Folhas pisadas durante o outono. Já reparou o quanto é excitante ouvir aquele estralo ao pisar em alguma delas, ressequidas pelo sol impiedoso? Treque! É a natureza mais uma vez orquestrando as maravilhas da vida, ao permitir que as folhas despenquem das árvores e sejam música para meus ouvidos. Vai dizer que você nunca se atentou a este fato?
Outro dia aconteceu um incidente engraçado, mesmo que não tenha sido exterior a mim. Mas isso não é importante. Os devaneios por acaso são físicos? Havia uma trilha feita inteirinha dessas folhas que caem com maestria e beleza lá do alto, do alto das copas das árvores, e ele vinha, sem parar nem olhar para os lados, fixando aquelas belas folhas amareladas que iam sendo esmagadas ao sabor de pisadas firmes e poderosas.
Engraçado, achei eu, porque era como se tudo tivesse sido arquitetado com muita antecedência para ele. Só ele passaria por aquele caminho, naquele instante, e nada mais seria relevante, porque ele estava na trilha das débeis folhinhas recaídas, como muitos de nós recaem às vezes. Quem passava por ele na direção contrária o achou bobo, um vagabundo sem nada a fazer. Mas eu não, como não...
Percebi o fascínio que aquilo tudo exercia nele, e também em mim, de forma que ele prosseguia na caminhada lenta e descuidada, enquanto eu o via como se fosse eu próprio, surpreso de poder presenciar tal acontecimento. Como se fosse o meu retrato refletido no espelho das inconseqüências que só pessoas de espírito jovem entendem.
Até então não havia notado a semelhança dele com as folhas ao chão, este sim, feio e cheio de buracos, o que representava mais um obstáculo para aquela façanha empreendida. Um lampejo no céu clareou tudo ao redor daquele ser devaneador, impondo novos passos àquele que seguia divagando por entre novas folhas que continuavam a cair. A tempestade se anunciava ao longe...
Talvez fosse eu. Que saudade daquele outono...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário