segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Guarda-chuva

Por que quando a idade vai chegando, as pessoas saem de casa com o guarda-chuva na bolsa, mesmo com um sol de rachar a cuca? Faz tempo. Não sei mais quem sou. Não sei mais que faço. Eu sei, sim! Dormir. Escrever. Ouvir. Pensar. Estratégia. Não quero parar de sonhar esse sonho bom, no quilombo urbano. Jamais. Nunca. Jamais. Família unida com o ideal de transcender a própria existência. Minha grande crise era a ideia de passar por aqui sem ter feito algo realmente relevante. Agora, essa dúvida passa longe dos pensamentos. Aquele senhor me disse uma vez que eu seria o homem mais feliz do mundo. E não é que ele acertou? Só por hoje, só agora, só no momento presente. Só as relações sedimentadas no amor fraterno é que me interessam. Como diz o grande poeta Lenine: "Quando eu olhar pro lado, eu quero estar cercado só de quem me interessa". A tempestade cai lá fora, e a minha mente se traveste de cada gota e pedra de granizo que perfura as cabeças andantes e atingem, como se fosse um torpedo, as ideias de progresso. Nenhum dia é igual ao outro. E era isso que buscava. Sensação de deja vu. Será que já vivi isso quando era outra pessoa em outra era? O bigodinho provocante chamou a atenção, mas a boca escancarada e a timidez de não saber onde pôr as mãos levou tudo por água abaixo. O que eu esperava? Senti como se as cataratas do Iguaçu desabassem como pesadas correntes em meu corpo. Mas não recuso a experiência. Nunca. Jamais. O olhar - novamente e somente ele! - ficou gravado e foi tema do primeiro pensamento do dia. Às vezes dá vontade de ser um pouco menos coração. Mas se fosse assim não seria eu, não estaria aqui. Não seria essência, não teria cheiro. Não teria razão. A lógica se desconcertaria e eu não habitaria mais em mim mesmo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sinfonias do Reino Unido

Uma conspiração. Um valor jogado no lixo. O mundo abre os olhos e esquece de descansá-los. Mal olha para a lua. Para os pés de galinha que surgem na face atrevida de quem sempre sonhou com novas janelas, resplandecentes e carregadas de futuro. É tão surreal viver. Você nunca vai saber se aqui é realmente tudo isso que pensa que é, que faz você diferente. O piano e suas teclas intercaladas promovem e movem uma tempestade de lacunas, dúvidas e desejos. Elas também fazem respirar aquele distúrbio vivido em anos passados. Evolução desde o óvulo. Quando comecei a escolher, não sei. Também não faço ideia de como seria o seio da família sem os atrevimentos e utopias justificáveis aqui em mim. Queria apenas uma orquestra para me fazer um concerto. Um dia. Com todos os tons. As lágrimas. Os sorrisos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Poemas soltos

O batuque ferve o desejo
Insaciável quando questionado
Com o dedo em riste cheio de malandragem
Aquela mesma que aprendi desde sempre
Desde que me conheço por um humano
Habitável e incompleto. Agora.
Diante da ladeira, capenga, íngreme
Como o meu coração quando é cutucado
Com vara curta. O sabor da música
Veloz, correndo por entre as veias
Solícitas, cardíacas, cheias de desfaçatez.
E sua tez? De que cor é?
Só consigo sentir a pele incandescente
Que queima junto a minha e se confunde
E nos confunde. E nos norteia.
E nos deixa bobos, como se um abacaxi
Estivesse pendurado. Na cabeça.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Lar para uma criança

Um turbilhão de pássaros com asas frenéticas invade o imaginário destas mãos sôfregas e sedentas por escritos e mais escritos. A movimentação costeira, com suas ondas gigantes, me leva para o universo onde sempre pretendi estar. Sentir o cheiro da relva molhada. Viver as aventuras daqueles livros que lia quando ainda estava na escola. Tudo isso me toma de assalto, mostrando que hoje é o dia para olhar para dentro do eu desconjuntado e regenerado a cada piscar de um ou outro par de olhos esbugalhados diante do mistério do nascer do dia e do clarear da lua. Um novo lar foi dado àquela criança. Será que ela vai se adaptar? Quanto tempo ficará por ali? Os pais - se realmente a amam - vão continuar a visitá-la? Ou vão esquecê-la à sua própria sorte? Será que eles não entendem que talvez ela precisasse só de uma dose maior de amor? Que talvez ela precisasse de um tratamento intensivo de carinho e cuidado? Ela também já tem suas responsabilidades, mas ainda é uma criança que está se tornando uma mocinha. Que está se dando conta, aos poucos, que a infância está ficando para trás e que nunca mais retornará. Será que não conseguem entender? É tão claro como a água do rio em dia de chuva fininha. Torço para que ela fique bem. Para que ela consiga encontrar um aconchego melhor do que tinha, mesmo com todas as regras e obstáculos que terá de enfrentar. Torço também para que seja um aprendizado mútuo e que o sofrimento se amenize no coração daquela mulher que um dia sonhou construir uma família feliz para sempre. Enquanto isso, continuo a ouvir os pássaros cantarem lá fora. Hoje eles estão demais! É tão estranho - mas ao mesmo tempo recompensador - ouví-los enquanto o mundo se agita lá fora na correria por mais um pão de cada dia. É tão cruel todo esse esquema. Eu só queria prestar atenção em coisas que ninguém - ou quase ninguém - bota reparo. Eu só queria olhar... e refletir sobre o mundo. Tarefa nem um pouco fácil. Mas quem foi que disse que seria fácil? Eu prefiro os desafios! Cheios de desejos e crenças inalienáveis.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A danada cheia de desfaçatez

Voltei pra casa pensando sobre ela. Foi um lampejo. E ela logo me apareceu em forma de ideia e pensamento. E logo ela se concretizou. Soube que uma amiga de umas primas havia partido dessa pra melhor (pra melhor?). Antes eu tinha pensado: a hora da morte deve ser gostosa e prazerosa, porque não deve ser o fim, deve ser apenas mais uma etapa da vida. Sim, mas é preciso viver para sentir este prazer. Se não aproveitar os momentos sob o sol escaldante ou sob a chuva torrencial, você não saberá nunca como é esta sensação. Eu não sei. Você não sabe. Só o morto sabe. Pois "quem morre é o último a saber". Ou o primeiro? É nessas horas que penso em marionetes. Quem nos controla? Quem decide se é hoje ou amanhã, ou depois? Estou fazendo cada instante valer à pena. O tempo urge e o relógio me apressa em direção às ações que são estritamente necessárias. Para quê? Por quê? São perguntas que devemos responder ao longo da estrada, sem olhar pra trás, sem pestanejar, transformando o medo em força, e a força em transformação. É preciso mudar sempre. Não quero morrer como vim ao mundo. A menos que seja despido pedindo carona para mim mesmo.