domingo, 31 de agosto de 2008

Família em volta da mesa

Anúncio: reunião em família. Corram porque isto é inédito! Êba, final incrível esperada desregulada alegremente. Abaixo a cabeça e penso que estes momentos poderiam ser mais freqüentes, não fosse a escravização que nos relega o papel de coadjuvantes na vida um do outro. Dorme quando sai. Acorda quando durmo. Espreguiça para só descansar e esperar pelo dia da reunião. Quem ainda não conseguiu fazer isso neste ano, calma, o Natal já está aí. Não se apoquente, é depois de amanhã.

Privilegiando certas coisas e dizendo para tudo o que há de menos sagrado que a beleza está nas coisas que não podemos tocar, quantificar, esquematizar, planejar, levar para onde se pode explodir num canto sujo de graus variados e inflamáveis. Dormi de óculos outro dia. “Você sabia que 6 e meia da manhã vi que você dormia de óculos, você passou a noite inteirinha de óculos!”. Eu pensei que seria melhor assim, pois, assim de novo, eu veria com mais clareza aquilo que se esconde por trás da minha consciência. Sempre tento, mas ainda não deu certo.

Um dia dá. Enquanto isso, espero. Aguardei a campainha tocar, mas não foi o toque que eu previra naquele sonho exaltado que tive na noite passada, quando um homem mascarado e cheio de mistérios batia à minha porta com delicadeza e virilidade ao mesmo tempo, mas quanto mais me aproximava mais ele se distanciava. Um sinal, um indício que percebi no vulto envolto em névoa foi uma mancha de um vermelho intenso que borrava a boca de sua máscara e se estendia até a barra de sua bata. Minha nossa, era um seminarista. Pecador! Infame e endiabrado. Dizem que a escadaria o espera de joelhos, mas eu duvido que isso possa ocorrer. Acho apenas curioso e aguça minha estranha entranha embutida na minha vaidade.

Mas será que existiu mesmo aquela reunião em volta da mesa? Era uma mesa? Havia comida? Ou aflições? Ou uma sopa de olhares? Ou de carinhos? Uma salada de expectativas para a próxima vida ou vinda da iluminação que antes não havia ali? A água foi lançada ao fogo e não conseguiu resistir à potencialidade da força intrínseca às labaredas que subiam até o mais alto dos cumes mutilados nas estrofes das esquerdas maravilhas e arbustos disfarçados de humano.

Um ano se passou e o mês passado ainda vive no imaginário daquelas pessoas que se uniram num único desejo e sentimento: fazer acreditar na pedrinha não-preciosa energética imaculada virgem poderosa Maria. Animando a libido escrachada nas expressões renovadas de monossílabas preenchidas de silêncio. O sal de frutas estava em cima da mesa e não se dissolveu e a reunião desabou como um escorregão na casca da banana. Outra circunstância.

sábado, 30 de agosto de 2008

Viagem ao mundo esquecido

Horas e horas depois o cenário já não é o mesmo: as pessoas mudaram, a paisagem se alterou, eu saí do meu eixo giratório. Tudo impregnou em mim, desde o desconhecido até o declaradamente igual. Emoções vividas e contadas que jamais se apagarão da memória ambulante que sou.

“... pé de cachimbo, cachimbo é de ouro, bate no touro, o touro é valente, bate na gente...”. Me surpreendeu também sua vivacidade e vontade de aprender a ser. Simplicidade e generosidade são palavras-chave que resumem tais atitudes, olhares, sentimentos, benevolências, amor incondicional [por que não?] por aqueles que nunca tinham visto e que se tornaram naqueles momentos únicos e transgressores em companheiros íntimos e amigos sinceros. Obrigado pela cumplicidade...

Queria poder dizer mais, narrar mais, expressar imensamente tudo o que vi e senti, mas ainda estou digerindo tudo. Estou possesso por estes possessos sem nada, mas com uma nobreza esplêndida e, diria, até sobrenatural. Como são belos e como me apaixonaram. Sensibilizaram e aguçaram meus sentidos e percepções e me fizeram crescer, enrubescer cada vez mais minha pele insaciada de boas histórias, de gente, de beleza retratada nos tão pequenos detalhes.

O estilingue, a rede de dormir, o lamaçal das ruas, a ponte onde nem bêbado cai, o fogão à lenha, a receptividade, os canários e pombas, cachorros e gansos. Tudo ainda está comigo, aqui dentro, e carrego para sempre, pois ficarão ininterruptamente nessa erupção de mistérios, dúvidas, ternuras.

Estou possesso, por demais possesso. Pela vida! Outro dia te conto mais. Por enquanto é só e tudo isso. Não se esqueça que a coruja permanece ali, observando e analisando tudo. Elas vigiam. Vigiam, viajam e não se cansam.

Um universo em cada mente

Preciosa, me perguntaste de onde vêm estas minhas inspirações. Resolvi escrever sobre. Ou reescrever, pois este é um tema recorrente. Acredito que seja importante falar sem pestanejar a respeito das PESSOAS, que são obra-prima básica da minha eterna formação, principalmente nas subdivisões das pulsações do meu coração, pois é com ele que penso, me relaciono e ajo.

Um pensamento renitente me aparece mais uma vez, e não será a última: como é possível e indescritível haver um mundo em cada uma daquelas mentes e corpos a vagar por ali? Ah, como penso e repenso nisto. Na verdade, acho que reside aí a origem de todos os meus questionamentos.

Outro dia olhei os passos e formas de caminhar e, para minha surpresa, não encontrei nenhum sequer parecido um com o outro, nem mesmo aqueles passos preparados pelos mesmos pés e pernas. Uma moeda no valor de 1 real caiu no chão. Obrigado! Ela poderia não ter falado, eu poderia não ter notado a queda, aquela relação poderia não ter sido manifestada se a moeda não tivesse despencado. Se. Mas voltando e prosseguindo também.

As pessoas caminham para a finitude de suas indagações e anseios desesperados por calor, por energia solar, por vida delineada sem beiras. Elas correm e me fazem correr atrás para tentar [pobre de mim, que pretensão!] compreendê-las, destrinchar os mundos que as habitam, as corroem e fortalecem interiormente, que as motivam a madrugar todos os dias para o sonho diário da sobrevivência, a ter forças para seguir nadando contra a maré.

E num instante percebi como todos nós, com suas particularidades e mundos distintos, conseguimos formar um mesmo globo, que percorre toda a órbita das terras, mares, desertos, descampados inacabados, gotejados de murmúrios sedentos de amor.

Máquinas de emoções andantes e errantes, que não sabem de onde vieram nem para onde estão indo. É tudo tão incerto que não me atrevo a transpor este limiar. Paro por aqui, para emendar no próximo novelo de lã que encontrar pela frente... Respiro e ainda não me contenho dentro de mim. Ainda é pouco, ainda preciso de mais. Demais.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

As vozes esbravejam, mas ninguém nota

Lustre com luzes apagadas. Ainda era dia. Procura-se uma mão branca com veias saltadas a olhos nus. O trem passou no meio da favela e a pobreza já não o espantava mais. Mas a mim sim! Ainda me arrepia ferozmente. Camisa amassada pelas ruas que não se encontram quase nunca, ou só de vez em quando.

Um outro universo. Eu fui lá hoje. Uma feira de perdições e perdidos, mas que talvez ainda tenham uns restos de esperança [a tão frágil e inegável esperança] de poder reerguer a cabeça, o corpo, a vida. A alma que vive pregada nos alicerces maculados de dores do parto, da infância, da juventude, da velhice. Ó, também para eles deve haver alguma salvação, pois ela espia com arrogância aquelas criaturas subjugadas.

Observam lá de baixo dos bueiros danificados, esquecidos e igualmente cheios de odores que, na maior parte do tempo, ficam relegados à segundíssimo, ultimíssimo plano. Se é que algum plano há nesta confusão anunciada fora do tempo e do relógio cronometrado. Ainda não despertou, não é a hora de levantar, abrir os olhos para uma realidade que bate à porta todos os dias e os esmurra com toda a força de sua desumanidade e incompreensão.

Estes vis sentimentos figuram em livros suntuosos e propagados por esse mundão afora [sem fora nem dentro, muito menos alento], e que espalham e fazem zumbir e sucumbir até as mais tristes existências. Mentes.

Mentes, mentes muito bem.

E aquele vento parecia querer dizer: “Tá vendo? É possível varrer... não para debaixo do tapete, mas varrer os incompreendidos nas fuças daqueles que insistem em não notá-los”. Sim, é preciso, meu caro e inebriante vento. Não só é preciso, mas urgente! Façamos, segure minha mão e caminhemos aferrados no desejo de transformar a rua, o mundo, as pessoas. Portanto, não mintas para si mesmo. Meta o pé por entre as portas da dúvida e creia que a esperança [ah, a esperança de novo] pode ser mais do que um sentimento; ela pode ser também AÇÃO!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Trilha repisada de beleza

Folhas pisadas durante o outono. Já reparou o quanto é excitante ouvir aquele estralo ao pisar em alguma delas, ressequidas pelo sol impiedoso? Treque! É a natureza mais uma vez orquestrando as maravilhas da vida, ao permitir que as folhas despenquem das árvores e sejam música para meus ouvidos. Vai dizer que você nunca se atentou a este fato?

Outro dia aconteceu um incidente engraçado, mesmo que não tenha sido exterior a mim. Mas isso não é importante. Os devaneios por acaso são físicos? Havia uma trilha feita inteirinha dessas folhas que caem com maestria e beleza lá do alto, do alto das copas das árvores, e ele vinha, sem parar nem olhar para os lados, fixando aquelas belas folhas amareladas que iam sendo esmagadas ao sabor de pisadas firmes e poderosas.

Engraçado, achei eu, porque era como se tudo tivesse sido arquitetado com muita antecedência para ele. Só ele passaria por aquele caminho, naquele instante, e nada mais seria relevante, porque ele estava na trilha das débeis folhinhas recaídas, como muitos de nós recaem às vezes. Quem passava por ele na direção contrária o achou bobo, um vagabundo sem nada a fazer. Mas eu não, como não...

Percebi o fascínio que aquilo tudo exercia nele, e também em mim, de forma que ele prosseguia na caminhada lenta e descuidada, enquanto eu o via como se fosse eu próprio, surpreso de poder presenciar tal acontecimento. Como se fosse o meu retrato refletido no espelho das inconseqüências que só pessoas de espírito jovem entendem.

Até então não havia notado a semelhança dele com as folhas ao chão, este sim, feio e cheio de buracos, o que representava mais um obstáculo para aquela façanha empreendida. Um lampejo no céu clareou tudo ao redor daquele ser devaneador, impondo novos passos àquele que seguia divagando por entre novas folhas que continuavam a cair. A tempestade se anunciava ao longe...

Talvez fosse eu. Que saudade daquele outono...

Aparição do zé-alguém

Eu vou aparecer. Aqueles que destemidamente diziam o contrário, vão assistir à apoteose da minha aparição. Vai ser fenomenal. Mas em qualquer outro dia desses vai perceber que já apareceu e já se foi esconder novamente, com medo de voltar aos holofotes, que insistem a ofuscar sua falta de vontade de se mover do mesmo lugar onde está invariavelmente consumida há anos. Consome-se e consome-se, sem perceber que não faz absolutamente nada para se libertar, apenas se satisfaz com discursos programados em falas vazias.

Como surgem as ingenuidades, o ato de auto-sonhar? Não sei, não pergunte a mim. Não sou mais eu quem escreve, não, não. Não se confunda, por favor. Saiba separar as coisas, aquela velha e carcomida história do joio do trigo. Palavras e alegorias que nunca fizeram muito sentido para mim. Mas joio é bonito, é fascinante, é tentador. Prefiro o joio, e você? Ha-ha. Quando ele se depara com coisas insistentemente inovadoras, se assusta e não aceita mais o indizível, apenas aquilo que pode se definir, nomear, significar.

Uma alusão foi feita sobre sua forma de andar, mas ela não se importou e continuou a caminhar da maneira mais desabrida possível. Que desfaçatez, diziam uns. Que pouca vergonha, condenavam outros. Mas o quanto é deliciosa, enchiam a boca para falar outros um tanto libidinosos, libertinos e também hipocondríacos. Porém, ela continuava a andar e desandar com suas ancas para lá e para lá, vivenciando aquilo que era uma experiência única e transformadora para ela. Também para eles. Pobres alienados e presos à estupidez, num grau que só os humanos conseguem alcançar. E isso nem é tão difícil viu? ‘Vigie, pois Deus está para descer dos céus’, diria aquela mocinha tão jovem ali com aquele livro empunhado como se fosse uma arma voltada para os penosos pecadores. Ó, pobre de nós.

O sorriso disfarçado de inteligência ainda não assumiu a postura que se esperava dele, que estava no roteiro do livro da vida. Mas que roteiro padrão! Não quero, rasgo metade do seu script e junto uma parte com uma das minhas, e dessa forma crio e acrescento emoções num caldeirão fervente de digitais delineadas nas linhas por onde passamos. Salve a linha não-contínua e tortuosa! Eu a quero toda pra mim, só neste momento. Agora.

Mas você pode perguntar àquela pessoa ali do outro lado do riacho: mas que diabos fazes aí que não a compreendo muito bem, não consigo juntar os pensamentos numa só idéia, num mesmo entendimento, numa espécie de linearidade; não entendo. Chega! Mas e daí que não entende, para quê entender? Quem foi que disse que você foi feito para entender alguma coisa? Este é apenas um mundo virtual, de magníficas realidades entrecortadas nos fios e teias misteriosamente descompassados.

Incessante e sem muros que detenham o processo de ebulição interior. Amanhã eu vou entregar e aparecer. Aguarde notícias.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Encaçapando a euforia!

Lá. Cá. Aqui. Acolá. Isto é que é maravilhar-se. Daquilo que nunca se imaginou ser possível. Como segurar e se apoiar no teto? Minha nossa, mas será isto obra humana? Ou é uma força que não se distingue muito bem, apenas uma sombra mal destacada no meio da multidão? De pessoas, claro. Mas o que me deixa boquiaberto é o balanço, freqüente e ininterrupto. Claro, só pára por alguns momentos, para recomeçar em seguida, ainda mais agressivo e antropofágico.

Não se encha de pressa, meu rei. Para quê correr, se a velocidade não atinge a tão desejada força motora que move os sonhos num mundaréu de meus pés pregados no chão de terra da palhoça que avistei ao longe? Oxente, pelo menos aprenda a encaçapar as bolas moço! Se você mirar para lá é óbvio que haverá uma pequena mãozinha empurrando-as para aquele outro patamar daqui, sem pestanejar, sem voltar atrás. Inabalável.

Tudo que foi revisto já estava visando algo, não acha? Antes mesmo de reverenciar o padre diante daquele pórtico esplendoroso da catedral incandescente, ele se virou para o lado e percebeu que todos riam às gargalhadas, sem conter a euforia que emanava dos corpos demasiadamente rechaçados de suas vontades, de suas liberdades peregrinas que acabam por se desencontrar sempre que teimam em se encarar. De frente, claro.

Treme tudo por lá, além daquelas montanhas observadas para além daquelas serras logo ali. Dessa forma é difícil imaginar até como o homem chegou à Lua. Ah, a Lua. Aluar. Mas deixe esse assunto para outros quinhentos, não se apresse, já lhe disse. Não quero repreendê-lo de novo. Não me obrigue, viu? Dizem que para o além só se vai aquilo que esteve durante muito tempo preso a si mesmo. À arvore perto de casa, disse que poderia ir também, mas não conseguia se mover. Que tristeza. Ou alegria! Alegre-se mulher, mexa-se e olhe o êxtase enfurecido ao seu redor, as pragas não podem detê-la. Apenas, e sem questionar, tê-la! Na verdade, nunca puderam. Aquilo que ocorreu foi apenas efeito do tempo, das chamas.

É, me convenço cada vez mais de que o fruto da loucura sou eu por inteiro. Ou melhor, sou a árvore da loucura. Mas que blasfêmia! Se você fosse mesmo, não se daria conta, nem de si nem dos outros. Não mesmo. A sorrateira insanidade não o deixaria perceber que só se vive para enlouquecer os mais ledos enganos.

A conversa e a coisa

Dois amigos que não se viam há muito tempo se encontraram numa das esquinas daquela movimentada cidadezinha. Apaga! Parece início de algum e-mail-corrente com mais uma piadinha sem graça. Mas o fato é que se encontraram. E pasmem, eles não tinham sexo. Pelo menos não contarei a você. ‘Que atrevimento’, você aí do outro lado pode pensar. No entanto, declaro: ‘Muitas coisas não precisam ser ditas’. Reitero com displicência: se encontraram, um ao outro. Uma à outra.

A vida nos leva para tortuosidades e até monstruosidades! – exclamou um deles ou delas.

– Deixe de sensualidades, quem te leva é você próprio. Não coloque a culpa na vida – respondeu o outro.

– Ora, mas se é em torno da vida que tudo gira e revira? Você, como eu e todo o resto dos pobres mortais respiram o ar malévolo que paira sobre nossas vidas.

– Porém se engana ao afirmar tão categoricamente idéias tão absurdas do ponto de vista pragmático, filosófico, cultural, sociopolítico e da globalização...

– Pare! Mas para quê usar termos pedantes para coisas tão simples e desconjuntadas, por isso mesmo? As idéias são minhas e o absurdo é nosso.

– Oh, mas caro [ou cara], e a vergonha estampada nos rostos que passam diariamente por esquinas congestionadas de aflições como esta aqui?

– Olha só, mas o que o tempo fez com você? A felicidade é um conceito inventado, não-vergonhoso e procurado sem rédeas ou cabrestos.

– Mas e a vida que você disse que gira e gira? É a vida, que você insiste em culpá-la. Pobrezinha!

– É verdade, pobrezinhas pombinhas pesadas de câncer desanuviadas de seus céus!

– Não, as aves são sorrateiras e belas e confusas ao mesmo tempo. Sabe que vi outro dia uma pomba cagar na cabeça de uma mulher, numa praça não tão distante daqui, onde o coreto está infestado de pulgas, carrapatos, aranhas, morcegos, baratas infames, até cobra. Ah, e dizem que tem gente também. Mas é uma balbúrdia tão grande, que nem consigo mais distinguir quem é quem por lá.

– E a moça se juntou a eles?

– Que moça?

– A moça da cabeça imunda. Quer dizer, suja do cocô da pomba.

– Ah, a moça. Não era tão moça não. Depois de esbravejar aos quatro ventos, deu meia volta e foi em busca da felicidade, achando que na próxima esquina a encontraria, mesmo com a cabeça empesteada. Que solidão.

– Solicitude de quem observa atentamente as armadilhas nauseabundas...

– Bundas... perdão – disse o outro como se acordasse de um sonho – Não baixemos o nível!

De repente acordam e percebem que aquilo não era real. Não havia pombas cagando em ninguém, nem praça, nem coreto, nem esquinas, nem nada. Era tudo ermo e silencioso. Uma lua brilhava intensamente nos céus de um tempo que se perdeu nos obstáculos que não foram transpostos, traduzidos em solução. Neste momento, até a pomba pôde exclamar...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Um rosto em forma de inspiração

Pedaços da vida que eu tinha, da vida que eu era, sem saudosismos. Apenas lembranças para sempre fincadas em minhas entranhas. Jamais se foi. E daqui para frente [ou para trás] tudo vai se sobrepondo, formando camadas de insaciáveis vontades e anseios. Anseios. Por quê gosto tanto de usar esta palavra? Falta de criatividade ou só retomada de único e indescritível desejo que aflora em cada pensamento e atitude? O desejo de ansiar cada vez mais desesperada e desabaladamente pelas esquinas das novidades repisadas e revestidas de nova roupagem. Muitas vezes equivocada ou levemente desnorteada. Minhas palavras são de um louco ou sou um insano de muitas palavras, infinitas até o talo da minha surpreendente forma de estar neste mundo? A qual espaço pertenço?

Ah, mas chega de perguntas! Pelo menos por hora. Este foi apenas um preâmbulo e rápida enrolação do que eu realmente planejava falar quando comecei a escrever.

É o seguinte: a inspiração vem do que eu vejo, ou do que eu seleciono para ver. Sim, porque por mais que nos reviremos de lá e de cá procurando sempre inconscientemente, o que veremos é aquilo que nossos olhos recortam para ser visto. Óbvio? Talvez. Talvezes. Mas voltando...

As pessoas são minha única e irreparável inspiração. Todas elas, sem exceção, com seus rostos [ou como diria os mais desavisados, suas caras coradas ou sem cor], expressões, gestos, bocejos, piscadelas, contrações, dores da alma. Fico por aqui [ou por aí!], e continuo outro dia. Só queria lembrar mais vezes dos meus sonhos. Talvez hoje.

"É 10 docinhos de banana por 1 real. Quem já comprou, já conhece e reconhece: é uma delícia!"

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Um olhar

E que olhar!
Minha mãezinha lua, o que foi aquilo? Penetrou de tal forma que até agora está em mim. O olhar. Um rosto iluminado pelo frescor da juventude e pela sinceridade provocativa e singela. Um olhar terno, delicado, carinhoso. Pronto! Foi o ponto de partida, mais um em tantos recomeços na vida, para que me inspirasse e viesse até aqui e compartilhasse uma sensação gostosa e intensa que percorre todo o meu corpo só de lembrar daquele olhar. Nunca pensei que pudesse ser surpreendido assim, tão desarmado e tão tímido, tão sozinho. Mas naquele momento, apenas nossos olhares existiam e todo o resto era pó. Pó e nada mais, pois éramos a matéria chamada amor, dos pés à cabeça. Sei que você já entendeu ou pelo menos chegou perto da compreensão do que foi aquela troca de olhares, mas eu insisto: foi [e é] um olhar sorridente que impregnou em cada póro da minha existência passageira e alucinante. Você sabe rir com os olhos? Naquele dia, ele me ensinou que é possível e o quanto vale a pena aprender a sorrir de todas as formas possíveis. Não sei o que faz, onde mora, quem é. Mas só sei que está comigo desde aquele encontro fatidicamente enternecedor. Ah, o olhar. Comova-me até o último suspiro, porque quando eu quero é meu, e quando me possui surge o desejo de ser meu para sempre, ou pelo menos para hoje. Amanhã também é, para sempre. Não se esquivar de olhar, foi o que conseguiu transmitir naqueles instantes fugazes. Cada vez que fecho meus olhos acordo para o encantamento daqueles que grudaram em mim sem igual. Bem vindo seja ao meu OLHAR!