quarta-feira, 29 de abril de 2009

Transborda felicidade danada!

A razão foi feita para esconder, e a emoção, para sentir. Sempre que penso racionalmente me embrulho num manto intransponível, me guardo e não me revelo nem a mim mesmo. Mas quem disse que eu consigo? Um ser emocional dos pés à cabeça não consegue disfarçar nem um olhar enviesado, muito menos a paixão que transmite com um simples aperto de mão, ou simplesmente com a energia que emana do seu corpo. Por isso, me declaro emocional até que a morte me separe da vida, ou a vida me separe da morte, como preferir.

A felicidade me visitou hoje. Ela meteu o pé na porta, escancarou-a, falou um ilustre palavrão e apontou o dedo em riste contra minha cara. Mas que atrevimento desconcertante e provocante, não? A beleza me emociona tanto, mas tanto, tanto, que eu nem sei medir nem remediar. Lágrimas vertem do meu rosto quando eu vejo a beleza, mesmo que ela não seja bela para você, para os outros e para elas ali.

Todos se surpreendem - outros reprovam e invejam - com meu ar contundente e feliz. Estranham ao ver meu riso de canto de boca. Mas sabe qual é a verdade? Me transbordo porque acho que estou quase cara a cara comigo mesmo.

Hoje eu me sinto tão eu...

terça-feira, 28 de abril de 2009

Uma réstia de lua

A dor adormeceu o ardor e esqueceu de adornar as adoráveis criaturas dormentes...

Às vezes, os músculos da minha face tornam-se impenetráveis, não se movem de jeito nenhum. Mas não se engane, meus olhos entregam o que vai aqui dentro...

Deleitáveis. Deleito. Que palavra linda e encorpada! Vixi menino, não faça isso comigo não... É linda ou não é?

Ver a transformação de perto é tão transformador que provoca um arrepio da espinha até o dedinho mindinho do pé.

...Quando eu fecho os olhos, ouço a música, sou a música.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Vento frio

Trin. Trin. Trin.

Não acha que já é a hora de decorar outro número de telefone? Talvez sim. Talvez não. Quem é que sabe as horas das coisas? Se soubéssemos, não teria a menor graça colocar o pé gelado no chão na manhã - ou madrugada? - de uma segundona preguiçosa.

As vírgulas nem sempre são colocadas em seus devidos lugares. Mas quem se importa? A vida hoje parece tão comum e blasé que as pessoas passam umas pelas outras sem se olharem, sem se notarem. Sem dançar ao som da música alta em um sábado eufórico fica mais difícil suportar o dia a dia cheio de "corriquices", que é a mistura de corriqueiro com esquisitices. Você é tão esquisito! Eu sou tão esquisito! O mundo é tão esquisito! Apenas a vida é normal. Tão normal que quando ela acaba, acabou para sempre.

Há vida depois do corpo? E quem disse que a vida é só corpo? E quem não tem alma? Morreu, acabou? Acabou, morreu? O fim é realmente o fim de tudo? Para quem pensa que a vida é apenas pão e água, lamento: morreu, acabou sim! Adeus.

domingo, 26 de abril de 2009

O inimigo

Certa vez, ouvi uma história sobre o inimigo, que começava assim: "Era uma vez...". Te peguei, não é? É, a brincadeira não foi engraçada, eu sei... Agora sim: ela começava e se encaminhava já para o final, como se tivesse vontade própria. Não vou contar aqui a história toda porque ela é muito longa, mas contarei a essência daquilo tudo que a envolveu. Tudo principiou assim: "Mulher, eu nunca mais volto naquela igreja. Uma palhaçada só, todo mundo sambando... tinha até dança de rua, onde já se viu! Que algazarra doida! Nunca mais volto lá." (depoimento de uma crente descrente da arte e da vida, ela só acredita em Deus e mais nada).

Ao ouvir este depoimento roubado perto da esquina insaciável de sussurros, pensei: talvez por trás desta fala está o que eles chamam de inimigo. O inimigo que os amedontram e os fortalecem. Que os fazem combater o mau e acreditar num ser superior. Naquele instante compreendi tudo, como num lampejo de luz ensandecida: "O inimigo é a desculpa para a existência de Deus".

E comecei a gargalhar.

Pronto. Acabou a história, tão longa quanto a fé neurótica de meio mundo inteiramente paranóico e tristemente fundamentalista.

sábado, 25 de abril de 2009

No supermercado

Andando pela rua. Centro da megalópole. Transeuntes fazem o que mais gostam: transitam. Juntamente com seus preconceitos. E me olham. De cima a baixo. De todos os lados. Me perseguem tão rápido quanto seus olhares conseguem. As idéias fervilham aqui e ali. Mas eles continuam me olhando. Paranóia? Ou nóias? Ah, isso tem bastante! Será que ser nóia é não perceber a vida que gira e desvira ao entorno? Então todos somos nóias? E despidos de pudor? Jamais. As esquinas se revelam cada vez mais cruas. E as pessoas continuam a me julgar. Me julgam com suas intenções ferinas e pecados insanos.

- Será que ele é?
- Será que ele não é?
- Mas será que ele é o quê?
- E será que ele não é o quê?
- Será que isso pega?
- Será que isso desapega?
- E se meu filho for?
- E se eu virar?
- E se eu for influenciado?
- E se eu for atacado?
- E se eu atacar primeiro?
- O que eu faço para não olhar?
- O que eu digo para não revelar?
- E aqueles homens sem camisa?
- Não posso olhar! É pecado.
- Não posso ser, nunca!
- E não vou conviver com a dúvida! Simplesmente não sou.
- E quem você é, então?
- Sou você estampado num retrato que ainda não foi tirado.
- Sou o mar, sou a lua, e ao mesmo tempo sou o tempo.
- Sou soma, subtração e subversão.
- Sou livre, sou homem, sou deus.
- Mas Deus não existe.
- Então crie o seu mundo e seja Deus.
- Mas eu só sei olhar...
- Então olhe para si e para o outro... e crie. Crie sem parar.
- Prefiro não ser a ser um deus criador.
- E se todos fossem deuses?
- Mas nós já somos... julgar é nosso principal passatempo.
- O tempo passa e a cabeça do feijão muda.
- Mas a cabeça daquele homem carcomido pelo tempo e pelo pudor...
- Já sei!
- O quê?
- Ressuscitou em mim a certeza de que amanhã não haverá olhares.
- E, por acaso, o mundo ficará cego?
- Não, a lua cansou de brilhar, e o homem terá de se reinventar.
- Sério?
- É sim.
- Mas com quem converso? Quem é você que me atormenta com estas vãs palavras?
- Sou você, sou eu, sou as estrelas. No fundo da sua inconsciência inconstante.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ontem

O mundo está lá fora e mandou dizer: estou a lhe esperar. Para sempre? Aí é você quem decide.

Ande debaixo do meu guarda-chuva? Só por hoje? Só por agora? Amanhã não existe, é apenas uma invenção do pensamento contemporâneo. Amanhã é ontem, assim como ontem não significa mais nada.

A possessão das energias negativas às vezes prevalece diante do enfezado garotinho que acha que vai conquistar o mundo quando crescer. E não duvide. Talvez ele consiga mesmo.

O apito me acordou. E a imaginação travou. E o carro foi embora. E o trem passou. E a chuva caiu. E o vento soprou. E o amor desabrochou. E o sol reclamou. E a lua aplaudiu.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Danada esperançosa

Só tenho isso a dizer e a desabafar e a explorar e a expressar e a mostrar:

"A danada da esperança me invadiu, bateu o pé e proclamou: não saio daqui tão cedo".

Então tá. Eu que não vou reclamar, não é?

A crença em ti é um reflexo da segurança que tem em viver e encarar de frente [redundância redundante] tudo o que, por desventura, aparecer em seu caminho.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Caraminholas

Passamos pela vida sem sequer desconfiar sobre o que realmente viemos fazer aqui. A existência é realmente o mais importante? É tão difícil descobrir porque tudo é como é, que simplesmente não buscamos mais respostas. Apenas perguntamos timidamente porque o sol é quente e a chuva molha. Mas não perguntamos para ter respostas, porque temos aquilo que chamamos de fé. E quando a gente decide acreditar para valer em algo, aí pode esquecer para valer também. Se alguém se pergunta o que é a vida, você acha que um outro alguém a leva a sério? Isso é apenas para os loucos, os únicos que ainda não perderam a esperança de encontrar o seu caminho, não importando se ele é certo ou errado, apenas o caminho. Por que nos preocupamos tanto com miudezas do dia a dia tão aturdido de emoções e ações? Talvez porque somos seres humanos. Esta raça indecifrável e irracional que somos. Balela dizer que somos mais racionais do que emocionais. Esta é a maior mentira que já ouvi em toda a minha vida. Você não concorda? Para mim é sempre o coração que manda mais. E não entorte esta cara aí não seu durão, que eu te conheço muito bem. Você também é humano! Ou não? Ou você é apenas uma máscara sobreposta por carnes e ossos vis? Ah, a vilania um dia acaba. A raça humana também? Também. Ela nunca foi eterna. Ela nunca foi para sempre. Ela nunca foi, na verdade. E depois ainda inventam esta tal história de 2012, de que a raça humana se regenerará. Ha-ha. Se isso fosse acontecer, já teria acontencido há muito tempo. O tempo não importa. O que importa é a vida. Seja em qual forma for. A vida sempre é a essência da montanha-russa que move este mundão aqui. Outros mundões virão. Quando? Não sei. Mas virão. E virão intensa e desabaladamente. Espere. Ou melhor, espere vivendo.

domingo, 19 de abril de 2009

Bote reparo

Arroubos. Gestos. Expressões.

Gente.

Jardim São Francisco.

Excrementos.

Botar reparo. Fazia uns dias que tentava lembrar desta expressão. Taí.

Lembrei.

Ele era bem apessoado. Bonito, para ser mais claro.

Ou estava muito carente?

A solidão é tão minha que ninguém se atreve roubá-la de mim.

O que será que tem naquela janela daquele apartamento onde tem aquele varal de histórias penduradas?

Aponte para o céu e acredite como aquela senhora loucamente feliz e despreocupada acreditou. Ela se entregou. Quero me entregar como ela quando eu amadurecer. Dance mais, dance.

O tema da partida tem tanto a cara daquele irlandês. Muito! Demais! Exageradamente demais.

sábado, 18 de abril de 2009

A banguela

Amor. Desamor. A morte. Amorando. Memorando. Amora.
Clamor. Cavernoso. Cabide. Caçamba. Cata-vento.
Sonho. Só. Soma. Sonharia. Solicitude. Sergipe.

A banguela representa que você cresceu, ô minha pequena menina. A banguela é a chave da vida. A banguela é o símbolo maior da busca contínua por transformação, por melhora. A banguela se transfigura, desaparece, mas não morre. A banguela não morre na memória. A banguela está registrada em muitas fotos, mesmo que as fotos não se revelem assim de cara. A banguela é o passo necessário diante do infinito.

Já ouviu falar de Santa Maria da Bicicleta? Pois eu já. Uma expressão que só poderia sair da cabeça de uma mãe que eu nem sei de onde saiu de tão perfeita e divina. É uma das perguntas que jamais saberei responder. Eu devo merecer mesmo, viu! Sou merecedor. E pronto.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Deitando a fé

A fé precisa de um descanso quando nós também estamos descansando. Caminhar nem sempre é totalmente necessário. Muitas vezes, a mente caminha por si própria. Não é preciso "parar para pensar". Pensar andando é tão interessante que eu acabo sempre pensando muito. Penso tanto que chego a pensar em nada. Sabe quando você olha para as coisas e não consegue pensar em nada? Mas pensar em nada já é pensar, não? Pensar que não pensa em nada já é um ato de pensar. Ou não? Ou estou com um parafuso a menos? Ou a mais? O julgamento do outro ainda me aflige. Mas vou vivendo mesmo assim. Continuem a julgar. A apontar os dedos contra minha face. Na face que o tempo não vai perdoar. Na face onde carrego os meus anseios e sonhos de além-mar. Mas é preciso se reunir em volta de uma grande mesa, em um dia de grande festa. É preciso e urgente. É preciso se olhar mais, andar pelas ruas e olhar, olhar sempre. Mas não um olhar distraído e apressado. É preciso se deter nas esquinas e olhar para o mundo. Ele pede e implora. As pessoas também. Mesmo na individualidade de cada um [redundância para reforçar], todo o mundo espera mesmo é ser olhado. É ou não é? Não falo dos 15 minutos de fama. Falo de ser olhado com atenção e humanidade. Ser olhado como um igual. Ser olhado com os olhos da alma.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Adotivos

E já dizia Rachel de Queiroz: "E tem os amigos que são os irmãos adotivos, tão amados uns quanto os outros". A idéia é de uma simplicidade tão latente que chega até a incomodar. É claro que eles são irmãos, são da família. Eles são garimpados involuntariamente aqui e ali, para seguir conosco durante toda a vida, na caminhada insaciável de ser feliz. Eles estão ao nosso lado quando deviam estar. Eles, muitas vezes, são mais irmãos do que os próprios irmãos de sangue. Mas escolher um irmão não é melhor? Escolher uma alma para compartilhar sorrisos e lembranças, sem pedir nada nem cobrar presentes, não é realmente genial e transformador? Pegar em sua mão e chamar para lutar não é um gesto de extrema força? Sem temer o horizonte, foram para a cidadezinha encantada e foram felizes ao pôr-do-sol. Ou ao pôr-da-lua, quem sabe. Ser amigo é não se incomodar com os silêncios que, por ventura, são enlaçados pelos sussurros do vento na manhã fria da cidade grande. Fazer e ter amigos é construir uma família ideal, com todos os problemas e obstáculos, é claro, mas uma família que você sabe que estará ali para funcionar como a base para todas as pragas que rogarem contra você. São escudos chamejantes e tão poderosos quanto o pensamento.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Impulsividade

Quando ferve tudo, mando o chefe às favas
Quando não tenho nada, me descubro no meio de tudo
Quando me sinto em mim, me transporto para lá
Quando abro os olhos, os ouvidos se distraem
Quando sinto um frenesi, os sonhos se elevam
Quando passa a raiva, a respiração serena
Quando vejo TV, esqueço da vida
Quando vivo, esqueço de morrer
Quando apareço, me escondo em mim mesmo
Quando te quero, te quero por inteiro
Quando me entrego, me perco deliciosamente
Quando almejo, fico impregnado de comichões
Quando vejo um velinho ou velhinha, penso no futuro
Quando eles se arrastam, tremem ou não lembram, eu penso
Quando eu penso que logo serei eu [será?], penso ainda mais
Quando pensar demais fica cansativo
Eu durmo.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Comédia dramática

Você não ama o que não conhece.

Até aí, totalmente óbvio, certo?

Quanto de mim já foi descoberto? Se eu não posso responder, não é você quem vai poder, não é? Ai que enrolação de vida!

Só sei que tem cor de canela. Sabe como é cor de canela? Achei tão linda esta definição. Cor de canela. Qual é a sua cor? E a resposta é: cor de canela. Ou canela de cor?

Essa cidade é tão gélida, distante e monocromática! Sobretudo nos dias nublados e chuvosos. Olhe pela janela e confira você mesmo. Não dá para ver nem sentir a energia que normalmente emana dos corpos em circulação. Depois ainda dizem que São Paulo não pára. Blá-blá-blá.

Me afogo em meus prantos e renasço a partir do indizível indivisível das minhas vãs e necessárias palavras. Ao vento. Ao sopro do vento inflamável.

domingo, 12 de abril de 2009

E o boi renasceu...

Festa popular. Criativa. Muitas cores suingadas. Muito brilho impronunciável. Ao som dos tambores e cantos da terra distante, o boi entrou na roda e fez a festa das centenas de pessoas presentes. Fez a festa ficar na memória de todos que estavam ali. Fez a festa ser valorizada em mais uma etapa da proteção de uma cultura que nunca morre. Mesmo que ela não esteja mais em seu berço, ela se reinventa a partir dela própria e de seus guardiões. Recomendável ao extremo da enésima potência. Vá dar corda à sua emoção!

E, para você, o que é ser brasileiro?

Pense e me diga. Ou não diga. Mas pense...

Ser brasileiro é sentir, como um tapa na cara, a racionalização da esperança que está intrincada em nós desde o nascimento e que nos acompanha em cada passo mal dado ou mal planejado durante a vida.

sábado, 11 de abril de 2009

Elucubrações

A danada da palavra saltou lá do fundo do meu vocabulário e não pude mais controlá-la. Simplesmente tomou impulso e pulou do penhasco para a vida e para o mundo.

Para o mundo, que nunca se cansa de ser possuído por nós e nos possuir, concomitantemente [nossa, que palavra estranha!]. Você já possuiu o mundo? Já se sentiu pertencer a ele? E a si mesmo? A loucura diária transtorna as inquietações flamejantes aqui dentro de mim. A angústia é a base da minha sensibilidade. Eu a idolatro. Eu a venero. Eu a amo. E estou descobrindo e me inventando a cada dia. Será que ainda vou fazer isso quando estiver velhinho?

Falando nisso, outro dia estava caminhando e ouvi o seguinte diálogo:

- Saiu para dar uma caminhada? - disse um velhinho de um lado da rua.
- Sim. Estou andando um pouco, não muito, só um pouco - respondeu o outro do lado oposto da calçada.
- Ah sim. - completou o outro.

Imediatamente um sorriso brotou do meu rosto ao perceber como os pequenos e singelos diálogos podem ser tão enriquecedores. Você não acha? É, você aí que está com esta expressão de incredulidade em relação à vida!

Que tal caminhar um pouco? Não muito, só um pouco?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Imaginação vermelha

"Borboletinha, tá na cozinha/Fazendo chocolate/Para a madrinha/Poti Poti/Perna de pau/Olho de vidro/E nariz de pica-pau pau pau". A criança cantava e encantava, com sua coleguinha ao lado, enquanto atravessavam a ponte da linha do trem. Me lembrou tantas coisas, sobretudo a alegria de ser e estar criança.

O pequeno garoto, filho de um amigo, começou a me chutar sorrateiramente e alegremente assim que me viu. Mas era só uma brincadeirinha, de animação por me encontrar. Dizem que levo jeito para a coisa. Não sei. Ou melhor, sei. Acho que sim.

Quero, para sempre e para agora, uma imaginação tão vermelha quanto a vivacidade de uma criança em plena expansão de seus poderes e de suas forças inigualáveis. Uma imaginação vermelha.

domingo, 5 de abril de 2009

Flocos de nuvens

O avião passou e prosseguiu viagem e o pensamento na minha mente navegou ("Que audácia! Alcançar os céus de forma tão íntima e sincera!"). Alcancei e o persegui com meu olhar limitado, até ele se esconder por trás daquela montanha. Daquela montanha naquele lugar montanhoso e íngreme. Põe íngreme nisso. Não desejo que você experimente as subidas daquele vilarejo, que um dia sonhou em ser bucólico.

Sereno e perene como as nuvens que correm a toda velocidade pelos céus azuladamente estáticos, movidas pelos ventos que varrem até os ciscos dos cantinhos mais desencantados. No entanto, os flocos branquinhos não se moviam naquele momento. Cadê o vento? E a saudade? Uma ou outra conseguia significar uma imagem. Mas provavelmente era eu que não estava tão inspirado para imaginar. Será que é por isso que as pessoas assistem a televisão? Pegue um livro. Aquele livro. Não qualquer um. Aquele especificamente. Não outro. Não aquele que está aqui ou acolá. A colar na prova.

Mas as nuvens continuaram lá, significando algo que minha vã imaginação não conseguiu captar. Porém, outras por aí afora conseguiram intimar a sua descabida e incompreendida beleza natural. Quase chorei.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Aquelas que cutucam

O título é obsceno? Talvez. Depende do seu grau de obscenidade. Mas eu falo mesmo é sobre frases que te marcam intensamente na hora que você as ouve ou as leem, ou ainda as imaginam. Veja estas duas que me cutucaram com vara bem curta:

"Cultura é identidade. Mais que isso, é tudo o que o homem imaginou para moldar o mundo, para se acomodar nele e torná-lo digno de si próprio. É isso a cultura: tudo o que o homem inventou para tornar a vida vivível e a morte afrontável". (Aimé Cesaire, poeta martinicano)

"Daqui a mil anos, não haverá homens ou mulheres, só veados. Eu acho legal. Acho que somos heteressexuais por omissão, não por opção. É só uma questão do que é teatral. É uma questão estética, e não tem porra nenhuma a ver com moralidade" (Trainspotting)

Fenomenal.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Seguridade insegura

Estive pensando sobre a intolerância humana. Mas isso é uma coisa que sempre penso, ainda mais quando esta insana intolerância salta tão desabridamente aos olhos, como se fosse uma dama da noite travestida de bondade e desfaçatez. Ha!

Rechaçar é combater até os frutos maléficos dependurados da árvore tão frondosa e bela quanto à nuvem carregada de estridência. Ardência.

Discutir vai além de pontos de vista distintos e contraditórios... Discutir é viver a vida na mais profunda troca de essências.

Frases soltas ao vento são somente frases soltas ao vento, entumescido de sementes despossúidas de razões por todo canto. É a emoção que grita sua verve instingante.

Verve. Instingante. Intrincada.