segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O apático

Apatia e olhar para dentro. Hoje é um dia daqueles em que viver dói como uma unha encravada no dedão do pé esquerdo. Sinto tudo tão frágil aqui pelo interior da minha alma. Almejando um novo sol com chuva, fiquei ali parado, a contemplar a maravilha da natureza, a beleza da vida, a latejante forma de estar presente no mundo. Contraditório não? Pois não. É sim. É não. É o distante instante introduzido no amor perdido e calado. É tão bom escrever nesses dias cinzentos e amarelados. Se saco vazio não pára em pé porque as pessoas ainda insistem em acreditar num deus que virá para purificar essa Terra descabida em si mesma? Talvez a revolta seja intrínseca à minha existência frágil. Frágil, porém revoltada. Continua deflagrando sentimentos que vetam soluções anunciadas como presente de grego. Essa ação, de retorno do olhar agudo para dentro de si mesmo, não é para qualquer um. Não, não sou um herói. Apenas um reles e rotativo mortal tentando descobrir a essência da vida. Não quero passar por ela, sem investigá-la a fundo, sem visitar os seus mais recônditos espaços reservados à euforia desabalada de viver. Emoção. Olhos lacrimejantes. A sensibilidade é tão boa, mas ao mesmo tempo é tão pesada. Carrego o seu peso nos meus olhos redondos [sim, achei eles tão belos hoje de manhã], que disfarça a cada momento a rebeldia entranhada na íris castanha. Carrego o silêncio e a dor, duas inquestionáveis bandeiras indistintas da trilha descomposta no parque verdejante e florido na primavera da década atual. O tempo desregrado e intempestuoso me inundou de tal maneira que estou lotado de mim mesmo. Tão cheio que quase não me aguento. Muito complexo?

Já me desdobrei e me transformei em outro.

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