domingo, 26 de abril de 2009

O inimigo

Certa vez, ouvi uma história sobre o inimigo, que começava assim: "Era uma vez...". Te peguei, não é? É, a brincadeira não foi engraçada, eu sei... Agora sim: ela começava e se encaminhava já para o final, como se tivesse vontade própria. Não vou contar aqui a história toda porque ela é muito longa, mas contarei a essência daquilo tudo que a envolveu. Tudo principiou assim: "Mulher, eu nunca mais volto naquela igreja. Uma palhaçada só, todo mundo sambando... tinha até dança de rua, onde já se viu! Que algazarra doida! Nunca mais volto lá." (depoimento de uma crente descrente da arte e da vida, ela só acredita em Deus e mais nada).

Ao ouvir este depoimento roubado perto da esquina insaciável de sussurros, pensei: talvez por trás desta fala está o que eles chamam de inimigo. O inimigo que os amedontram e os fortalecem. Que os fazem combater o mau e acreditar num ser superior. Naquele instante compreendi tudo, como num lampejo de luz ensandecida: "O inimigo é a desculpa para a existência de Deus".

E comecei a gargalhar.

Pronto. Acabou a história, tão longa quanto a fé neurótica de meio mundo inteiramente paranóico e tristemente fundamentalista.

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