A chuva chovia intensamente. Hoje, não naquele dia. No entanto, o dia naquele dia estava nublado. Pela manhã, a mãe saiu com seus três filhos em direção à escola. Na volta para casa já teria que cuidar de um monte de crianças. Era uma espécie de babá. Era o que fazia para sobreviver nesta grande cidade, depois de migrar de lá dos cafundós da Bahia. Porém, era feliz. Tinha quatro filhos lindos. Um tinha ficado em casa, pois ainda era muito pequeno para freqüentar a escola.
Uma inescrupulosa mulher que saltou de um carro tentou roubar sua felicidade. O garotinho estava bravo por algum motivo com sua querida mãe e apertou o passo para não andar junto dela. A vil mulher que parou o carro e caminhou em direção ao menino tinha um único objetivo: raptá-lo. Mas que maldade! Tamanha imbecilidade não deveria nunca ser perdoada.
Mas ela não contava com o instinto materno, que apitou desesperadamente naquele momento. A mãe, ao observar e prever o rapto de sua alegria, correu o mais depressa que pôde e agarrou sua cria. A infame mulher, que nunca deve ter tido a honra de ser mãe, voltou para o carro e foi embora para sempre. Ou pelo menos até encontrar uma outra oportunidade como essa.
O garotinho ficou como em estado de choque. No momento não entendeu muito bem o que lhe aconteceria. Mas depois a ficha foi caindo levemente e de forma contundente. Ele se arrependeu por seu temperamento forte e perdoou a mãe completamente. As lágrimas rolaram por dentro. A mãe, por sua vez, soltou muitas broncas e apontou o dedo para seu querido filho, enquanto o apertava nos braços, dando graças por ter evitado duramente que a roubassem a sangue frio.
A mamãe e o pequeno filho continuam felizes. Desde aquela época, não houve nenhuma outra tentativa de roubo. É claro que a família já passou por outros perrengues, mas aquela lembrança, como poucas, ficou marcada para sempre na memória desconexa e irregular do pequeno garotinho.
Ele agradece muito também por não ter tido a vida raptada de forma tão insuportável. Só não sabe muito bem a quem agradecer. Talvez a ele próprio, por ter sido abençoado [por alguma força disforme e gigante] e presenteado com uma mulher tão corajosa e ferina: a mãe que estava disposta a dar a vida por sua cria.
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