sábado, 29 de novembro de 2008

Destino

Uma aranha. Uma pequena aranha que tentava desesperadamente subir pela parede branca. Ela não conseguia de jeito nenhum. Mas tentou por diversas vezes. Fiquei espantado com sua persistência. Será que ela estava com medo de mim? Provavelmente. Mas eu fiquei ali, observando-a. Claro que pensei em matá-la, mas tive pena. Ela também deve ter tido pena de mim, que fiquei ali igual bobo olhando-a.

Mas será que o destino quis que eu a percebesse ali naquele cantinho? Será que o destino é tão poderoso assim? Pra começo de conversa: ele, por acaso, existe? Quem foi que disse? Quem o nomeou? Eu que não. Mas realmente acho curioso certos encontros nessa vida. Falo de alma mesmo, não encontros físicos. É preciso perceber além.

Vamos beber?

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Rosa

Eu me emociono mais sozinho do que coletivamente. Individualista? Não! Apenas me sinto à vontade comigo mesmo para determinadas situações, e ainda assim é bem complicado. Posicionamento. É preciso tomar um lado e não ficar em cima do muro. É preciso buscar sempre, aproveitando tudo da melhor maneira, mesmo que a melhor maneira não seja a desejada e a esperada pelos outros e outros.

Risos e êxtase. Assim foi tudo. Tudo tão maravilhoso. Maravilhado pelas luzes. Elas me atingiram e emocionaram. A multidão também. O sonho realizado. De muitos. O começo e a chave de ouro. O futuro e o agora. A Rainha.

A extinção de mim mesmo só pode provocar um terremoto ou maremoto, ou ainda um grande vendaval. Ou talvez apenas uma neblina que vai cobrindo o pequeno vilarejo distante dos grandes prédios. Os seus moradores nunca viram construções tão grandes. A sua grandiosidade foi direcionada para as emoções do dia-a-dia.

Merecimento. O roubo do merecido suor. A apoteose de mostrar aquilo que se ama, aquilo que transforma e comove até o mais reles mortal anti-social e anti-emocional. Você me acha emocional?

Não. Apenas a sensibilidade que aflora diariamente em mim não pode ser controlada nem reprimida. Ela existe por ela mesma, independente da minha vontade.

Esplendor de viver. Eu quero comprar o algodão doce para adoçar ainda mais o meu dia. Quero um rosa. Ou uma rosa?

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Continuação...

É a continuação. Não da mesma coisa de ontem, dos mesmos sentimentos e emoções. É uma continuação diferente, pois sou totalmente diverso do que fui ontem e, ainda, anteontem. Perder a noção sobre o que sinto é tão bom às vezes. Mas os arrepios que me sobem desesperadamente desde o dedão do pé são históricos, são belos, são extremamente necessários.

A história ou a História? Os dois. Eu faço parte, eu me incluo nela, mesmo com todos os contras e todos os hipócritas. Balanço. Balanceio. Balão. Amanhã é sexta-feira e eu já serei um novo homem.

A oportunidade não é fruto do acaso, de forma alguma. Talento? Também não sei. Eu diria que é fruto da competência, do esforço, do suor. Lições que aprendi desde cedo em casa, e que carrego para aonde quer que eu vá. Há pouco tempo comecei a perceber a importância delas em minha vida, a tradução delas nas minhas ações e nos meus quereres.

O descarado do tempo não passa. Esse enrolão! Ele está adiando o máximo que pode a minha euforia e a redenção de uma noite esplêndida e já inesquecível, mesmo não tendo sido realizada ainda.

Deixa eu ir conter outros espaços. O mundo talvez. Preciso respirar profunda e descontroladamente.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Orelha ardente

Banhado com as próprias lágrimas. E a orelha esquerda arde. E a expectativa aumenta, se a agiganta ainda mais do que minhas vontades incontroláveis. As mãos tremem e não sossegam. O pensamento fica tão inquieto que até se esquece de pensar. Nervosismo. Dor de barriga. Dor da espera.

Aguardando sempre para ser ardente no grau máximo do fogaréu que pestaneja em meus finos dedos potentes e delicados buscando sempre as maravilhas singelas de existir num mundo tão tão.

Escrever me acalma e me transborda, ao mesmo tempo. Às vezes os sentimentos se separam, mas na maior parte do tempo, como agora, eles se engalfinham e lutam para obter a primazia sobre mim. Incontroláveis insanos.

Tudo extravasa por aqui pelo meu corpo. Parece que há um monte de formigas na cadeira. Elas não me deixam tranqüilo. Essas ‘bolidoras’ de almas! É preciso ter alma para percebê-la?

Ah, essas linhas já não me são suficientes, por hoje.

Eu quero cantar e me emocionar.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Impulsivo

O excesso de impulso provoca uma ebulição aqui dentro e eu já quero sair para o mundo, correr para um lugar onde só eu me entendo. Não é possível. Minha vontade era de sair quebrando tudo. Mas peraí? E daí?

E daí? Sai da frente, senão eu quebro mesmo. Brincadeira. Já relaxei.

De qualquer forma as coisas acontecem intensamente e é preciso não perder a oportunidade de continuar viajando no maravilhoso sonho, na carona da calda do cometa. Ou meteorito? Já não lembro mais.

Sério. Levo a vida a sério ou ela é quem me leva? Já não sei se sei e já não estou. De repente, trepo na árvore a abraço freneticamente. Fico ali parado, sentindo a vida brotar dela e de mim. É uma troca. Infinita e profícua.

Respirar fundo. Isto está tão difícil aqui nesses prédios sufocantes. Na minha pequena sala que tolda os meus movimentos também.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um quase-seqüestro

A chuva chovia intensamente. Hoje, não naquele dia. No entanto, o dia naquele dia estava nublado. Pela manhã, a mãe saiu com seus três filhos em direção à escola. Na volta para casa já teria que cuidar de um monte de crianças. Era uma espécie de babá. Era o que fazia para sobreviver nesta grande cidade, depois de migrar de lá dos cafundós da Bahia. Porém, era feliz. Tinha quatro filhos lindos. Um tinha ficado em casa, pois ainda era muito pequeno para freqüentar a escola.

Uma inescrupulosa mulher que saltou de um carro tentou roubar sua felicidade. O garotinho estava bravo por algum motivo com sua querida mãe e apertou o passo para não andar junto dela. A vil mulher que parou o carro e caminhou em direção ao menino tinha um único objetivo: raptá-lo. Mas que maldade! Tamanha imbecilidade não deveria nunca ser perdoada.

Mas ela não contava com o instinto materno, que apitou desesperadamente naquele momento. A mãe, ao observar e prever o rapto de sua alegria, correu o mais depressa que pôde e agarrou sua cria. A infame mulher, que nunca deve ter tido a honra de ser mãe, voltou para o carro e foi embora para sempre. Ou pelo menos até encontrar uma outra oportunidade como essa.

O garotinho ficou como em estado de choque. No momento não entendeu muito bem o que lhe aconteceria. Mas depois a ficha foi caindo levemente e de forma contundente. Ele se arrependeu por seu temperamento forte e perdoou a mãe completamente. As lágrimas rolaram por dentro. A mãe, por sua vez, soltou muitas broncas e apontou o dedo para seu querido filho, enquanto o apertava nos braços, dando graças por ter evitado duramente que a roubassem a sangue frio.

A mamãe e o pequeno filho continuam felizes. Desde aquela época, não houve nenhuma outra tentativa de roubo. É claro que a família já passou por outros perrengues, mas aquela lembrança, como poucas, ficou marcada para sempre na memória desconexa e irregular do pequeno garotinho.

Ele agradece muito também por não ter tido a vida raptada de forma tão insuportável. Só não sabe muito bem a quem agradecer. Talvez a ele próprio, por ter sido abençoado [por alguma força disforme e gigante] e presenteado com uma mulher tão corajosa e ferina: a mãe que estava disposta a dar a vida por sua cria.

domingo, 23 de novembro de 2008

Flashes

Luzes piscando. Muita fumaça e observação. Os corpos se batem, se mexem e não se cansam de balançar ao ritmo da música. Está tudo muito cheio e é possível ver alguns detalhes no meio daquela confusão generalizada. Um rapaz fecha os olhos e em seguida atira para todo lado. Devia ser um caçador. Ou não. Algumas mãos apontam para o alto, para não sei onde. Estalagmites [ou estalactites] pendem do teto. O ser viajante transborda o olhar para todos os lados...

O meu pensar é um ato constante de escrever mesmo sem papel nem um teclado de computador.

sábado, 22 de novembro de 2008

Tem gente

Tem gente que não sabe viver.
Mas não vale a pena dar ibope.
No entanto, tem tanta gente sábia.
Que aprendeu a viver desde o encontro com a luz desse mundo.
Por isso é tão curioso existir.
Tem gente que nem se dá conta disso.
Triste?
Não. É a vida. Nem todos estão abertos ao aprendizado.
Pó. Daqui a pouco todos seremos.
Pra quê esquentar se o aquecimento global já faz isso com maestria?
Pra quê desperdiçar o que é tão raro?
Uma esmeralda. Um diamante. Uma vida.
A negação do tédio.
Há tanto para se fazer...
Onde? Não sei!
Mas é pra lá que eu vou...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A pachorra e o poema

Pachorra. Palavra engraçada não é? Como ela teve a pachorra? Pachorra é tão feminino, com todo o respeito, claro. Se fosse pachorro não teria a menor graça. Sonhos. Eles estão sendo mais exercitados ultimamente durante o sono. Liberdade. Paraíso. Inferno. Redenção. Romaria. Passarela. Lá vou eu de novo com a mania das palavras e o temporal.

Encontro desencontrado
Casamento descaracterizado
Normalidade incomum
Amor incondicional
Peleja eterna e descamada
Quarto do quartel rigidamente bobo
Beleza disfarçada num olhar
Bolas misturadas no ar
Balões de brigadeiros na mesa
Piquenique debaixo da árvore
Cheiro de café da vovó
Pedrinhas no caminho para o rio
Arbustos tão grandes quanto eu
Mãos dadas diante do luar
Lamacenta sensação de estar
De externar e ser
De materializar o que é sonhado
A noite veio alimentar
De forma definitiva e incomparável
As mentes enlaçadas umas nas outras
O amor.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O moço perspicaz

O homem sentou na escada e começou a cortar o cabelo com a gilete mais vagabunda que existe. No meio da cabeça já não havia tanto cabelo. Era o tempo mostrando o seu poder insaciável. Boas condições. Será? E o moço perspicaz? E o pretensioso? Lá vem você com as suas infinitas indagações.

A sanção estava tão sonolenta que esqueceu de se sentar e impor a ordem.

As pessoas são tão normais. Ou não percebem o quanto são comuns. É preciso se diferenciar. Ser único. Mas elas são incentivadas a se juntar, a ser igual, a ser o padrão. Devanear é crime nesse mar de normalidade. Psiquiatra? Sou eu e é você também. É só querer. Basta deixar a brisa levá-lo para longe, onde a criatividade cria asas e penas, e voa para o indiscutível.

Tédio e euforia. Convivem lado a lado. Ora um, ora outro, ora os dois, ora nenhum. E ainda tem mais um monte de sentimentos inomináveis. Por que eles são sempre nomeados? Eu gosto de inventar. Então vou começar a inventar nomes. Sem pedir licença. Não é preciso. Ninguém patenteou ainda.

A cara e a coroa deram as mãos. Ficaram ali sentadas no banco da praça. E o mundo terminou. Poeticamente. Fim.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Dia logo!

- E a velhice?
- O que é que tem?
- Você pensa nisso?
- Mas eu só tenho 20 anos!
- Mas a vida passa muito rápido. Hoje 20, amanhã já passou dos 25...
- Nossa, que pessimismo!
- E a desatenção?
- Eu sou muito desatento. Me distraio facilmente.
- Do que você tem medo?
- De não viver!
- E do que mais?
- De enlouquecer além da conta!
- E existe conta para enlouquecer?
- Não sei, acho que ainda não ultrapassei o limiar da insanidade...
- E você fala sozinho?
- Estou falando de uma coisa mais complexa, que mal consigo explicar para mim mesmo!
- Mas responde! Você fala sozinho?
- Mas é claro! Quem não fala sozinho só pode ser muito doido ao contrário, viu!
- É, deve ser mesmo.
- Você é feliz?
- Por quê?
- Porque a felicidade é tão duvidosa, você não acha?
- Eu procuro não achar, para não me perder de tanto achar achar e achar...
- Mas o que é a vida senão uma sucessão de perdas?
- A vida foi feita para não ser explicada. Tolos dos que tentam!
- Então somos todos uns tolos!
- Por quê?
- Porque passamos a vida inteira tentando significar tudo, até aquilo que não faz o menor sentido...
- É.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Bons e boas

Boa surpresa. Bom descanso. Boa sorte. Boa competência. Boas escolhas. Boas oportunidades. Bom sucesso. Boa euforia. Bom estado de espírito. Bom espírito. Bom sorriso. Boa gargalhada. Bom olhar. Bom pensar. Bom carinho. Bom dia. Boa notícia. Boa nova. Bom velho. Bom assobio. Boa história. Bom treinamento. Bom talento. Boa chuva. Bom sono. Boa noite. Bom pôr-do-sol. Boa caminhada. Boa pescaria. Bom feriado. Boa tarde. Boa paquera. Bom tremor. Bom arrepio. Boa piscadela. Bom beijo. Boa boca. Bom abraço. Boa prova. Bom domínio. Boa imperfeição. Bom detalhe. Bom pressentimento. Boa lorota. Bom detectador. Bom espelho. Bom homem. Boa menina. Bom garoto. Boa criança. Bom domador. Boa mãe. Bom filho. Bom jovem. Boa senhora. Boa flor. Bom jardim. Boa varanda. Boa casa de praia. Bom mar. Boa ventura.

Boa serelepisse. Bem supimpa.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O apático

Apatia e olhar para dentro. Hoje é um dia daqueles em que viver dói como uma unha encravada no dedão do pé esquerdo. Sinto tudo tão frágil aqui pelo interior da minha alma. Almejando um novo sol com chuva, fiquei ali parado, a contemplar a maravilha da natureza, a beleza da vida, a latejante forma de estar presente no mundo. Contraditório não? Pois não. É sim. É não. É o distante instante introduzido no amor perdido e calado. É tão bom escrever nesses dias cinzentos e amarelados. Se saco vazio não pára em pé porque as pessoas ainda insistem em acreditar num deus que virá para purificar essa Terra descabida em si mesma? Talvez a revolta seja intrínseca à minha existência frágil. Frágil, porém revoltada. Continua deflagrando sentimentos que vetam soluções anunciadas como presente de grego. Essa ação, de retorno do olhar agudo para dentro de si mesmo, não é para qualquer um. Não, não sou um herói. Apenas um reles e rotativo mortal tentando descobrir a essência da vida. Não quero passar por ela, sem investigá-la a fundo, sem visitar os seus mais recônditos espaços reservados à euforia desabalada de viver. Emoção. Olhos lacrimejantes. A sensibilidade é tão boa, mas ao mesmo tempo é tão pesada. Carrego o seu peso nos meus olhos redondos [sim, achei eles tão belos hoje de manhã], que disfarça a cada momento a rebeldia entranhada na íris castanha. Carrego o silêncio e a dor, duas inquestionáveis bandeiras indistintas da trilha descomposta no parque verdejante e florido na primavera da década atual. O tempo desregrado e intempestuoso me inundou de tal maneira que estou lotado de mim mesmo. Tão cheio que quase não me aguento. Muito complexo?

Já me desdobrei e me transformei em outro.

domingo, 16 de novembro de 2008

João-mole

Não tem a maria-mole? Então, também existe o joão-mole. Nesse caso, sou eu mesmo. Mas de uma força tremenda. É preciso ter coragem para viver.

A corrente que estava no fim daquele grande e cansativo escadão era a síntese da dura caminhada. Dedo-duro. Miolo-mole. Crença-delgada.

Me esquece e deixa eu me reconstruir. Mas... E como faço para me reconstruir? Eu vou e pronto? Eu faço e acabou? Ou melhor: começou. Será que isso nunca vai acabar? Hoje sou um. Amanhã já posso ser dois. Na semana que vem, talvez seja uma imensidão de mim mesmo.

Quanto tempo será preciso? Eu preciso de tempo ou o tempo precisa de mim? As minhas indagações são, às vezes, tão tolas e desnecessárias. Você não acha? Pois é, mas eu digo que são sim. Atenção! Pare e olhe ao redor. Se você não se transformar, o objeto continuará sendo um objeto inacabado e abjeto.

O meio de descobrir o fim é não ter medo de mergulhar de cabeça no inesperado das cores coloridas multicores.

Música. Sensações desconcertantes de almas controversas que se cruzam e se descruzam num gozo infinito que sempre acaba no abismo das escolhas prontas.

Igreja. “Estou tão triste, tão chateada, mas continuo amando as flores”.

sábado, 15 de novembro de 2008

Escritos

O indizível é dito por mim ou por ti?

Você já recebeu um telegrama?

E uma carta? É tão bom!

E o que eu escrevo? Estou totalmente em poder da minha sanidade e reflexões? Ou elas existem por si mesmas? É tão verídico que chego a imaginar que pode ser mentira. Mas é um enxame. Isso, um enxame. Encontrei a palavra certa. Finalmente.

Elas vão sendo traçadas como se tivessem vida própria, como se eu fosse apenas um instrumento, um objeto, um aparelho transmissor. Não, não estou falando de psicografia e coisas do tipo. Não mesmo. Até porque nem acredito nestas coisas. Eu acredito no agora e no presente recebido a cada segundo. De quem? De mim mesmo, oras bolas. Que me permito viver mandando a serenidade às favas.

O mundo é muito conturbado para se viver serenamente. E esta cidade? Há algum recanto de paz e concórdia? Creio que não. Esta cidade que tanto amo e está enraizada em mim desde os seus alicerces até o mais alto de seus edifícios opulentos e famigerados, ao mesmo tempo.

São Paulo e eu. Uma relação tramada para a posteridade dos séculos.

Sossegar. Contradizer. Adormecer. Alucinar.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Cachoeira

Impaciência. Displicência. Desconexão. Paranormalidade. Sublime. Destoar.

Um grande cachorro bonito em cima de seu trono. Parecia um leão. O rei da selva. Eu. Somente só naquela cachoeira. Era só eu e a natureza, e pude sentir de uma vez por todas de onde vem a energia comovente que move montanhas e a insaciável vontade de me entregar ao mundo.

De repente não havia mais repente. Nem rimas. Apenas o silêncio contundente de uma ostra jogada na areia da praia. Estava deserta. Era o início de tudo e o céu estava transparente. Não havia nuvens. Sensacional.

Bobeira. Alucinações pendentes de outras reencarnações. Não sei se acredito. A linha entre acreditar e não acreditar é tão tênue. Frágil como a própria existência.

Fé é quando você passa a acreditar que uma pequena pena pode ser mágica e o mundo pode ser melhor do que ele é.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Leveza

Sem o peso imenso nas costas. Agora só levo a alegria da realização. Para quê o resultado final, depois de um processo tão enriquecedor? A magreza é o resultado. Porém, ela só está presente na carcaça que reveste esse ser.

Saiu correndo com o resto do cachorro-quente nas mãos. Já era tarde. O trem estava prestes a partir. E se ele ficasse ali, daquela forma, partido?

Lembrou de quando os vizinhos dos fundos construíram uma piscina em cima da laje. Para outras pessoas aquilo poderia parecer uma coisa aterradora. Mas para nós era: que maravilha! Tão simples e tão tão. Minhas memórias são.

A meditação nunca foi o meu forte. Pelo menos, não a meditação clássica de ‘parar e pensar’. Mas eu sempre ando pensando, em tudo. Uma coisa vai puxando a outra, numa infinitude de possibilidades de idéias.

O sol brilhante numa tarde depois de um dia chuvoso sempre revigora as energias. Ao menos para aqueles que estão sensíveis às pequenas coisas. Por que querer tudo grande e farto? A gula não é pecado? Que seja, sou guloso sim! De pequenas coisas e momentos.

Enfim. Leveza e senso de humor. É isso aí. Eis aonde estou.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O devaneio e o psicólogo

Meus devaneios servem para quê? Para mim ou para os outros? Desconfio, sem dúvida nenhuma, que seja apenas para mim. Talvez por isso eu queira que esse cantinho aqui seja só meu e de mais ninguém. Mas não posso ser egoísta com minhas próprias palavras. Se elas têm vida própria e saem de mim mesmo contra a minha vontade, quem sou eu para aprisioná-las em um espaço tão pequeno como este? Pequeno e grande, ao mesmo tempo. Grande porque é nele que as palavras são paridas e ganham vida.

Psicólogo. Há um tempo já ando pensando em fazer uma consulta ao psicólogo. Até aí tudo bem. Já pensei em ir numa cartomante ou algo do tipo e até hoje não fui. Ainda irei. Mas fiquei imaginando: “O que eu iria falar para o psicólogo?”. “Oi, eu vim aqui para entender um pouco a minha insanidade”. E a minha loucura logo grita: “Mas para quê quer me entender, se eu sou tão incompreensível quanto a chama do fogo?”. E você acha que eu posso com ela? Mas ainda assim eu gostaria de debater com os meus saudáveis distúrbios, que alimentam diariamente a minha alma incansável e acalentada por amores de todos os tipos.

Rejubilo-me. Que expressão estranha! Não encontrei outra que nomeasse o que senti e sinto. Não gosto muito porque me lembra algo de religioso, coisa velha e passada e repassada. Mas não queria falar sobre isso. São apenas subterfúgios da minha mente melindrosa. Ela está em êxtase e divaga para lá e para cá. Mas é preciso ressaltar: ela está em êxtase puro e natural.

De mãos dadas no caminho da escola. Sim, nós íamos de mãos dadas para a escola. Imagina! O pequeno bairro, para nós, era a cidade grande, era São Paulo, era a cidade das grandes realizações. Morríamos de medo de atravessar a rua sozinhos. Pegar ônibus? Era a coisa mais assustadora do mundo para aquelas duas crianças. Alguns debochavam, pensavam que nós, irmãos, éramos um casal de namoradinhos. Onde já se viu! Por que eu não podia atravessar a rua de mãos dadas com minha querida irmã?

Naquela época eu era apenas e tão somente uma criança. E isso não é pouco hein! Hoje lembro com contentamento daquela época em que tudo era novo. Difícil também. Mas foi um período de descobertas muito valioso. Sem pestanejar, eu digo: "Sou o que foi feito de mim e o que eu permiti, ou não, que fizessem".

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Coceirinha

Quando dá uma coceirinha, você escreve até em pensamentos. Tenta ir guardando tudo. Para não deixar escapar nada, você cria diversas imagens, mas muitas vezes elas se confundem e formam outras tantas imagens. Muitas são desconexas. Outras, tão claras quanto a noite em dia de lua cheia. E outras ainda são tão morosas que parece um filme em câmera lenta. E mudo.

A energia elétrica se mostra tão indispensável que nem imaginamos como seria dormir todas as noites sem a TV ligada. Eu digo que é possível e confesso que experimentei esse estremecimento das bases outro dia desses. É inquietante. A chama da vela samba para lá e para cá e as idéias e emoções parecem seguir o mesmo ritmo, como se todos juntos se dispusessem a dançar a grande valsa da vida, que grita e esperneia por mais, mais e mais luz. A luz própria. Não a falsa.

Por hora não há mais oras e oras, nem pois e pois. Nem poréns. Eu preciso me mexer para minha mente voar?

Hoje meu pequeno grande orgulho completa dezoito aninhos. Ainda é minha criança e será para sempre, mesmo que tenha dez filhos. Parece que foi ontem que ela chorava porque foi obrigada a posar para uma foto com seus cachinhos tão cuidadosamente preparados por sua mãe. Nossa mãe. Nem preciso falar do seu brilho próprio e estonteante não é? Só lamento não ter nem um pouquinho de sua beleza. Pelo menos a externa, pois sei que a alegria de viver é uma coisa que já nasceu com a gente e levamos sempre para todos os cantos.

E, levada e espevitada, viverá tantos outros dezoitos anos, e tão bem quanto estes que já se foram...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A cabeça

O absurdo do absinto não experimentado na noite dançante e contagiante. Havia muita energia.

Saiu correndo. Havia terminado a noite especial. Porém, correu serelepe mesmo assim.

Feliz por ter realizado e posto um filho no mundo.

A minha cabeça é a minha cabeça e não posso fazer nada. Não gosta? Azar.

A decrepitude das coisas serve para deixar explícitas as novidades descabidas.

O sol abafou os murmúrios e torrou as más idéias. Aquelas que são totalmente dispensáveis.

Linha de trem. Calçadas. Escadas. Subidas íngremes. Morros. Vidas.

domingo, 9 de novembro de 2008

O pássaro e o navio

Um pássaro no rosto e uma idéia passeando por todos os escaravelhos e recantos ensimesmados e esnobes. Na estante, restou apenas o que era saudade. Mas do que foi vivido e não esquecido. Intempestivo, não soube apreciar a maravilha de viver apenas uma vez. Para quê mais? É uma oportunidade e nada mais. Que entendiante seria saber que eu teria outra e mais outra chance para refazer as cagadas espalhadas pela estrada tortuosa e inesperada.

O incerto do certo é a lucidez entranhada nos erros necessariamente indispensáveis.

A batina não serviu para transformar seu corpo em nada, apenas em tudo o que havia de mais rejeitado. De repente, nem ele sabia porque a usava.

Porque eu sou a insanidade e o espírito inquieto e peralta que perambula pelo mundo para perder e ganhar faz parte de um jogo intrincado e contente. É o saber da história guiando o leme do navio desgovernado. Esta é nossa vida. A metáfora do inexperiente navegante. Marujo, você nunca saberá o que há depois do horizonte.

Por fim, o final chegou e já não se ouvia mais nada. Muito menos o silêncio.

sábado, 8 de novembro de 2008

Otimismo

O aperto do aspecto espevitado furou o bloqueio bestial que havia sido hasteado no mais alto das injúrias. Mas gargalharei no final, mesmo que ele ainda não tenha chegado.

O triunfo já sou eu, por isso não o persigo. Como iria perseguir a mim mesmo? Não, eu o deixo livre para correr até por lugares lotados de gentes de todos os cantos e partidas. Destinos e chegadas.

A felicidade é tão simples. Como não conseguem perceber, meu caro amigo? Me olhou e não desviou da marcha lenta, porém contínua.

Desce uma caixa de cerveja, garçom!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Imagens

O que faz uma construção de imagens que nunca foram vistas? Por que o diferente causa tanto espanto? Quem foi que determinou o que é diferente ou não? Eu sou diferente por colocar em xeque a hipocrisia da igualdade? Igual a que? Igual a qual imagem? As pessoas se constróem até que ponto? Tem gente que parece ainda não ter aprendido...

A olhar.

A aceitar.

A tolerar.

A abrigar.

A socializar.

A amar.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

éSSes

Serelepe.

Solto.

Sedento.

Subúrbio.

Segregação.

Semântico.

Sisudo.

Senil.

Sesta.

Sintoma.

Selere ao quadrado.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O corpo, a mente, o índio...

O corpo vai, mas a mente fica. Ela perambula e zanza incansavelmente por aí. Falando nela, hoje está cheia de idéias. Disse que está alegre até. Ao ver uma senhora com dificuldades de locomoção, deu um estalo nela [a mente]. E já foi viajar por aí. Ela é tão independente e insaciável às vezes. Foi, mas voltou rapidamente. É brincalhona também. Ou será, que o corpo não agüentou de saudades? Ah, mas isso é muito para minha cabeça.

Eu vi um índio hoje. Ele andava por entre imensos prédios. Mas ele estava no chão. Não parecia perdido não. Pelo contrário: parecia ter finalmente se encontrado. Ou não. Cadê a sua floresta e o seu corpo nu? Quem foi que comeu? Quem foi que usurpou? Quem foi o assassino? Quem foi o maldito ser humano responsável por tamanha calamidade planetária? [Isso tudo é minha mente viajando de novo. Está impossível, viu?!]. Talvez ele pensasse tudo isso também. Talvez minha mente tenha trocado uma idéia com a dele. Vai saber né?

Uma garotinha no alto de seus três anos, no máximo, tagarelava palavras desconexas e complicadas. Pelo menos, eu não entendia. Será que perdi a capacidade de entender o incompreensível e essencialmente profundo? Provavelmente, a linda garotinha cor de jambo quisesse exercitar a fala sem perder mais tempo. Afinal de contas, foram anos inteiros sem conseguir se comunicar. Será que ela será apresentadora de TV? Ou mais uma solitária errante por essas bandas daqui?

O que seria dito hoje ficará, sem muxoxos e reclamações, para amanhã. Ou depois de amanhã. Só a danada da minha mente poderá dizer com toda a certeza. Ela não me confirmou, mas como a conheço, digo: é difícil que ela rumine por muito tempo uma idéia. Ela vomita bastante. Quase ininterruptamente. Coitadas daquelas que não vomitam. Talvez já nasçam congeladas e inertes.

Nem um sim, nem um não. Nem talvez. Muito menos a vez. Apenas a hora é chegada de dizer: ver é mais subjetivo do que sentir, pois uma coisa é anterior à outra. Esta é a ordem desordenada do mundo. E ponto final. Ou talvez reticências...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Vozes

Foi tão curioso. Ontem ouvi diversas vozes que pareciam desconexas. Falavam outras línguas e se misturavam umas nas outras. Fundiam-se e descontrolavam a sonoridade presente no ambiente conturbado e extasiado. Mas depois de botar muito reparo e atenção foi que passei a distinguir uma ou outra fala.

Noite divertida. Nem lembrava qual tinha sido a última...

Não será a última.

domingo, 2 de novembro de 2008

O passado da carta

A carta estava ali guardada e era como se implorasse para ser aberta e lida mais uma vez. Talvez tenha se sentido esquecida ou rejeitada. Relegada à um cantinho do passado onde tudo era novo e mais feliz. Ela também devia estar nostálgica da viagem que fez lá dos confins do Sul até aqui, onde estou. Mas como sou desorientado, nunca sei em que direção vou. Se é norte, sul, leste, oeste ainda é um grande mistério. Só sei que vou.

Portanto fui e peguei. Reli todinha. De cabo a rabo. Com seus pequenos errinhos que logo me saltaram aos olhos, pude relembrar. E foi bom. É ótimo quando o passado não pesa. Quando parece que ele foi realmente vivido. Apesar da boa lembrança, eu ainda estou aqui, sem saber a direção correta. Vou sendo levado apenas pelas brisas da natureza. Sou dela e vou para onde ela quiser.

Estou bem resolvido quanto à minha reconstrução diária. Será? Às vezes me sinto tão múltiplo e disperso, vários eus atuando em tantos sentidos. Estranho.

Acho que tem outro ser dentro de mim.

Sem duplas significações. [Esse eu desavergonhado e insaciável eu identifico e confirmo. Existe.]