? Os gambés entram aqui agora e se mostram revestidos de ordem. Mas que ordem mais desordenada e cruel!

Como bom canceriano, não jogo para fora toda a água contida aqui nos meus culhões (sim, porque eu os tenho!). Ela fica aqui. As palavras também. Muitas, mas muitas vezes mesmo, não saem. Elas ficam aqui borbulhando e me fazendo muito mal. Muitos deveriam ouvir estas palavras... Mas quem sabe aprendo isso qualquer dia desses... Procuro não ter tanta pressa assim. No entanto, me orgulho de não ser capaz de rir com o corpo e chorar com a alma. Pior? Não é a pior. A minha dor é do tamanho que eu quero!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Viajando por 1984

Eu estou aqui dentro da televisão, compreendendo como eles fazem para nos manipular. É tão sutil, que passa desapercebido. É uma das melhores formas de manipulação. A outra melhor forma é a igreja e suas falácias jogadas ao vento. Eu não me sinto aqui. Não mesmo. Como pude vir neste corpo e nesta vida? Neste período? Parece que vim da Lua. Um lunático? Não. Acho que é de Marte. Então eu sou um marciano. Não, mas é sério. Deixa eu voltar para aquela história anterior. Eu vinha andando pela rua de cima da minha casa, que é a avenida principal. Aí desde logo percebi como o sistema era esperto e vil. Todos, naquela noite de quarta-feira, estavam voltando para casa de mais um dia inteiro de trabalho, cansaço e exploração. Todos vão levantar logo pela manhã, bem cedinho. Parênteses: e a minupulação continua aqui na tela da TV do meu quarto. É um mundo de 1984, previsto por Orwell há muito tempo atrás. Ele foi um visionário! Olhe para cima quando estiver no elevador. Olhe para o número do seu documento denunciando que você é mais um número. Olhe para o seu ir e vir sem fim e sem sentido? Olhe, eu lhe faço o convite. Você está ouvindo o que digo? Está? Não sei, mas continue dizendo, agora já sou outro. Mas esse outro já está cansado. Com fome. Hummmm. Ele precisa comer. Agora e não mais que agora. Ah, eu também preciso tomar um banho. É sério agora, os punhos começam a fingir que vão doer. Adeus. Adeus. Até algum dia desses.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Mente solidão

Mentes solitárias. Caminhando pelas ruas desse lugar indecifrável vi e vivi momentos tão meus que jamais poderia prever que eles viessem tão desajustados e cruéis como uma navalha na carne do olho. Para lá e para cá, os questionamentos se avolumavam, velozes e vis. A parafernália distinguida logo a frente, ao longe não significava muita coisa. Aquela pessoa viajante e em brisa permanente despertou em mim mais do que compaixão, porque ela estava ali, mas já não pertencia a este mundo. A ressurreição só depende dela. Vai mudar? Vai conseguir? Não sei julgar. Nem posso. Só ela tem as respostas, mesmo que ainda não tenha percebido sua força interior. Espero que haja tempo. As igrejas envolvem multidões e vão espalhando suas redes por cada beco, cada esquina e cada boteco que fica logo ao lado. Vi as luzes da lona do circo brilhando ao longe e novas emoções se remexeram e se inquietaram por aqui. Um suspiro e outro, e mais outro. Logo pegarei no sono. Logo começarei a devanear sobre o que não me arrisco a pensar quando estou de olhos bem abertos. E de repente, não mais que de repente, surge a certeza da felicidade momentânea: os meus espaços, horários, olhares, sensações, visões, sentidos, texturas e meu corpo são todos meus. Meu!