quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Ao vento

A tempestade e os campos verdejantes. Uma construção continuamento conturbada. O pôr-do-sol relanceado de êxtase no horizonte redesenhado por minhas mãos. As reticências nunca completadas e sempre sendentas de mais e mais pontos infindáveis. A velocidade imposta em mim por mim mesmo. A energia que parece nunca se extinguir, nem dar mostras disso.

O toque insano e incessante é menos terror do que amor.

O encontro de almas é vital para continuar persignando-se diante da igreja que já não representa nada além de uma arquitetura bonita e que traz boas lembranças. Sim, boas lembranças. As pessoas começam a chegar e encher o espaço sem necessariamente marcar presença, entende? O som, que eu não gosto, rola sem fazer diferença. Uma boa diferença é aquela respeitada em conjunto, mesmo que ele seja díspare.

Já estou cá comigo, feliz, alegre e serelepe, com pessoas muito queridas e pra sempre amadas e especialmente fundamentais em minha vida. Família escolhida mesmo que tenha o mesmo sangue que corre aqui em minhas veias. Desses só foram... A Amy faz parte da última trilha sonora do ano. Seu vozeirão invade os recantes encharcados de esperança de um ano passado esplêndido e um novo que promete.

Com a certeza de que tudo passa, eu sigo vivendo como se nada pudesse me cutucar como aquela urtiga que pinica e provoca um sensação de dor, mas logo alivia quando me deparo com aquela imensidão de rio, de água doce, que alimenta a minha alma... E as reticências. De novo as retincências...

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Gentes

Estava sentindo falta de ver gente, desfilando para lá e para cá, com seus problemas, sonhos, emoções e esperanças. É tão bom ver as relações, os olhares, as ações, os anseios. Sim, porque tudo isso fica muito perceptível quando se sai às ruas. Naquelas catracas ali passam vários mundos andantes, vários destinos customizados de forma aleatória, mas com um sentido intrínseco a cada estranho que passa pelo caminho.

Esse material mutante e fascinante é o que me faz pensar e interagir com a complexidade da minha existência. A prisão forçada estava me sufocando e me fazendo esquecer de mim mesmo e dos meus iguais. Por isso, fiz a promessa: sair para uma caminhada qualquer pelo menos uma vez por semana, mas nunca apagar a certeza do mundo que me envolve em seus tentáculos desordenados e descaracterizados de prioridades urgentes.

Por fim, a presença sua me move para o imutável dos saberes distinguidos em si mesmo pela pompa sem intenção de parecer rei.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Aquela pela qual eu morreria

Hoje eu estive com ela. Aquela mulher pela qual eu morreria sem pestanejar. Este foi o mesmo dia que consegui quebrar, com meu adorável e querido pai, a unha do meu pé esquerdo. Esquerdo?

O gelo arde em cima neste momento e eu já não consigo pensar de forma cronológica. Tudo é aleatório. Mas permaneço na missão que me prometi há algumas horas atrás: escrever que por ela eu morreria. Morreria sim! Mesmo com todas as unhas quebradas, mesmo com o coração rachado, mesmo que já não houvesse recomposição dos sentimentos amigos, aqui e agora com ela na praça eu me estenderia ao chão e ofereceria a ela a minha alma de bom grado. De bom e belíssimo grado. Pois se sou feliz hoje é porque tive um olhar de compreensão lá naqueles idos dos anos do início do século 20, quando eu pensava não haver felicidade em nenhum canto da face da Terra.

Está dormente agora. Chutei o gelo para longe. Mas sigo no caminho e na minha ilustre determinação de homenageá-la. Você pensa que é balela, não é? Volta a arder. Mas se eu tivesse a oportunidade neste momento, aqui e agora novamente, você ia ver se eu não seria capaz de cumprir o que digo. Não para parecer verdadeiro e fiel às minhas palavras, mas para ser fiel a mim mesmo e também à amizade pela qual sempre esperei e pela qual me sinto digno de ter vindo a esse mundo sem propósito e sem noção.

O sentido de viver é não ter sentido algum. Ponto final. A ferina e singela amiga está permanentemente fincada por aqui...

domingo, 28 de dezembro de 2008

Empanzinando

- Estou me sentindo assim um tanto quanto empanzinada...
- Foi exatamente como eu me senti mulher, quando bebi toda aquela garrafa de vinho ali.
- Você também se sentiu empanzinada?
- Sim... Pensei até que fosse morrer.
- Pare de bobagem, mulher. Até parece que alguém morre por causa de uma garrafa de vinho de nada...
- Ah, morre sim...
- Morre não! Foi só um porre. Sossegue... Mas o próximo só no fim do ano que vem, viu?
- Tá bom, tá bom...
- [pensamento] Essas pessoas que não sabem beber viu... Ai ai.

sábado, 27 de dezembro de 2008

2008 Retrô

A retrospectiva da vida deve ser feita ao longo dela, não em breves momentos. Acho que a memória, mesmo que ela vá rareando ao longo dos anos, é a maior detentora de tudo o que fizemos, de tudo o que fazemos, independente de como buscamos registrar todos os acontecimentos decorridos ao passar os dias, as semanas, os meses e os anos ao lado de pessoas amadas e amigos próximos e essenciais que nos ajudam a viver nesse mundo tão desconjuntado. De certa forma, fazemos um balanço diário de tudo o que vivemos. Por quê isso tem de ser feito em apenas uns dias que finalizam um período de tempo chamado de ano? Não, a nossa existência não é separada tão rigidamente assim. O tempo, como não canso de dizer, é apenas uma das ferramentas criada para nos localizarmos melhor em nossas idéias e realizações. Mas o tempo não-oficial é o que importa. É aquele que não pode ser capturado, nem se submete ao cabresto das indecisões. Ele é eterno, mesmo que não dure para sempre. A idéia de eternidade que temos é baseada, sobretudo, na religião. Então, quando a religião já não desempenha um papel fundamental em sua vida você passa a ser eterno? Talvez... Mas só para deixar um rápido registro: a impressão que tenho é que a cada ano, desses que a gente marca no calendário contando para que tenha muitos feriados durante a semana, sinto que há uma evolução nas conquistas e no crescimento intelecto-pessoal a cada instante, a cada respiração entrecortada e sobressaltada de tempos em tempos com surpresas muito caras a mim, almas amigas que me complementam e me decifram do pé a cabeça, cada uma a seu modo... Retrô finalizada a cada dia vivido. É uma reconstrução contínua que se passa aqui dentro. Até quando não sei.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Empada

Entornado. Empada. Empáfia. Estonteante...

Me lembro daquele olhar. Agora. Mas ele aconteceu antes, bem antes que eu pudesse desarmar as minhas emoções de tudo que pudesse ser repassado e transmitido com o inesperado. Está na memória. Que ele, o olhar, esteja bem, assim como eu.

O eu que resvala em ti e volta para mim com novos olhares e novas expectativas de vida. A surpresa foi que eu já não era o que fui ontem. Personalidade dupla? Bah! Que nada...

A noite encobriu o campo impregnado de ar puro. Você já sentiu? Ou já nasceu nesse emaranhado de prédios sufocantes, porém tão respeitosos? Queria sentir a chuva sobre o meu corpo, os seus pingos fortes e potentes, purgando tudo o que de inútil tenha grudado ao longo desse ano...

A retrospectiva eu deixo para o último suspiro de desafogamento das águas límpidas e distantes de mim... Uma longa estrada pela frente, ladeada por frondosas árvores... Estou nela até quando?

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Nascido

Nascido num tempo errado, numa época distante da correta, da prevista, da esperada. Mas quem esperava? Quem previa? O futuro de agora já não é o mesmo de ontem, nem será o de amanhã. Nessa época é quando sinto de forma mais contundente e dilacerante que eu não devia estar vivendo agora, nesses dias. Mas se eu estou aqui é para viver, não é? Mas isso também não quer dizer que eu tenha que fazer parte de tudo, de todas as festas despidas de qualquer significado profundo para mim...

A minha festa sou eu quem faço, junto daqueles amados por mim. Importantes no meu dia-a-dia, não aqueles outros ali que só levam algum grau de parentesco no sobrenome. Não, sobre mim eu que sei o que vale a pena dar valor. E ponto. Se você não concordar, apenas lamento.

Hou. Hou. Hou... O Natal chegou.

E tomara que vá embora bem rápido. Ufa... terei um ano inteiro pela frente de muito descanso... Ah!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

In ou Out?

Incerto. Intransigente. Impossível. Imposto...

Gosto tanto das palavras. Já te disse isso, não disse? Tenho a leve impressão que já disse sim... Você não se lembra? Eu me lembro vaga e parcialmente...

...Impaciente. Imperado. Inanimado. Insano. Imortal. Id. Ídolo. Ícone. Imagens. Ilógico. Ilha. Ilhado. Ijexá. Iogurte. Imaculado. Iglus. Importante. Ítalo. Irascível. Isonomia. Impostura. Ihaaaa. Insone. Insosso. Ilegal. Igor. Iago. Ipê. Intransigente. Introspectivo. Ira. Irei. Iremos. Iron.

Mas quem disse que o Instrumento não inseriu uma nova perspectiva em sua vida?

Agogôs. Alfaias. Tamborins. Ganzás. Abês. Caixas. Gonguês... O som me levava extraordinariamente para um plano onde era tudo florido, onde o jardim florescia a cada instante. Não adiantava ninguém chegar para cortar as lindas flores e o capim bem cuidado. Havia uma esfera de proteção ali... Você consegue imaginar?

Reflexão... Flexão. Chão.

Chão.

Férias!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Planos inviáveis

A estrela pop brilhou e se apagou e voltou a brilhar de novo. No peito de milhares de pessoas. Mas isso eu deveria presenciar, pois além de tudo era isso que gostaria de presenciar. A paixão estampada no rosto das pessoas. Não importa o motivo da adoração, mas é preciso acreditar, sonhar, transcender o dia-a-dia monótono de nossas vidas. É preciso se levar menos a sério. Por quê? Porque não somos nada, apenas corpos andantes e pensantes no mundo complexado por si próprio, que já não encontra mais soluções viáveis. Mas pra quê a solução? A razão! A balbúrdia é tão mais interessante. Ha-ha.

Notícias expostas de uma vida sem brilho, mas com muita aparência construída em cima de falsidades ideológicas, personagens levados tão a sério que chegam a confundir até aos mais espertos. Nem os sábios distinguiram o que vinha lá ao longe. Eles não previram o futuro. Ainda não tinham apreendido e aprendido a arte da vida desregulada.

As luzes ofuscam a beleza comum e necessária à humanidade... Mas quem liga para a humanidade? Tudo é nada, e o pó se sobressai aos grandes sucessos e pensamentos positivos. Salve os escravos atuais de nosso mundo justamente injusto!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Imagine

Com seu violino a tira colo, ele ficou embasbacado com aquele som que pulsava do instrumento para as suas veias, e delas para o instrumento. Era algo mágico, perceptível. Em alguns momentos velozes era possível até enxergar o que o olho comum não consegue absorver. Não estou falando das notas musicais como a gente vê nos desenhos animados. Falo de uma coisa mais subjetiva. Consegue imaginar, não consegue?

A concentração desconcertou o espetáculo da vida que habitava debaixo da árvore sem folhas e sem frutos e sem vírgulas e sem pontos e sem conectivos e muito menos sem regras que não eram impostas de jeito nenhum pois o atrevimento não chegava a tanto no entanto e no portanto também os poréns apareceram e disseram que queriam saber o que ocorria por ali com todos os quês que eles tinham direito de assumir o risco de viver livremente sem rabos na língua e sem papas no preso.

Ou seria papas na língua e rabo preso? Ha-ha. Ainda bem que já está acabado.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Tempeando

O tempo nunca foi nem nunca será o senhor dos meus dias. Ele tenta, mas eu destruo todos aqueles ponteirinhos ali, tá vendo? Não deixo de jeito nenhum ele se achegar pra perto de mim como se não quisesse nada. Mas ele quer. Quer sim. Quer tudo quanto é mais precioso para mim: os mais pequenos momentos saboreados na companhia de amáveis almas amigas e singelas, que não me pertencem, mas se ligam à minha por instantes rápidos como o relâmpago.

Sabia que essa história de brincadeiras infantis fica martelando na minha memória? Ah, a memória. Transpiro e transmito de dentro de mim todas essas palavras. Este é meu talento que não será roubado jamais. Elas, as palavras e as letras, são tão lindas que meus olhos chegam até a marejar neste momento. Falo sério, acredite! Olhe estes desenhos, estes contornos, estes versos transversais de mim mesmo, que me representam e são representados por meu olhar sobre as coisas, animadas ou inanimadas, não importa. As coisas!

O teto aqui está branco, completamente branco. Uma rachadura naquele canto ali me diz que nada é para sempre, nem perfeito. A perfeição é uma bobagem inventada para vender boas imagens de pessoas disfarçadamente boas. As luzes giram na velocidade do vento, que entorta a minha pele para todos os lados. Ele está incansável nesta noite gélida, enquanto olho para o mar desse mirante improvisado dentro de mim.

A liberdade.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Longos dedos

Passo a mão no cabelo e sinto os fios bem macios. A nuca ainda está ali bem quentinha, entremeada com seus dedos longos e gostosos. Carinhosos. A atitude é pra quem tem. Mesmo que não saiba que tem. É preciso tê-la. Viver é uma questão de atitude. E não falo aqui de fortes e fracos. Balela. Falo de fazer ou deixar que os outros façam. Consegue perceber?

A lacuna muitas vezes é saudável, pois é a partir dela que se cria, recria e inventa um novo desenho, com diferentes traços daqueles que permearam o passado longínquo dos dias gelados de inverno. O caminho seguia direto para o rio, no qual adorávamos tomar banho. Era tão divertido. O trecho não era tão curto, mas a nossa felicidade fazia tudo parecer mais pulsante, mais colorido, mais vermelho. Era a vida. É a atitude que eu tava falando ali em cima.

Prestar contas a quem? Só devo fazer isso comigo mesmo, pois é o juiz mais rígido e intransponível, que não sossega enquanto não me joga contra a parede e aponta o dedo em riste contra minha bela face. A emoção de ouvir o som do piano ao longe me fez ver que não é preciso se preocupar com pequenas coisas, com sentimentos equivocados, com olhares maldosos.

Sou eu no meu eu descarregado em cada poro de minha pele.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Submarino

Imerso em meus pensamentos, vejo tudo tão turvo. A falta de concentração me leva para mundos diferentes do meu. De mim só resta o eu interior, que vaga sem saber se sabe por onde quer ir. Porém só por um momento, pois em todos os outros é tudo tão claro como os corais no oceano da imensidão do tamanho das minhas dúvidas.

O clássico está no olhar singelo da criança sem cobrança e sem intenções. Ela é apenas ela, e só!

Se é que existe próxima reencarnação... Mesmo assim ele disse: quero nascer negão da próxima vez!

Será que ele vai ser atendido no seu pedido?

É...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Cuba

Cuba sempre. Agora e sempre. Sua música e seu povo. Sua cultura e sua história. Suas lutas e suas conquitas. Seus beijos na boca entranhandos em cada sorriso de agradecimento. No belo caminhar da negra que não se cansa de dançar ao som da rumba. A ilha do Caribe parece não pestanejar quando se trata de lutar por suas memórias, principalmente as que já passaram. Mas lutam também pelas memórias do presente, do já, do hoje, do agora.

Mas o que seria o facínora? Deixo a pergunta no ar. Democracia? Será?

O sono parecia tomara conta de todo o vagão. As pessoas pareciam zumbis. Amanhã será outro dia? Quem foi que disse? Me diga! A felicidade não é para poucos, mas sim para a parcela mínima da parcela ínfima do mínimo, ou seja, do NADA.

Não precisa gritar? Quem foi que disse? Então continue calando a sua vontade. Sempre haverá outro para querer por você. Continue delegando o prazer de viver a outros. Você não é digno. Já pensou? Você não terá outra vida. Acredite! É agora ou agora. Você não tem opção. As opções não existem. Elas são apenas ilusões de mentes sedentas por respostas.

Como eu prefiro as perguntas, continuo vivendo ao meu bel-prazer.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O cemitério

O cemitério exibia suas lápides super elaboradas e magníficas. Era um lugar bonito e mórbido. Claro que era mórbido não é, afinal de contas, era um cemitério. Nós que aqui estamos por vós esperamos. Que experiência marcante no primeiro ano de faculdade. Ah! Mas de onde eu via tudo aquilo a situação era pior. Muito, muito aperto. Era o transporte público, que eu continuava sentindo na pele. Até quando?

Até quando as pessoas vão se reduzir a pó para ganhar o pão de cada dia e ainda se submeter àquelas condições? Triste, deveras triste. Mas eu já me perco nos meus pensamentos e eles voam tão alto que eu nem sei mais por onde eles se enfiaram. Autonomia. Eles sempre reclamam por isso.

Preencher as lacunas que existem em mim mesmo é um desafio que vou levando adiante, até não poder mais arrastar esse fardo. Que Deus o carregue. Se é que ele existe!

Interrogação. Câmbio. Desliga. Épico. Heroísmo.

Agnóstico.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

As crianças

A criança, enluarada e hipnotizada pelo belo satélite que ainda não estava cheio de si, fez uma pergunta qualquer e provocou a projeção de um filme na cabeça. Na minha cabeça. Nomeei aquilo de nostalgia de algo que ainda não chegou, ou que já passou há muito tempo, quando a consciência ainda não havia sido formada. O agogô e seu som metálico me surpreendeu de uma vez por todas, e me laçou no seu som envolvente e suingado. A música está em mim, assim como eu estou naquele pequeno objeto tão belo.

Mas a criança, agora outra, corria pela rua. Outras duas tomavam banho de mangueira. Ah, mais nostalgia. Imediatamente fui invadido por uma lembrança de uma fotografia, na qual o sorriso era tão gigante que quase tomava todo o enquadramento. Soma de passado e presente, é tão difícil dizer isso, mas é fato: o futuro não existe, pois ele é o presente que a gente mesmo se dá de presente.

Qual seu maior sonho? Todos são maiores e transbordam de mim como aquele rio sujo em dia de chuva na cidade grande, deteriorada pela ação vil e infame daquele e daquele outro homem. E daquela mulher também.

Frases soltas muitas vezes representam mais o mundo do que um simples sussurrar avantajado na sua vontade de segredar os principais detalhes da obra de arte exposta na rua, na frente de sua casa, no seu nariz ultrajante e arrebitado, que não vê senão seu próprio umbigo, contraditoriamente.

As borboletas voaram para longe. Eram de todas as cores, formatos e sonhos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A crise

Alimento a crise dentro de mim, pois é dela que renasço a cada manhã. A cada manhã renasço da crise e alimento. Dentro de mim, alimento a crise a cada manhã. Renasço e alimento a crise dentro de mim, a cada manhã. Alimento dentro de mim, a cada manhã, a crise. A crise e o alimento, tudo renasce em mim a cada manhã. Alimento a crise, a cada manhã, que renasce em mim. Em mim, dentro, renasce a crise que alimento a cada manhã. Da crise renasço dentro de mim a cada manhã. Renasço da crise a cada manhã alimentada dentro de mim. Dentro de mim, a cada manhã, alimento a crise. De mim, dentro, alimento a crise a cada manhã.

A competência nem sempre vem acompanhada de uma boa avaliação. As perspectivas, agora, são infinitas, basta apenas saber fazer boas escolhas.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A caatinga

A caatinga. A catinga da pitangueira que reflorecia a cada entardecer. E o anoitecer baixou uma luz inebriante e conturbada. A brilhantina dos tempos áureos voltam sempre que é possível sonhar mais um pouquinho. Mas e quando a morte chegar? Não existe mais nada depois. Aí é só o vazio que prevalece? Pode acreditar que sim. Mas eu me sinto como um zumbi, sendo controlado por uma força incomum e não visível. A loucura? Depende do nível de saciedade do mundo que você tem, pois a fome de comer é diferente da fome de possuir. Transcendo para outros espaços, sem precisar me movimentar, sem sair do lugar, rastejando a palha seca atrás de mim. A tenda foi montada sobre mim e tudo pulsava incessante e desconexado de meus poros em fúria e em chamas. Tudo ardia como se a vida explodisse num grande impacto de verde e vermelho. E fogo. Para salvar a humanidade basta apenas uma pequena quantidade de sol e de reflexo do ouro. Apesar. Os pesares foram abandonados diante da dinastia errante e errada pela honras da casa. A casa onde sempre me senti eu. E ser eu foi um preço muito alto pago por continuar vivendo e ser feliz para sempre, pelo menos por um período comumente chamado de sempre, mas que dura tão pouco. É, o sempre dura muito pouco. Quem foi que o nomeou? Eu, o rei do mundo e de mim. Dos meus atos e dos meus disparates. Eu sou feliz. Eu sou um grão minúsculo de nada. Mas ao mesmo tempo eu sou tudo e um enxame de palavras toma conta de mim e exige: Fim. É preciso parar por enquanto, é forte demais para seguir de uma vez só... Apenas sozinho e só.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Dois copos de cerveja

Ao lado da garrafa de cerveja havia apenas um vazio. Um lugar vago que nunca antes foi ocupado. Então, como é que podia estar vago? O vazio só existe depois que um espaço foi preenchido por algo palpável ou não. Mas o fato é que ele queria dialogar com este vazio. Talvez assim a solidão fosse amainando aos poucos.

Você gosta de dançar? Sim. Você dança bem? Depende do ritmo. Do ritmo da vida? Não, dos acordes do violão mesmo. Mas se não tiver violão? Que seja de qualquer instrumento. Qual você prefere? A rabeca. O que é isso? Uma espécie de violino brasileiro. Bacana. É sim, bem bacana. Você sabe tocar? Não, mas ainda vou aprender. Quando? Em breve. Em breve quando? Quando eu construir uma e sair por aí tocando. Nossa, construir uma? Sim, construir uma nem custa tão caro assim. Como seria a vida sem música? Não haveria vida. Será? Tenho certeza, acredite nisso. Mas eu sou tão cético. Mas em algo você acredita, não? É, talvez. Tá vendo como você já começa a distinguir os contornos? Do quê? Do mundo. Que mundo? Do nosso, ora bolas. Nosso quem, cara pálida? Cara pálida não, eu sou negão. Me desculpe. Tá desculpado. O mundo é negro, sabia? Quem disse? Eu tô dizendo, acredite homem! A lua está tão linda. É verdade! O que deve estar acontecendo lá? Orgasmos múltiplos, é claro. Hã? Sim, o gozo de lá deve ser pleno para haver tanta beleza assim. E essas modelos magrelas ainda pensam que são belas, né? Mas o que é a beleza, meu caro? Não sei, só sei que é a melhor forma de ver o mundo: através das ínfimas belezas escondidas no óbvio ignorado por todos.

Ah, o óbvio.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Surpresa

A pressão em minha cabeça não foi suficiente para eu perdê-la, afinal de contas tudo isso é aprendizado. Está tudo tão bom que eu não vou deixar a impulsividade dominar minhas veias. É preciso parar, pensar e ouvir os mais velhos. Muitas vezes eles se enganam. Mas é aí que nós, com o frescor da juventude, temos de assumir o controle da situação e tentar relevar certos gritos impetuosos. Eles são necessários para o fortalecimento contínuo da máquina que é a minha mente.

Dois dias de descanso? Imagina. Grandes acontecimentos. Grandes fechamentos de etapas. Grandes palavras. Grandes homens. Grandes mulheres. Grandes amigos. Grandes sorrisos.

Grande vida!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Balançar

O balanço proporciona o sossego. O sossego, a calma. A calma, a prudência. A prudência, a sabedoria. A sabedoria, o acúmulo. O acúmulo, a gana. A gana, a guerra. A guerra, a morte. A morte, a vida. A vida, a floresta. A floresta, a pedra. A pedra, o caminho. O caminho, a possibilidade. A possibilidade, a fé. A fé, a mudança. A mudança, o sorriso. O sorriso, a dúvida. A dúvida, o perdão. O perdão, a majestade. A majestade, o poder. O poder, tudo.

A responsabilidade de viver e morrer é só nossa e de mais ninguém. Não a jogue para outras pessoas, santos ou divindades. Você é o que você pratica. Poutz, mas isso está tão auto-ajuda, e eu já ia me enveredando novamente pela negação permanente de Deus. Mas isso você já sabe.

A Lua veio me dizer que o amanhecer está próximo. A luz, que sou eu, será espalhada pelo resto e pelos cantos do mundo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Falta

O mês começa agora por aqui. A bodeação dos últimos dias talvez tenha sido acúmulo de devaneios não passados para o papel, não explicitados, não vomitados. A sensação de estranhamento de mim mesmo vai passando aos poucos. A adaptação vai acontecendo gradualmente. O elevador de estados de espírito ainda continua a descer e subir. Agora ele está no térreo. Estabilizado? Imagina. Daqui a pouco ele dá um forte impulso e sobe ao vigésimo andar. Talvez até mais.

A respiração está até mais tranqüila agora. Interessante isso. Muito interessante. Mas eu não quero esta abolição do trema; ele é tão charmoso. Essa inconseqüencia ainda vai nos trazer maus bocados. Escreva o que estou dizendo. E com trema, por favor. O sistema pode cair, e eu também. Mas está clara a diferença entre mim e ele, não é? Pergunto assim meio despreocupadamente, sem querer uma resposta de pronto. Você tem dois minutos para pensar.

Já reparou que as dores na coluna parecem nada quando a chuva cai lá fora e se está debaixo de um cobertor quentinho, assistindo um filme qualquer na TV à tarde. Se houver uma bela companhia ou uma companhia bela, como preferir, melhor ainda. Mas isso é tão romântico e não é isso o que me representa nos últimos dias. Mas algo consegue me representar completamente em alguns instantes ínfimos que seja?

O ritmo do frenesi que invadiu aquele homem ali passou desapercebido por todos. Ninguém o olhava mais, ele já não existia em carne e osso. Apenas seu nome permaneceu. Ah, a história. Quão leviana e instável ela é.

Ela se parece comigo e, talvez por isso, eu insisto em me jogar no seu rio escaldante de memórias.

sábado, 29 de novembro de 2008

Destino

Uma aranha. Uma pequena aranha que tentava desesperadamente subir pela parede branca. Ela não conseguia de jeito nenhum. Mas tentou por diversas vezes. Fiquei espantado com sua persistência. Será que ela estava com medo de mim? Provavelmente. Mas eu fiquei ali, observando-a. Claro que pensei em matá-la, mas tive pena. Ela também deve ter tido pena de mim, que fiquei ali igual bobo olhando-a.

Mas será que o destino quis que eu a percebesse ali naquele cantinho? Será que o destino é tão poderoso assim? Pra começo de conversa: ele, por acaso, existe? Quem foi que disse? Quem o nomeou? Eu que não. Mas realmente acho curioso certos encontros nessa vida. Falo de alma mesmo, não encontros físicos. É preciso perceber além.

Vamos beber?

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Rosa

Eu me emociono mais sozinho do que coletivamente. Individualista? Não! Apenas me sinto à vontade comigo mesmo para determinadas situações, e ainda assim é bem complicado. Posicionamento. É preciso tomar um lado e não ficar em cima do muro. É preciso buscar sempre, aproveitando tudo da melhor maneira, mesmo que a melhor maneira não seja a desejada e a esperada pelos outros e outros.

Risos e êxtase. Assim foi tudo. Tudo tão maravilhoso. Maravilhado pelas luzes. Elas me atingiram e emocionaram. A multidão também. O sonho realizado. De muitos. O começo e a chave de ouro. O futuro e o agora. A Rainha.

A extinção de mim mesmo só pode provocar um terremoto ou maremoto, ou ainda um grande vendaval. Ou talvez apenas uma neblina que vai cobrindo o pequeno vilarejo distante dos grandes prédios. Os seus moradores nunca viram construções tão grandes. A sua grandiosidade foi direcionada para as emoções do dia-a-dia.

Merecimento. O roubo do merecido suor. A apoteose de mostrar aquilo que se ama, aquilo que transforma e comove até o mais reles mortal anti-social e anti-emocional. Você me acha emocional?

Não. Apenas a sensibilidade que aflora diariamente em mim não pode ser controlada nem reprimida. Ela existe por ela mesma, independente da minha vontade.

Esplendor de viver. Eu quero comprar o algodão doce para adoçar ainda mais o meu dia. Quero um rosa. Ou uma rosa?

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Continuação...

É a continuação. Não da mesma coisa de ontem, dos mesmos sentimentos e emoções. É uma continuação diferente, pois sou totalmente diverso do que fui ontem e, ainda, anteontem. Perder a noção sobre o que sinto é tão bom às vezes. Mas os arrepios que me sobem desesperadamente desde o dedão do pé são históricos, são belos, são extremamente necessários.

A história ou a História? Os dois. Eu faço parte, eu me incluo nela, mesmo com todos os contras e todos os hipócritas. Balanço. Balanceio. Balão. Amanhã é sexta-feira e eu já serei um novo homem.

A oportunidade não é fruto do acaso, de forma alguma. Talento? Também não sei. Eu diria que é fruto da competência, do esforço, do suor. Lições que aprendi desde cedo em casa, e que carrego para aonde quer que eu vá. Há pouco tempo comecei a perceber a importância delas em minha vida, a tradução delas nas minhas ações e nos meus quereres.

O descarado do tempo não passa. Esse enrolão! Ele está adiando o máximo que pode a minha euforia e a redenção de uma noite esplêndida e já inesquecível, mesmo não tendo sido realizada ainda.

Deixa eu ir conter outros espaços. O mundo talvez. Preciso respirar profunda e descontroladamente.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Orelha ardente

Banhado com as próprias lágrimas. E a orelha esquerda arde. E a expectativa aumenta, se a agiganta ainda mais do que minhas vontades incontroláveis. As mãos tremem e não sossegam. O pensamento fica tão inquieto que até se esquece de pensar. Nervosismo. Dor de barriga. Dor da espera.

Aguardando sempre para ser ardente no grau máximo do fogaréu que pestaneja em meus finos dedos potentes e delicados buscando sempre as maravilhas singelas de existir num mundo tão tão.

Escrever me acalma e me transborda, ao mesmo tempo. Às vezes os sentimentos se separam, mas na maior parte do tempo, como agora, eles se engalfinham e lutam para obter a primazia sobre mim. Incontroláveis insanos.

Tudo extravasa por aqui pelo meu corpo. Parece que há um monte de formigas na cadeira. Elas não me deixam tranqüilo. Essas ‘bolidoras’ de almas! É preciso ter alma para percebê-la?

Ah, essas linhas já não me são suficientes, por hoje.

Eu quero cantar e me emocionar.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Impulsivo

O excesso de impulso provoca uma ebulição aqui dentro e eu já quero sair para o mundo, correr para um lugar onde só eu me entendo. Não é possível. Minha vontade era de sair quebrando tudo. Mas peraí? E daí?

E daí? Sai da frente, senão eu quebro mesmo. Brincadeira. Já relaxei.

De qualquer forma as coisas acontecem intensamente e é preciso não perder a oportunidade de continuar viajando no maravilhoso sonho, na carona da calda do cometa. Ou meteorito? Já não lembro mais.

Sério. Levo a vida a sério ou ela é quem me leva? Já não sei se sei e já não estou. De repente, trepo na árvore a abraço freneticamente. Fico ali parado, sentindo a vida brotar dela e de mim. É uma troca. Infinita e profícua.

Respirar fundo. Isto está tão difícil aqui nesses prédios sufocantes. Na minha pequena sala que tolda os meus movimentos também.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um quase-seqüestro

A chuva chovia intensamente. Hoje, não naquele dia. No entanto, o dia naquele dia estava nublado. Pela manhã, a mãe saiu com seus três filhos em direção à escola. Na volta para casa já teria que cuidar de um monte de crianças. Era uma espécie de babá. Era o que fazia para sobreviver nesta grande cidade, depois de migrar de lá dos cafundós da Bahia. Porém, era feliz. Tinha quatro filhos lindos. Um tinha ficado em casa, pois ainda era muito pequeno para freqüentar a escola.

Uma inescrupulosa mulher que saltou de um carro tentou roubar sua felicidade. O garotinho estava bravo por algum motivo com sua querida mãe e apertou o passo para não andar junto dela. A vil mulher que parou o carro e caminhou em direção ao menino tinha um único objetivo: raptá-lo. Mas que maldade! Tamanha imbecilidade não deveria nunca ser perdoada.

Mas ela não contava com o instinto materno, que apitou desesperadamente naquele momento. A mãe, ao observar e prever o rapto de sua alegria, correu o mais depressa que pôde e agarrou sua cria. A infame mulher, que nunca deve ter tido a honra de ser mãe, voltou para o carro e foi embora para sempre. Ou pelo menos até encontrar uma outra oportunidade como essa.

O garotinho ficou como em estado de choque. No momento não entendeu muito bem o que lhe aconteceria. Mas depois a ficha foi caindo levemente e de forma contundente. Ele se arrependeu por seu temperamento forte e perdoou a mãe completamente. As lágrimas rolaram por dentro. A mãe, por sua vez, soltou muitas broncas e apontou o dedo para seu querido filho, enquanto o apertava nos braços, dando graças por ter evitado duramente que a roubassem a sangue frio.

A mamãe e o pequeno filho continuam felizes. Desde aquela época, não houve nenhuma outra tentativa de roubo. É claro que a família já passou por outros perrengues, mas aquela lembrança, como poucas, ficou marcada para sempre na memória desconexa e irregular do pequeno garotinho.

Ele agradece muito também por não ter tido a vida raptada de forma tão insuportável. Só não sabe muito bem a quem agradecer. Talvez a ele próprio, por ter sido abençoado [por alguma força disforme e gigante] e presenteado com uma mulher tão corajosa e ferina: a mãe que estava disposta a dar a vida por sua cria.

domingo, 23 de novembro de 2008

Flashes

Luzes piscando. Muita fumaça e observação. Os corpos se batem, se mexem e não se cansam de balançar ao ritmo da música. Está tudo muito cheio e é possível ver alguns detalhes no meio daquela confusão generalizada. Um rapaz fecha os olhos e em seguida atira para todo lado. Devia ser um caçador. Ou não. Algumas mãos apontam para o alto, para não sei onde. Estalagmites [ou estalactites] pendem do teto. O ser viajante transborda o olhar para todos os lados...

O meu pensar é um ato constante de escrever mesmo sem papel nem um teclado de computador.

sábado, 22 de novembro de 2008

Tem gente

Tem gente que não sabe viver.
Mas não vale a pena dar ibope.
No entanto, tem tanta gente sábia.
Que aprendeu a viver desde o encontro com a luz desse mundo.
Por isso é tão curioso existir.
Tem gente que nem se dá conta disso.
Triste?
Não. É a vida. Nem todos estão abertos ao aprendizado.
Pó. Daqui a pouco todos seremos.
Pra quê esquentar se o aquecimento global já faz isso com maestria?
Pra quê desperdiçar o que é tão raro?
Uma esmeralda. Um diamante. Uma vida.
A negação do tédio.
Há tanto para se fazer...
Onde? Não sei!
Mas é pra lá que eu vou...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A pachorra e o poema

Pachorra. Palavra engraçada não é? Como ela teve a pachorra? Pachorra é tão feminino, com todo o respeito, claro. Se fosse pachorro não teria a menor graça. Sonhos. Eles estão sendo mais exercitados ultimamente durante o sono. Liberdade. Paraíso. Inferno. Redenção. Romaria. Passarela. Lá vou eu de novo com a mania das palavras e o temporal.

Encontro desencontrado
Casamento descaracterizado
Normalidade incomum
Amor incondicional
Peleja eterna e descamada
Quarto do quartel rigidamente bobo
Beleza disfarçada num olhar
Bolas misturadas no ar
Balões de brigadeiros na mesa
Piquenique debaixo da árvore
Cheiro de café da vovó
Pedrinhas no caminho para o rio
Arbustos tão grandes quanto eu
Mãos dadas diante do luar
Lamacenta sensação de estar
De externar e ser
De materializar o que é sonhado
A noite veio alimentar
De forma definitiva e incomparável
As mentes enlaçadas umas nas outras
O amor.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O moço perspicaz

O homem sentou na escada e começou a cortar o cabelo com a gilete mais vagabunda que existe. No meio da cabeça já não havia tanto cabelo. Era o tempo mostrando o seu poder insaciável. Boas condições. Será? E o moço perspicaz? E o pretensioso? Lá vem você com as suas infinitas indagações.

A sanção estava tão sonolenta que esqueceu de se sentar e impor a ordem.

As pessoas são tão normais. Ou não percebem o quanto são comuns. É preciso se diferenciar. Ser único. Mas elas são incentivadas a se juntar, a ser igual, a ser o padrão. Devanear é crime nesse mar de normalidade. Psiquiatra? Sou eu e é você também. É só querer. Basta deixar a brisa levá-lo para longe, onde a criatividade cria asas e penas, e voa para o indiscutível.

Tédio e euforia. Convivem lado a lado. Ora um, ora outro, ora os dois, ora nenhum. E ainda tem mais um monte de sentimentos inomináveis. Por que eles são sempre nomeados? Eu gosto de inventar. Então vou começar a inventar nomes. Sem pedir licença. Não é preciso. Ninguém patenteou ainda.

A cara e a coroa deram as mãos. Ficaram ali sentadas no banco da praça. E o mundo terminou. Poeticamente. Fim.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Dia logo!

- E a velhice?
- O que é que tem?
- Você pensa nisso?
- Mas eu só tenho 20 anos!
- Mas a vida passa muito rápido. Hoje 20, amanhã já passou dos 25...
- Nossa, que pessimismo!
- E a desatenção?
- Eu sou muito desatento. Me distraio facilmente.
- Do que você tem medo?
- De não viver!
- E do que mais?
- De enlouquecer além da conta!
- E existe conta para enlouquecer?
- Não sei, acho que ainda não ultrapassei o limiar da insanidade...
- E você fala sozinho?
- Estou falando de uma coisa mais complexa, que mal consigo explicar para mim mesmo!
- Mas responde! Você fala sozinho?
- Mas é claro! Quem não fala sozinho só pode ser muito doido ao contrário, viu!
- É, deve ser mesmo.
- Você é feliz?
- Por quê?
- Porque a felicidade é tão duvidosa, você não acha?
- Eu procuro não achar, para não me perder de tanto achar achar e achar...
- Mas o que é a vida senão uma sucessão de perdas?
- A vida foi feita para não ser explicada. Tolos dos que tentam!
- Então somos todos uns tolos!
- Por quê?
- Porque passamos a vida inteira tentando significar tudo, até aquilo que não faz o menor sentido...
- É.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Bons e boas

Boa surpresa. Bom descanso. Boa sorte. Boa competência. Boas escolhas. Boas oportunidades. Bom sucesso. Boa euforia. Bom estado de espírito. Bom espírito. Bom sorriso. Boa gargalhada. Bom olhar. Bom pensar. Bom carinho. Bom dia. Boa notícia. Boa nova. Bom velho. Bom assobio. Boa história. Bom treinamento. Bom talento. Boa chuva. Bom sono. Boa noite. Bom pôr-do-sol. Boa caminhada. Boa pescaria. Bom feriado. Boa tarde. Boa paquera. Bom tremor. Bom arrepio. Boa piscadela. Bom beijo. Boa boca. Bom abraço. Boa prova. Bom domínio. Boa imperfeição. Bom detalhe. Bom pressentimento. Boa lorota. Bom detectador. Bom espelho. Bom homem. Boa menina. Bom garoto. Boa criança. Bom domador. Boa mãe. Bom filho. Bom jovem. Boa senhora. Boa flor. Bom jardim. Boa varanda. Boa casa de praia. Bom mar. Boa ventura.

Boa serelepisse. Bem supimpa.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O apático

Apatia e olhar para dentro. Hoje é um dia daqueles em que viver dói como uma unha encravada no dedão do pé esquerdo. Sinto tudo tão frágil aqui pelo interior da minha alma. Almejando um novo sol com chuva, fiquei ali parado, a contemplar a maravilha da natureza, a beleza da vida, a latejante forma de estar presente no mundo. Contraditório não? Pois não. É sim. É não. É o distante instante introduzido no amor perdido e calado. É tão bom escrever nesses dias cinzentos e amarelados. Se saco vazio não pára em pé porque as pessoas ainda insistem em acreditar num deus que virá para purificar essa Terra descabida em si mesma? Talvez a revolta seja intrínseca à minha existência frágil. Frágil, porém revoltada. Continua deflagrando sentimentos que vetam soluções anunciadas como presente de grego. Essa ação, de retorno do olhar agudo para dentro de si mesmo, não é para qualquer um. Não, não sou um herói. Apenas um reles e rotativo mortal tentando descobrir a essência da vida. Não quero passar por ela, sem investigá-la a fundo, sem visitar os seus mais recônditos espaços reservados à euforia desabalada de viver. Emoção. Olhos lacrimejantes. A sensibilidade é tão boa, mas ao mesmo tempo é tão pesada. Carrego o seu peso nos meus olhos redondos [sim, achei eles tão belos hoje de manhã], que disfarça a cada momento a rebeldia entranhada na íris castanha. Carrego o silêncio e a dor, duas inquestionáveis bandeiras indistintas da trilha descomposta no parque verdejante e florido na primavera da década atual. O tempo desregrado e intempestuoso me inundou de tal maneira que estou lotado de mim mesmo. Tão cheio que quase não me aguento. Muito complexo?

Já me desdobrei e me transformei em outro.

domingo, 16 de novembro de 2008

João-mole

Não tem a maria-mole? Então, também existe o joão-mole. Nesse caso, sou eu mesmo. Mas de uma força tremenda. É preciso ter coragem para viver.

A corrente que estava no fim daquele grande e cansativo escadão era a síntese da dura caminhada. Dedo-duro. Miolo-mole. Crença-delgada.

Me esquece e deixa eu me reconstruir. Mas... E como faço para me reconstruir? Eu vou e pronto? Eu faço e acabou? Ou melhor: começou. Será que isso nunca vai acabar? Hoje sou um. Amanhã já posso ser dois. Na semana que vem, talvez seja uma imensidão de mim mesmo.

Quanto tempo será preciso? Eu preciso de tempo ou o tempo precisa de mim? As minhas indagações são, às vezes, tão tolas e desnecessárias. Você não acha? Pois é, mas eu digo que são sim. Atenção! Pare e olhe ao redor. Se você não se transformar, o objeto continuará sendo um objeto inacabado e abjeto.

O meio de descobrir o fim é não ter medo de mergulhar de cabeça no inesperado das cores coloridas multicores.

Música. Sensações desconcertantes de almas controversas que se cruzam e se descruzam num gozo infinito que sempre acaba no abismo das escolhas prontas.

Igreja. “Estou tão triste, tão chateada, mas continuo amando as flores”.

sábado, 15 de novembro de 2008

Escritos

O indizível é dito por mim ou por ti?

Você já recebeu um telegrama?

E uma carta? É tão bom!

E o que eu escrevo? Estou totalmente em poder da minha sanidade e reflexões? Ou elas existem por si mesmas? É tão verídico que chego a imaginar que pode ser mentira. Mas é um enxame. Isso, um enxame. Encontrei a palavra certa. Finalmente.

Elas vão sendo traçadas como se tivessem vida própria, como se eu fosse apenas um instrumento, um objeto, um aparelho transmissor. Não, não estou falando de psicografia e coisas do tipo. Não mesmo. Até porque nem acredito nestas coisas. Eu acredito no agora e no presente recebido a cada segundo. De quem? De mim mesmo, oras bolas. Que me permito viver mandando a serenidade às favas.

O mundo é muito conturbado para se viver serenamente. E esta cidade? Há algum recanto de paz e concórdia? Creio que não. Esta cidade que tanto amo e está enraizada em mim desde os seus alicerces até o mais alto de seus edifícios opulentos e famigerados, ao mesmo tempo.

São Paulo e eu. Uma relação tramada para a posteridade dos séculos.

Sossegar. Contradizer. Adormecer. Alucinar.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Cachoeira

Impaciência. Displicência. Desconexão. Paranormalidade. Sublime. Destoar.

Um grande cachorro bonito em cima de seu trono. Parecia um leão. O rei da selva. Eu. Somente só naquela cachoeira. Era só eu e a natureza, e pude sentir de uma vez por todas de onde vem a energia comovente que move montanhas e a insaciável vontade de me entregar ao mundo.

De repente não havia mais repente. Nem rimas. Apenas o silêncio contundente de uma ostra jogada na areia da praia. Estava deserta. Era o início de tudo e o céu estava transparente. Não havia nuvens. Sensacional.

Bobeira. Alucinações pendentes de outras reencarnações. Não sei se acredito. A linha entre acreditar e não acreditar é tão tênue. Frágil como a própria existência.

Fé é quando você passa a acreditar que uma pequena pena pode ser mágica e o mundo pode ser melhor do que ele é.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Leveza

Sem o peso imenso nas costas. Agora só levo a alegria da realização. Para quê o resultado final, depois de um processo tão enriquecedor? A magreza é o resultado. Porém, ela só está presente na carcaça que reveste esse ser.

Saiu correndo com o resto do cachorro-quente nas mãos. Já era tarde. O trem estava prestes a partir. E se ele ficasse ali, daquela forma, partido?

Lembrou de quando os vizinhos dos fundos construíram uma piscina em cima da laje. Para outras pessoas aquilo poderia parecer uma coisa aterradora. Mas para nós era: que maravilha! Tão simples e tão tão. Minhas memórias são.

A meditação nunca foi o meu forte. Pelo menos, não a meditação clássica de ‘parar e pensar’. Mas eu sempre ando pensando, em tudo. Uma coisa vai puxando a outra, numa infinitude de possibilidades de idéias.

O sol brilhante numa tarde depois de um dia chuvoso sempre revigora as energias. Ao menos para aqueles que estão sensíveis às pequenas coisas. Por que querer tudo grande e farto? A gula não é pecado? Que seja, sou guloso sim! De pequenas coisas e momentos.

Enfim. Leveza e senso de humor. É isso aí. Eis aonde estou.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O devaneio e o psicólogo

Meus devaneios servem para quê? Para mim ou para os outros? Desconfio, sem dúvida nenhuma, que seja apenas para mim. Talvez por isso eu queira que esse cantinho aqui seja só meu e de mais ninguém. Mas não posso ser egoísta com minhas próprias palavras. Se elas têm vida própria e saem de mim mesmo contra a minha vontade, quem sou eu para aprisioná-las em um espaço tão pequeno como este? Pequeno e grande, ao mesmo tempo. Grande porque é nele que as palavras são paridas e ganham vida.

Psicólogo. Há um tempo já ando pensando em fazer uma consulta ao psicólogo. Até aí tudo bem. Já pensei em ir numa cartomante ou algo do tipo e até hoje não fui. Ainda irei. Mas fiquei imaginando: “O que eu iria falar para o psicólogo?”. “Oi, eu vim aqui para entender um pouco a minha insanidade”. E a minha loucura logo grita: “Mas para quê quer me entender, se eu sou tão incompreensível quanto a chama do fogo?”. E você acha que eu posso com ela? Mas ainda assim eu gostaria de debater com os meus saudáveis distúrbios, que alimentam diariamente a minha alma incansável e acalentada por amores de todos os tipos.

Rejubilo-me. Que expressão estranha! Não encontrei outra que nomeasse o que senti e sinto. Não gosto muito porque me lembra algo de religioso, coisa velha e passada e repassada. Mas não queria falar sobre isso. São apenas subterfúgios da minha mente melindrosa. Ela está em êxtase e divaga para lá e para cá. Mas é preciso ressaltar: ela está em êxtase puro e natural.

De mãos dadas no caminho da escola. Sim, nós íamos de mãos dadas para a escola. Imagina! O pequeno bairro, para nós, era a cidade grande, era São Paulo, era a cidade das grandes realizações. Morríamos de medo de atravessar a rua sozinhos. Pegar ônibus? Era a coisa mais assustadora do mundo para aquelas duas crianças. Alguns debochavam, pensavam que nós, irmãos, éramos um casal de namoradinhos. Onde já se viu! Por que eu não podia atravessar a rua de mãos dadas com minha querida irmã?

Naquela época eu era apenas e tão somente uma criança. E isso não é pouco hein! Hoje lembro com contentamento daquela época em que tudo era novo. Difícil também. Mas foi um período de descobertas muito valioso. Sem pestanejar, eu digo: "Sou o que foi feito de mim e o que eu permiti, ou não, que fizessem".

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Coceirinha

Quando dá uma coceirinha, você escreve até em pensamentos. Tenta ir guardando tudo. Para não deixar escapar nada, você cria diversas imagens, mas muitas vezes elas se confundem e formam outras tantas imagens. Muitas são desconexas. Outras, tão claras quanto a noite em dia de lua cheia. E outras ainda são tão morosas que parece um filme em câmera lenta. E mudo.

A energia elétrica se mostra tão indispensável que nem imaginamos como seria dormir todas as noites sem a TV ligada. Eu digo que é possível e confesso que experimentei esse estremecimento das bases outro dia desses. É inquietante. A chama da vela samba para lá e para cá e as idéias e emoções parecem seguir o mesmo ritmo, como se todos juntos se dispusessem a dançar a grande valsa da vida, que grita e esperneia por mais, mais e mais luz. A luz própria. Não a falsa.

Por hora não há mais oras e oras, nem pois e pois. Nem poréns. Eu preciso me mexer para minha mente voar?

Hoje meu pequeno grande orgulho completa dezoito aninhos. Ainda é minha criança e será para sempre, mesmo que tenha dez filhos. Parece que foi ontem que ela chorava porque foi obrigada a posar para uma foto com seus cachinhos tão cuidadosamente preparados por sua mãe. Nossa mãe. Nem preciso falar do seu brilho próprio e estonteante não é? Só lamento não ter nem um pouquinho de sua beleza. Pelo menos a externa, pois sei que a alegria de viver é uma coisa que já nasceu com a gente e levamos sempre para todos os cantos.

E, levada e espevitada, viverá tantos outros dezoitos anos, e tão bem quanto estes que já se foram...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A cabeça

O absurdo do absinto não experimentado na noite dançante e contagiante. Havia muita energia.

Saiu correndo. Havia terminado a noite especial. Porém, correu serelepe mesmo assim.

Feliz por ter realizado e posto um filho no mundo.

A minha cabeça é a minha cabeça e não posso fazer nada. Não gosta? Azar.

A decrepitude das coisas serve para deixar explícitas as novidades descabidas.

O sol abafou os murmúrios e torrou as más idéias. Aquelas que são totalmente dispensáveis.

Linha de trem. Calçadas. Escadas. Subidas íngremes. Morros. Vidas.

domingo, 9 de novembro de 2008

O pássaro e o navio

Um pássaro no rosto e uma idéia passeando por todos os escaravelhos e recantos ensimesmados e esnobes. Na estante, restou apenas o que era saudade. Mas do que foi vivido e não esquecido. Intempestivo, não soube apreciar a maravilha de viver apenas uma vez. Para quê mais? É uma oportunidade e nada mais. Que entendiante seria saber que eu teria outra e mais outra chance para refazer as cagadas espalhadas pela estrada tortuosa e inesperada.

O incerto do certo é a lucidez entranhada nos erros necessariamente indispensáveis.

A batina não serviu para transformar seu corpo em nada, apenas em tudo o que havia de mais rejeitado. De repente, nem ele sabia porque a usava.

Porque eu sou a insanidade e o espírito inquieto e peralta que perambula pelo mundo para perder e ganhar faz parte de um jogo intrincado e contente. É o saber da história guiando o leme do navio desgovernado. Esta é nossa vida. A metáfora do inexperiente navegante. Marujo, você nunca saberá o que há depois do horizonte.

Por fim, o final chegou e já não se ouvia mais nada. Muito menos o silêncio.

sábado, 8 de novembro de 2008

Otimismo

O aperto do aspecto espevitado furou o bloqueio bestial que havia sido hasteado no mais alto das injúrias. Mas gargalharei no final, mesmo que ele ainda não tenha chegado.

O triunfo já sou eu, por isso não o persigo. Como iria perseguir a mim mesmo? Não, eu o deixo livre para correr até por lugares lotados de gentes de todos os cantos e partidas. Destinos e chegadas.

A felicidade é tão simples. Como não conseguem perceber, meu caro amigo? Me olhou e não desviou da marcha lenta, porém contínua.

Desce uma caixa de cerveja, garçom!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Imagens

O que faz uma construção de imagens que nunca foram vistas? Por que o diferente causa tanto espanto? Quem foi que determinou o que é diferente ou não? Eu sou diferente por colocar em xeque a hipocrisia da igualdade? Igual a que? Igual a qual imagem? As pessoas se constróem até que ponto? Tem gente que parece ainda não ter aprendido...

A olhar.

A aceitar.

A tolerar.

A abrigar.

A socializar.

A amar.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

éSSes

Serelepe.

Solto.

Sedento.

Subúrbio.

Segregação.

Semântico.

Sisudo.

Senil.

Sesta.

Sintoma.

Selere ao quadrado.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O corpo, a mente, o índio...

O corpo vai, mas a mente fica. Ela perambula e zanza incansavelmente por aí. Falando nela, hoje está cheia de idéias. Disse que está alegre até. Ao ver uma senhora com dificuldades de locomoção, deu um estalo nela [a mente]. E já foi viajar por aí. Ela é tão independente e insaciável às vezes. Foi, mas voltou rapidamente. É brincalhona também. Ou será, que o corpo não agüentou de saudades? Ah, mas isso é muito para minha cabeça.

Eu vi um índio hoje. Ele andava por entre imensos prédios. Mas ele estava no chão. Não parecia perdido não. Pelo contrário: parecia ter finalmente se encontrado. Ou não. Cadê a sua floresta e o seu corpo nu? Quem foi que comeu? Quem foi que usurpou? Quem foi o assassino? Quem foi o maldito ser humano responsável por tamanha calamidade planetária? [Isso tudo é minha mente viajando de novo. Está impossível, viu?!]. Talvez ele pensasse tudo isso também. Talvez minha mente tenha trocado uma idéia com a dele. Vai saber né?

Uma garotinha no alto de seus três anos, no máximo, tagarelava palavras desconexas e complicadas. Pelo menos, eu não entendia. Será que perdi a capacidade de entender o incompreensível e essencialmente profundo? Provavelmente, a linda garotinha cor de jambo quisesse exercitar a fala sem perder mais tempo. Afinal de contas, foram anos inteiros sem conseguir se comunicar. Será que ela será apresentadora de TV? Ou mais uma solitária errante por essas bandas daqui?

O que seria dito hoje ficará, sem muxoxos e reclamações, para amanhã. Ou depois de amanhã. Só a danada da minha mente poderá dizer com toda a certeza. Ela não me confirmou, mas como a conheço, digo: é difícil que ela rumine por muito tempo uma idéia. Ela vomita bastante. Quase ininterruptamente. Coitadas daquelas que não vomitam. Talvez já nasçam congeladas e inertes.

Nem um sim, nem um não. Nem talvez. Muito menos a vez. Apenas a hora é chegada de dizer: ver é mais subjetivo do que sentir, pois uma coisa é anterior à outra. Esta é a ordem desordenada do mundo. E ponto final. Ou talvez reticências...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Vozes

Foi tão curioso. Ontem ouvi diversas vozes que pareciam desconexas. Falavam outras línguas e se misturavam umas nas outras. Fundiam-se e descontrolavam a sonoridade presente no ambiente conturbado e extasiado. Mas depois de botar muito reparo e atenção foi que passei a distinguir uma ou outra fala.

Noite divertida. Nem lembrava qual tinha sido a última...

Não será a última.

domingo, 2 de novembro de 2008

O passado da carta

A carta estava ali guardada e era como se implorasse para ser aberta e lida mais uma vez. Talvez tenha se sentido esquecida ou rejeitada. Relegada à um cantinho do passado onde tudo era novo e mais feliz. Ela também devia estar nostálgica da viagem que fez lá dos confins do Sul até aqui, onde estou. Mas como sou desorientado, nunca sei em que direção vou. Se é norte, sul, leste, oeste ainda é um grande mistério. Só sei que vou.

Portanto fui e peguei. Reli todinha. De cabo a rabo. Com seus pequenos errinhos que logo me saltaram aos olhos, pude relembrar. E foi bom. É ótimo quando o passado não pesa. Quando parece que ele foi realmente vivido. Apesar da boa lembrança, eu ainda estou aqui, sem saber a direção correta. Vou sendo levado apenas pelas brisas da natureza. Sou dela e vou para onde ela quiser.

Estou bem resolvido quanto à minha reconstrução diária. Será? Às vezes me sinto tão múltiplo e disperso, vários eus atuando em tantos sentidos. Estranho.

Acho que tem outro ser dentro de mim.

Sem duplas significações. [Esse eu desavergonhado e insaciável eu identifico e confirmo. Existe.]

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sussurros

Sussurros maledicentes
Murmúrios de gozo
Sacolejar de brisas
Durar de durões
Sugar o suposto sol
Torrar as torres
Do açúcar, o mel
Do nada, o começo
O rebombear de risos
O chapelão de chafariz
As garras de gari
Os solos da pátria mãe
A música das paródias
O desperdiçar de corpos
O joio enjoado
A metade do sabão
O lance mais perfeito
A beleza de não ter
O salão do baile funk
A curtição do fim
O esplendor da morte

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Os passos do velhinho

Hoje eu ouvi coisas. Você também?
O velhinho caminhando
A pomba morta nos trilhos
Os passos firmes, duros e moles
A biscate na rua no seu trabalho diário
O mascate vendendo os seus produtos
A doméstica esfregando o chão
O giz correndo pelo quadro negro
Que não tem nada de negro
O bairro acordando depois da noite chuvosa
A cigarra se esgoelando de alegria
O sol despontando acima do monte
O orvalho despregando das folhas
O cotidiano repleto de odores
Antes, a neblina se fez presente
A Lua se escondia de sono
De novo, toda a gente trabalhava
Os dias de festa estavam próximos
Tudo. Tudo era mais dinâmico
Sem vírgulas nem pontos finais
A psicografia foi levada tão a sério
Que os humanos se esqueceram
De que a vida ainda é primordial
E passaram a viver sempre através
De vultos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ânsia

Ânsia de ansiedade que mais parece um jatinho em sua velocidade mais extrema. Assim sou eu hoje, com um monte de caraminholas na cabeça. Ela está a mil quilômetros por hora e não consegue parar. E vai lá e volta cá. Está impossível. Descontrolada. Desvairada. Que vai dar certo, até eu sei. Mas por que tem que ser tão difícil? A cada dia um novo respingo de imprevisto. Mas tá demais viu!

Pode vir. Estou pronto. Digo e digo de novo: VAI DAR CERTO.

Quanto menos se espera a esperança se enerva em você!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Eu e os outros

É 25 de outubro. Preciso repensar o eu com os outros. Será que não me mostro importante ou a culpa é deles? A atenção é tão difícil assim de ser conseguida? Preciso me sentir premiado toda vez que alguém esboça um olhar cheio de vontade de atenção? Andei pensando isso nos últimos dias. Começo a perceber, aos poucos, que terei que me amar loucamente. Não há outro jeito. Vou ter que me entregar inteiramente a mim para querer pertencer a outras vidas.

Os parcos escritos de hoje estão repletos da contundência do meu ser.

Reticências...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Trecos

O tempo. O toque. O tanto.
Telepatia. Tirada. Testa.
Tomate.
Tristonho. Trivial. Treva. Torpe.
Tosco. Tostado.
Tosqueado. Totalizado.
Trina. Trevo. Travalíngua.
Ti-ti-tis. Trama. Truculento. Trespassado.
Trilegal. Tiro.
Televisão.
Temor. Tiara. Testes. Tartaruga.
Temeroso.
Tempero. Testemunho. Travessa. Truncado.
Tamarindo. Telégrafo.
Telefone. Título.
Titubeante.
Tiradentes. Tinhoso. Telemarketing.
Tomaras.
Tigre. Tatu. Tebas. Tijela. Toldo. Tonto.

Torresmo. Triturado. Torcido. Ter.

À porta de casa, um garotinho comia um formidável cachorro quente.

sábado, 25 de outubro de 2008

O espirro

Ele foi atirado ao longe
E provocou risadas convulsivas
Mas não perdeu a eira nem beira
Ninguém desejou saúde

O fôlego também não se conteve em si
Buscou novas formas de respirar
Na cidade já não dava
A poluição imunda

Víbora jogou seu veneno ao relento
A Lua bronzeou ainda mais a pele negra linda
O céu destoou do que havia de mais azul
E a natureza impossível e bela como sempre

Sei lá como tudo se deu
Só sei que deu e foi bem dado
Registrado e marcado com vontade carnívora
E o balancear continua a mover o requebrado

O prolongamento do sol abriu novos olhares
Depois do arco-íris, tem a minha íris
A doarei para a humanidade enxergar melhor
Me doarei de alguma forma. Como?

O sobe e desce impaciente
As dicas demonstradas tão claramente
E as dúvidas sendo saciadas na alcova
E o orgasmo invadindo suas têmporas

A temperança do tempero temeroso
Do tempo que destampado
Tonteou, e o tino tirado de todos
Tateou o tamanco na travessa...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Não me pegue! Hoje eu quero ser só [m]eu...

Tô me sentindo cheio de mim e quero enchê-lo um pouco com minha alegria transbordante e meu sorriso inebriante.

Reticências... Longa lacuna.

Estou bêbado da minha consciência. Agora há pouco a questionei e a felicitei por estar comigo nesses momentos racionais e fascinantes. Sou eu. Consigo me enxergar. Me sentir. Me apoderar de mim mesmo e alegrar o meu ser por ser eu mesmo e mais ninguém.

A letra mudou. Eu mudei. Estou sob o efeito do mais pungente sentimento de pertencimento ao corpo e à existência que habita nele. Os olhos regurgitam de palpitação apenas pela percepção de que estou aqui. E sou e sinto. E transpiro coisas boas e ruins. Mas o quê ou quem as definem?

Elas, as perguntas, ainda continuam firmes e fortes, e acredito piamente que sejam a minha constituição básica. Mas talvez você esteja se perguntando por que eu sou tão importante e escrevo tanto sobre mim. Não sou eu nem meus eus que vão te responder, pois eles não trazem explicações. Somente questionamentos latentes de uma alma errante, errada e redentora de suas próprias razões.

As características foram delineadas e compostas por densas beldades chamadas ardores e estertores do comichão que percorre o ser desde o calo do pé até os ferimentos da mente. Os dedos doem, mas a vontade segue galopante na sua luta contra o abatimento e a conformidade da vida.

O grupo talvez se desfaça e eu seja apenas eu. Mas a certeza prevalece. Não é a certeza de nada e o nada é arrematador. Ele te fere a fogo e joga as brasas para trás.

Lá no fundo de tuas abdicações terrestres.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Liberdade e Paraíso

A Liberdade é chegar ao Paraíso ou o Paraíso é chegar à Liberdade? A santidade está debaixo das minhas calças ou das suas? A auréola foi feita apenas para adornar ou tem um duplo sentido? A poluição está nas mentes ou ainda não conseguiu perfurá-las? As nomeações são importantes ou servem apenas para designar tediosos pódios e hierarquias?

A pergunta é uma forma de calar ou de espantar as explicações? Não o sei, por isso pergunto. Está claro que nada é tão clarividente a ponto de prever o futuro. Se ele é construído e desconstruído a cada dia, como podem ler minha mão e dizer que tropeçarei na esquina seguinte? Agora uma coisa é certa: eu sou capaz de ler o meu futuro. Você está rindo né? Não ria, eu aconselho. A eterna edificação do amanhã só depende de nós. As pessoas precisam perceber isso. Pra mim é uma coisa tão óbvia! E é preciso delatar também: muitas coisas nos impedem de enxergar. E a cegueira é triste.

A igreja.

As rimas podem ser feitas por todos. A poesia também. Bastam sensibilidade e atenção para o que é essencial. Aliás, o essencial e a essência são tão particulares que apenas uma mente pode descrever e instituir: isto é poesia para mim. A poesia nada mais é do que a descrição dos nossos ‘eus’. E não importa a forma com que ela seja expressa.

A irritação e mal-humor toldam os melhores sonhos e empobrecem o dia-a-dia, que não conseguem se tornar noite, pois é o preço que se paga: viver eternamente na intranqüilidade dos aflitos por nada. É tudo tão rápido e avassalador e nós, que somos uns bobos, achamos que está tudo tão lento. Nem a nossa justiça é lenta. Não é brincadeira. Falo sério.

O Brasil.

A mão esquerda tremelica. Está doida coitadinha. Eu hein!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Pequenos e grandes

Pequenos grandes momentos me roubam sorrisos inocentes, porém gostosos. Faça noite ou faça dia, estou sempre ligado na energia que emana do povo ao redor, ou de apenas um objeto que chame a atenção. É preciso estar atento para as simplicidades da vida. As grandes coisas podem e devem ser almejadas, mas as pequenas não serão esquecidas, pois elas não cobram tanto e retribuem muito mais.

A avalanche me toma e eu vou descendo junto com ela morro abaixo. Não há neve, apenas anseios que nunca são alcançados, apenas sonhados. Cansei. Uma atitude é preciso, urgente. Já. É preciso ter muita coragem para viver nesse mundo, é preciso ter culhões, mesmo que não seja fisicamente. Mesmo com todas as batalhas, ninguém o derruba de seu pedestal onde firmou bem os sonhos e os desejos.

Pode parecer bobagem, ciúmes talvez. Pessoas. Ah, as pessoas. Quanta complexidade, quantos sentimentos, emoções, digressões, reflexões. Ramificações. É uma grande rede de conexão onde quem ficar de fora perde a vez de ser feliz. Não pode ser deixado pra trás, não deve, não espera, não fortalece. A idéia ficou jogada como se fosse um mendigo que todos olham, mas ninguém enxerga mais.

A amargura é o pior estremecimento que pode haver, pois vai degringolando toda a estrutura que irradia de uma alma. Num repente já não há mais alma, apenas um amontoado de nada a circular por aí.

Por isso, continuo a acreditar que eu sou capaz de mudar o meu instinto. Não controlá-lo, mas sim domesticá-lo ao meu favor e da humanidade. Civilizado? Nem um pouco. Canso de dizer e esbravejar que necessito de desordem. De crises. Afinal de contas, o que seria de meus pensamentos se estivesse tudo na mais santa paz celestial?

Sabe de uma coisa? O céu deve ser um grandessíssimo tédio.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Encantado

Árvore. Natal. Luzes
Explosão. Fogo. Raios
Vazio. Deserto. Branco
Mar. Oceano. Chegada

Aparição. Virgem. Quente
Chuva. Pingos. Vendaval
Nove. Números. Navios
Redondo. Mundo. Galáxia

Príncipe. Esperança. Encantado
Luxúria. Cegueira. Gula
Fruta. Gostoso. Lembrança
Palavrão. Raiva. Descarrego

Pedido. Murmúrio. Lamento
Distração. Invertido. Viés
Sentidos. Imagem. Exploração
Dor. Feridas. Angústias

Degustação. Atenção. Suspiro
Final. Começo. Sílabas
Diagrama. Detenção. Emotivo
Caminho. Letra. Livro

Já! Férias...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O maior pecado


O maior pecado? Estou cometendo ainda. Faz mais de um mês que não boteco com minhas amigas especialíssimas. A rotina diária e maculada de ruídos estressantes está tomando todo o meu tempo. Ahhhhhhhhh. Isso é um pecado imenso. Ficar sem a presença de pessoas especiais por causa dessa loucura de vida rotineira! Não pode! Deveria ser crime na Constituição Brasileira!

Ó, estou tão sem tempo hoje que mal dá tempo de elaborar mais palavras. Ainda é segunda e a mente já pede descanso, mas sabe que a semana vai ser cansativa. E continuarei sem botecar. Faz tanto tempo, que nem sei mais o que é isso.

Dor nas juntas. Foram juntadas num só exemplo e a figura montada não lembrava nada, pois sou vazio se não tiver amigos por perto. Eles são a família que escolhi, como diz uma amiga também especial.

Um momento...

domingo, 19 de outubro de 2008

Sábado inédito

Foram todos exibidos naquela espécie de plástico branco. Criava-se ali um momento exclusivo e emocionante. Era o cinema na praça. Lacrimejando, meus olhos lembram-se daquelas cenas e ângulos em foco naquela noite nublada e com a chuva anunciando uma festa interrompida. Não foi o que aconteceu. São Pedro deve ter segurado um pouco o desabamento de suas lágrimas, ou talvez tenha se emocionado também e, por isso mesmo, tardou jogar seus pingos d’água sobre o povo.

Fico numa contradição só ao perceber que me faltam palavras para descrever aqueles instantes de comunhão e multiplicação de risadas, sonhos, olhares atentos e expectativas pelo próximo filme. As palmas pipocavam aqui e ali e as pipocas eram distribuídas gratuitamente. Ah, mas eu tô com vontade é de fazer poesia. Versos e mais versos. Poeta em construção ou a construção de um poeta? Talvez nem um nem outro. Apenas um homem querendo expressar seus mais íntimos desejos. Para si mesmo, principalmente, porque eu não posso me desgrudar de mim. Felizmente.

As arquibancadas? Não foram doadas
O escurinho? Foi proporcionado pela noite nublada e cálida
E os espectadores?
Muitos passavam por ali e se depararam com o diferente
O novo sendo mostrado e apresentado de forma tão simples e contundente
Resvalou nos olhares presentes
O reflexo das cenas fictícias e delatoras
Da realidade exacerbada na mente de cada um
Alguns bancos foram tomados rapidamente
Todos se acomodaram para viajar na tela, não tão gigante, mas quem liga?
José diz que depois de 28 anos poderá dizer que foi ao cinema no próprio bairro
Na hora incerta, todos aceitam o convite para embarcar
E seguem admirados pela tecnologia e acontecimento
Palmas e mais palmas reverenciam a projeção de sonhos
A projeção de imagens nas quais se identificam muitas vezes
Em outras tantas, é possível ver balõezinhos saindo de suas cabeças
Minha nossa, as pessoas estão sonhando acordadas!
Quem foi que disse que era proibido sonhar?
Quem foi que disse que era pouco ou quase nada?
Quem foi que disse que não era possível?
Quem foi que disse?
Com certeza, não foram aqueles espectadores
Pois estavam inebriados pela luz
E comovidos por perceberem, de repente
Que a vida deles é só deles
E o filme também.
Serão os próximos a serem projetados nas telas
A contar suas histórias...
E olhares.

sábado, 18 de outubro de 2008

Periferia, o filme

O filme transformado em realidade na periferia distante dessa cidade gigante, que agiganta e multiplica coisas boas e ruins, mais as ruins dos que as boas. Mas não importa. Sabe por quê? Porque a ficção já não é mais só ficção, está nas caras e olhares daqueles que mal percebem que estão participando de um momento inédito na história da vila. Eles serão lembrados no futuro, que ainda não se sabe ao certo se virá, mas é o fim que norteia nossas ações e também a falta delas. Mas não vai faltar não, não mesmo, pois enquanto tiver gente disposta a pôr a mão na massa, o sonho ainda se mantém, a vida ainda floresce nos recantos mais inacreditáveis.

[Continuo logo depois... Muitos acontecimentos e emoções estão por vir ainda hoje.]

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O disparo do desespero

O desespero é mero reflexo de decisões precipitadas ou tomadas tardiamente. A mente é um ser em si mesmo, não dando lugar a interferências autoritárias e sem pé nem cabeça. Linda como só ela, não admite que remexa tanto com sua condição de calmaria e ebulição. Esses dois sempre conseguiram conviver em harmonia, mas sem pressa nem desacordos com o tempo. Não é preciso bater a cabeça na parede, tudo entra nos seus conformes. Se for para entrar, claro.

A recepção de mensagens subliminares provoca certa apreensão e receio, mas nada como uma boa noite de sono e o belo café da mamãe para reconfortar as idéias e fazer surgir um novo entusiasmo, mesmo que a manhã esteja chuvosa e nublada. Às vezes penso que passamos tanto tempo preocupados em aprender coisas novas, que não notamos que a própria vida é um eterno aprendizado. Já ouviram falar em aprender a viver? Com certeza, sim. Mas aprender a viver de acordo com o quê? Com quem? Com que valores e regras?

No entanto, a figuração de uma existência nunca pode ser encarada como uma coisa menor, pois ela está presente em boa parte dos vôos diários e imprevisíveis alçados em direção ao futuro, que é agora e já não é mais. Impressões que ficam e que, ao se desgrudarem do campo imaterial, repelem todo tipo de benfeitoria e compreensão entre os seres humanos. É o fim. Do começo.

O meio foi raptado e levado para uma terra distante conhecida como “Devagar e sempre”. Pode rir. Isso não vai deixar menos real a história que foi contada naquela noite iluminada, não só pelas chamejantes luzes dos candeeiros, mas também pela infinita Lua. Os elementos foram buscados onde não se acreditava ter mais vida, apenas desesperança. Engano. Mais um dentre tantos dispostos fulminantemente ao longo dos trilhos tristonhos e tensos da vida.

O disparo já não comove mais. Está longe. As pessoas dizem que não tem nada a ver com isso. Nessa hora, o desejo de esganar o infame assassino surge em muitas mentes. O sentimento é humano. Mas amanhã outro e outro e mais outro morre. E continuamos a morrer, como se fôssemos nada.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Resfolegar

O corpo entra em polvorosa emoção. A chuva vem vindo e é daquelas hein. Vai lavar o espírito dos sujos e elevar a essência dos merecedores. Vai também acalentar os sonhos mais distantes. Sobe um tremendo arrepio por cada pêlo seu e tudo já é possível novamente. Sempre foi. Sempre esteve aqui. Não saí dos recantos da Bahia de todos os povos para nada. Eu quero tudo e mais um pouco. Construir minha própria história e ajudá-lo a construir a nossa. Em conjunto e em comunidade sempre.

Acredite. Essa palavra faz parte do meu vocabulário nos últimos tempos e não se desgruda nunca, nem naqueles domingos morosos e tristes. Nem nesses momentos eu deixei de acreditar no olhar, na vida, nas pessoas, no mundo. Sei que a juventude provoca borboletear diante das ações, das transformações. Mas então eu quero ser eternamente jovem, até meu último suspiro e resfolegar.

Os olhos lacrimejantes são de extrema alegria e contentamento por ver um sonho realizado, por presenciar um balançar especial das mentes, do bairro, da viela, do escadão, do beco, da praça, do parquinho e da pista de skate. A vontade é de sair correndo e colando cartazes para expressar a felicidade plena que senti por curtos momentos, quando tive vontade de apertar o pause do controle remoto e sonhar até dizer chega.

O sonho que se torna realidade e a realidade que se torna menos crua e começa a apresentar nuances e cores menos tímidas e mais provocativas. Tudo vai acontecendo e, de pronto, já está fincado no coração e na alma de todos os que estão na mesma ‘pegada’, na mesma crença. No mesmo barco. Não será possível, é muito forte para que alguém ou alguma coisa consiga apagar o fogo que queima aqui dentro.

Meus dedos, minhas mãos, meu nariz, meu rosto, minha boca e olhos, meus pés e pernas, meu corpo em forma humana, enfim. Ah, o coração e a mente também. Todos não esquecerão jamais toda essa experiência contundente e emocionante que eu vivo com você, com ele, ela, eles e elas. Está marcado historicamente e até onde a lembrança puder rever.

Um filme. É preciso. Urgente. Um filme. Registrar o decorrer do tempo e da nossa história.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Perversão e Luxúria

Ouviu um barulho de ronco e não se enganou: era seu estômago que roncava de fome depois de um dia estafante de trabalho na lavoura. A enxada provocava calos calamitosos em suas mãos, que mais pareciam uma parede sem reboco. O temor do amanhecer não foi capaz de fazer acomodá-lo na sua finitude de vontades.

Disseram que o humor é diretamente influenciado por aquilo que se come. E as pessoas que não comem ou só avistam um grãozinho de feijão de vez em quando? A chuva não se anunciava no céu ensolarado há mais de seis meses. Esse era o tempo das vacas magras. E das pessoas também. Subnutridas, esqueceram até o que é o prazer de comer.

Não é preciso caminhar muito longe, pois a disparidade e injustiça batem a porta, mais dia menos dia. Crescimento, melhor distribuição de renda. Tudo não passa de mais bananas jogadas aos que não esperavam nada mais, a não ser a triste realidade dura e crua e mal passada dos dias atuais.

Passou da conta e transbordou o copo de pinga. E em seguida entornou a boa idéia de fugir da crueldade impelida para cima de si como se fosse um furação enraivecido pelas burrices que imperam hoje em dia. O Brasil é o braseiro inflamado só em ocasiões muito especiais, disfarçado de fogos de artifício no ano novo repleto de coisas velhas e recobertas de ares de ineditismo.

O pessimismo é tratado como se fizesse parte apenas da imoralidade descomposta de despudor e perversão. Pois eu declaro [mesmo que a fogueira me espere lambendo os dedos em praça pública] que a libido é minha e a mente também. Então, o deleite pelo prazer intenso e carnal não será dispensado como se fosse nada, pois não é. É mentira. Apenas intriga da oposição mal-amada.

Pervertido e luxuriante. Eis a solução óbvia que proponho. E viva a vida!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Amigos típicos

Nos últimos dias meu inconsciente insiste em me colocar diante de despedidas. Os sonhos estão cada vez mais intensos e no outro dia eu lembro de pedaços, o que já é uma grande coisa. Pedaços de pessoas que partem, há muito tempo não vistas, não tocadas e não observadas com a doçura típica dos amigos mais especiais.

Se hoje fosse o último dia da existência humana, o que mais desejaria era botecar com as amigas no Zé. Os sonhos são muito loucos e quando me perseguem dessa forma durante todo o dia me faz ficar com a pulga atrás da orelha. Não é descabido não, eu os levo à sério. Mas é brincadeira como as coincidências não parecem ser coincidências se acompanhadas de um desejo íntimo, secreto e inconsciente.

O mormaço do dia infernal e tão abusado de quente fez com que tudo parecesse desabitado e morto. O silêncio provocou certo comichão e impaciência, pois denotava que lá fora as folhas estalavam ao ser queimadas pelos reflexos impiedosos do senhor Sol.

Masculino ou feminino? Não importa, o extremamente fundamental é a mente fincada no corpo, sem distinção de sexo.

Flexionando as pernas, sentiu e ouviu um ruído interno que reclamava do suor escorrendo pelas faces cheirosas pelo aroma do vento que cobria a pequena vila, destituída de políticos corruptos. Lá era o sonho, a utopia não tornada real. Não era sólida, era apenas uma indicação de inspiração contida em alguma essência espalhada por aí afora.

Durante o sono surgiram estas palavras. Dois pontos. Devem ter alguma ligação comigo e com hoje-ontem-amanhã também. Sei lá. Por via das dúvidas, elas estão aí. Porque aprendi, mesmo que tardiamente, que o amontoado de letras que formam palavras não deve ser reprimido nem minimizado. Então, estão aí de novo.

Fome. Famigerado. Factóide. Ficção. Facção. Faca. Fumegante. Fumaça. Furtado. Fraquejante. Fosco. Fundido. Fustigado. Fresco. Firula. Frutar. Florescer. Festar. Filmar. Fertilizar. Fracionar. Framboesa. Finalizar. Frangalhar. Frisar. Fósforo. Fogo. Facão. Fama. Forma. Fortaleza. Fissura. Frenético. Fogão. Fubá. Fosforescente. Fala. Formoso. Fé.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O reconhecimento

Por que eu não me basto? Por que sempre preciso de outro? Por que o vazio momentâneo não pode ser algo bom e aproveitável? Por que os porquês são tão desconcertantes? É preciso uma cara-metade ou apenas metade da cara para ser feliz? O raio de sol ilumina para todos ou é direcionado para aqueles que nasceram com o bumbum virado pra lua? Às vezes desconfio que os dois fizeram um pacto. Mas isso é bobagem da minha cabeça muito imaginativa.

O motivo de todos os questionamentos está nisso: o ser humano que eu sou ou que nós somos, invariavelmente, sem prerrogativas de saber e de possuir. Ninguém é dono de ninguém. É triste quem acha que a posse não será transferida, pois ela será. Tudo é provisório, passageiro e predestinadamente previsível. A crença de que a chegada está cada vez mais distante nos faz abrir um lampejo de felicidade a cada amanhecer, resolvidos a transformar o dia num belo realizar do sonho da noite anterior.

Interrupção necessária e rápida. Não chegou a cinco minutos no relógio atrasado.

A busca parece incansável, mas a minha paciência parece se esgotar assim como as árvores da Amazônia. Eu tenho pressa, o fôlego parece que acabará do dia pra noite. Não sei explicar muito bem, porque o tempo perdido parece cobrar mais ação, mais atividade, mais vida! E apesar da solidão, continuo a cantarolar ao ver sorrisos de crianças.

Como esse abrir de dentes me comove e arrepia até a superfície mais profunda da alma! É impressionante como o olhar pidão de amor me tira do lugar e faz estremecer todo o corpo. Sou nada diante de vocês, minhas belas crianças. Meu belo futuro será pintado por suas grandes realizações. O favor é feito por vocês, não por mim. Continuem a sorrir tão livre e despreocupadamente, pois dessa forma se alimentam de forças para seguir em frente, na lenta e cruel caminhada do crescimento rumo às grandes responsabilidades. Elas também são necessárias, mas vocês são ainda mais.

O meu sorriso ganhou um pouco mais de felicidade e o brilho nos olhos de vocês me fez crer em tudo o que há de mais naturalmente abrasador nos pequenos e singelos detalhes.

domingo, 12 de outubro de 2008

Famosos e o vazio

A fama impede que as pessoas olhem mais para as pequenas coisas. O nariz arrebita e os pequenos prazeres da vida nunca são alcançados. Porque a natureza está ali para ser admirada e reverenciada. Ela é tudo e comanda céus e horizontes. Também o canto dos pássaros e os dissabores necessários e enfáticos na hora de mostrar o que deve ser sonhado e revelado para a humanidade sebenta de velhos desejos.

Como o pensamento invade uma cabeça vazia e desabitada, foi a sua aparição impactante e impaciente, pois tinha pressa de se apresentar para todos, os quatro cantos do mundo tinham sede de ser ouvidos principalmente porque era extremamente inevitável escutar os lamentos e os gritos de felicidade plena de momentos não negados por nenhum ser visível e invisível, discreto e indiscreto, ousado e tímido, sem-vergonha e cheio de pudor. Penduricalhos numa árvore de natal na fogueira de São João.

O poder está nos infindáveis devaneios e veios artísticos. A vontade, mal percebem, é uma indispensável companheira nas soluções das moléstias e chagas disseminadas como pragas nos esqueletos dispostos aleatoriamente e sem nenhum cuidado. Capacitação é apenas um termo utilizado para o que deixou de ser realizado ou planejado. Capacitar a quê? Capacitar a quem? No Paraíso das virtudes, ergueu-se uma grande torre de mentiras e equívocos. Havia árvores do fruto proibido e delicioso. Hum... como era bom e extasiante.

A gente sabe o que nos contaram, mas há outras coisas que já nascemos sabendo. Seria o tal do instinto que sempre falam? Talvez. Mas eu queria chegar a outro assunto, que agora já fugiu completamente como o diabo foge da cruz em noites de lua cheia. Não precisou parar de caminhar para pensar no mundo que o rodeava e expandia para além das montanhas todas as suas ânsias por mais nascer do sol e dias iluminados pela luz própria que habita cada mente brilhante por existir independente e inconformada com a generalidade de estar.

Orientações para direções descabidas e distorcidas por interesses próprios e escusos. Não se trata de produzir, mas de transformar o nada em tudo e a inconsciência em projetos para o presente, que transformem os minutos seguintes, que ainda não chegam a ser futuro, mas almejam ser apenas o hoje destituído de preocupações com o ontem já perdido em sórdidas memórias que existem só para atormentar os corações burros e delineados pela energia e emoção, combustíveis esféricos e empacados na instituição física e psíquica de mim e de tudo.

sábado, 11 de outubro de 2008

Vida óbvia

São Paulos, São Joãos, São Beneditos, São Pedros, São Antônios. São de Nadas e suas imagens só remetem ao vazio que sinto quando vejo a intolerância exposta e, inacreditavelmente, disfarçada de amor ao próximo e compreensão exacerbada. Às vezes rio na cara da hipocrisia, mas em outras tantas me dá vontade de vomitar um tamanho enorme de excrementos e sujeira em cima dela, que parece se encolher imediatamente. Porque nessa hora eu sou Deus, o Deus de mim mesmo, que controla o que sou e o que vivo.

O veneno e o rato. O rato com seu veneno e o veneno de rato a esperar pela decisão fatídica. A decisão seria a derradeira tomada em anos de vida medíocre. Até chegar a esta conclusão trágica e sem volta não foi preciso pensar muito, nem dividir a ansiedade com ninguém, até porque não havia. Essa coisa é muito louca. O que deve passar na cabeça de um suicida? É preciso ter sangue frio ou quente? Não me entenda mal, não quero me juntar ao grupo, são apenas questionamentos de vida ou morte, duas preciosas palavras que nos atormentam sem descanso.

Os elementos estão todos aí e só falta a sagrada e indispensável sensibilidade para percebê-los e fundir todos juntos em divagações intermináveis da mente pura e sádica. É um infinito composto por estudos complexos que fogem ao entendimento rasteiro das implicações e conseqüências direcionadas para quem está desarmado e livre do tiro à queima roupa, resultado do acidente não evitado naquela tarde de céu negro como o breu.

Resmunga um sonzinho de uma música antiga e que esteve nas paradas de sucesso de muitas rádios. Devia ser época do saudoso vinil ainda. Como uma idéia súbita aflorou de repente, ela não se contentou com o fogão e o tanque e foi se emancipar para aqueles lados onde era mal-vista e rejeitada. Não se impressionou e se armou do mais discreto despudor e foi viver a vida que lhe fora negada duas décadas atrás. A escolha agora é ser livre e gozar os prazeres da carne e do mundo. Pobres daqueles que negam a vida e reprimem a felicidade que só eles podem criar.

O protagonismo da existência não deve ser menosprezado nem oferecido a outros, pois somos os atores de nossa própria encenação. Ou pelo menos, devemos ser. Benditos sejam os que descobriram esse dever básico e tão descaradamente óbvio.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O eu e a imagem

Ah, deu erro e já não estou com saco. Que raiva. Vou só escrever o essencial:

A imagem do eu é a mesma do tu? A figura retirada da fotografia é o que eu vejo no espelho todos os dias, ou apenas uma representação do que sou?

A idéia faz parte da imagem que tenho de mim mesmo? O julgamento ocular das pessoas é parecido ou totalmente diverso de como me vejo?

E quem não se vê? Como será que faz para criar as imagens e os desenhos? Das linhas e dos contornos já se sabe que são apenas linhas e contornos que delimitam até onde ver e até onde ir.

Ensandecido e fotografado discretamente, não parou na esquina e continuou analisando as caras desvairadas.

Fim. Talvez volte mais tarde. Mas a cabeça dói e o corpo pede arrego e sonha acordado com a cama quente e confortável que o espera daqui algumas horas.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O fascínio do livro

Outro dia senti o cheiro da minha biblioteca quando ainda era um garoto que sonhava em se reinventar e descobrir o mundo que havia lá fora. Dona Milla, a querida e apaixonante ‘dona’ da biblioteca, sempre me incentivava a ler, me sugeria livros e, de repente, já trocávamos figurinhas de autores e títulos. Tinha dia que não abria e eu voltava para casa com os livros que já havia devorado rapidamente.

Boas lembranças e um período muito importante, que guardo com carinho e teve sua parcela de contribuição no que sou-estou-faço hoje. Naquela época nem percebia o que acontecia, afinal de contas era o presente e agora já estou no futuro: só sentia um tremendo prazer ao abrir um novo livro e me deliciar com aquelas lindas palavras que me alegravam o espírito. Mas que espírito? O meu ué, você não o conhece? Sugiro conhecer. Ele é super gente boa. Às favas com a modéstia.

A aproximação com o outro tornou-se mais fácil, mesmo mergulhando em mundos paralelos e mágicos nunca antes visitados. Tenho a impressão de que essas ações e a troca de imaginações fazem parte de tudo o que escrevo, de tudo o que transformo em palavras dispersas e olhares contundentes. Mas eu tenho uma confissão a fazer: achava uma tremenda balela quando diziam que se podia viajar por esse mundão todo através dos livros. Não sabia como isso podia ser verdade e então aceitei o desafio e fui conferir de perto.

O caminho não teve volta e até hoje eu vivo e respiro livros, acima de tudo. Parece que estaciono quando não estou com nenhum livro na mochila, a transitar para lá e para cá com uma imensidão de idéias borbulhando, nas páginas e nas curvas da minha mente.

Agradecer à minha grande incentivadora já não posso, mas onde quer que esteja [o que é a morte? Alguém aí sabe?] ela deve saber que deixou um serzinho [EU] aqui na Terra e no barro cru que fez muito bom proveito do exemplo mostrado e do presente dado. A porta da biblioteca agora está sempre aberta e volta e meia o cheirinho [que deve ser de algum alvejante ou coisa do tipo] vêm a tona e invade a semente plantada há tantos anos atrás. Ah, nem faz tanto tempo assim. Mas é que minha relação com o tempo é diversa das demais. Depois explico isso melhor.

Às vezes, olho no espelho e vejo muito clara a imagem daquela criança em construção.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Uma casca de banana

Uma casca de banana. Já perceberam a profundeza que existe numa casca de banana? Experimente olhar fixamente para seus tons e nuances de cores e cheiros: é fenomenal. É claro que é preciso estar disposto a tudo, sem frescuras e com muita capacidade de imaginação. Mas vamos mudar de assunto, antes que os defensores dos chatos pudores reclamem ao Papa.

A maioria das vezes é composta de tudo o que não foi dito nem revelado e motivado por uma força interior astronômica e destrutiva que não deixa respirar nem adormecer por séculos a fio que desfia sem parar toda a teia disposta para os lados esquerdos das gerações passadas e descarnadas de amor próprio subjugado de infinitas possibilidades de olhares e sensações. Dê asas às palavras e veja onde você vai parar, ou melhor, não parar.

Descontrole e possessão. A água resplandecia diante da perplexidade que pairava em rostos disparatados e perdidos em belezas arriscadas e desnorteadas. Era tudo tão confuso que a própria ordem se fazia presente e dizia em altos brados que as fascinações do amanhecer dos dias diziam respeito apenas aos humanos cheios de alegria e respeito à vida.

Inveja é apenas a vontade disfarçada de podridão. A lama foi jogada no ventilador e o fedor se espalhou pela pequena sala lotada de armários e cadeiras e mais janelas do que portas, as quais não davam para nenhuma saída, apenas para outras muitas salas enfurnadas dentro de um prédio despossuído de calor vitalício e gelado.

O caminho de brasas se firmou de uma vez por todas a partir da encruzilhada com dezenas de direções. Era a escolha rindo na cara do destino. Ha-ha-ha...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Tédio e meditação

Aquele parece este dia em que tudo denota um marasmo tão tranqüilo e entediado que até o relógio se contorce de pavor das horas e do percorrer dos ponteiros, mesmo que eles existam apenas imaginariamente. Que saudade da presença física dos pobres ponteiros, que deixava mais clara a urgência das ações e o corre-corre de corpos se debatendo entre si nas ruas infestadas de piolhos e pestes. Eles estão nos lugares menos óbvios.

Despertou do sono dos justos e abriu os olhos para um dia ainda nublado e horripilantemente feio. Sua vontade era de voltar para a cama quentinha e aconchegante. Mas batiam lá fora na janela de forma insistente e insolente. Era a vida cobrando ação e mostrando que mesmo nos dias nublados é preciso levantar e ir debater-se nos cruzamentos empilhados de gente. Uma pessoa estava e andava em cima da outra porque não havia mais espaço. A Terra já era pequena e a viagem para outros planetas ainda não era acessível para todos.

Com os olhos lacrimejando de sono e cansaço, já não podia mais prestar atenção ao essencial do que pulava aqui e ali à sua frente e pedia clemência para que o deixassem em paz com sua melancolia. Queria meditar, meditar, meditar até o seu cérebro começar a ferver por dentro e fazer uma grande fogueira de São João. Mas já passou! E daí? Façamos outras festas, inventemos mais uma, afinal de contas a vida é uma festa e a festa representa a vida insaciável que há dentro de nós.

Tenho medo da auto-ajuda, das palavras de consolo, dos bons conselhos, dos falsos amigos, da maré cheia, do fogo abrasador do sol, do esplendor magnífico da natureza. Tudo isso porque sou só e pequeno, pequeno e despido de mim mesmo diante de julgamentos pérfidos e nojentos. A julgar pelos próprios julgadores o resultado do julgamento não poderia ser outro, mas apenas um só, dentre tantos outros sóis: foram condenados a trabalhos forçados até que conseguissem não apontar o dedo imundo para corações tão puros e leais à essência instalada ali desde os anos mais longínquos.

Falar é difícil, mais complicado ainda é ouvir. Nem todos têm esse dom, essa habilidade, esse arroubo de realização do imprevisto. Não é privilégio, é apenas sucesso daqueles que se propuseram a vencer barreiras que pareciam intransponíveis e puderam ver o mundo de outro ângulo, criando seu próprio panorama, se inserindo de uma vez por todas nesse universo abalável e inacabado de estações passageiras e sentimentos etéreos e eternos.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O poeta

A poesia é conquistada ou faz parte dos dons instintivos? O poeta é construído ou constrói a si mesmo? A lua cria o próprio brilho ou ela já nasceu assim? Tudo o que morre nasce de novo para depois morrer e seguir nascendo infinitamente? A ardência faz perceber o quanto há de carne naquilo que será engolido tão rapidamente pelos vermes sem dentes e sedentos de comida fraca e olhos frescos.

A alegria de estar presente e onisciente faz parte de um panorama mais radical e personalizado das vidas perecíveis prostradas diante de altares de boas e vãs promessas.

O cabelo molhado é tão palpável e macio que torna todo antídoto uma fórmula óbvia de renascença e descrença no que é reverberado pelos ouvidos surdos e cegos. As unhas, os dedos, os pêlos, os falares já correspondem ao que foi imaginado e rabiscado no grande caderno dos desenhos não-artísticos e humanisticamente rasgados em tiras toldadas pela escuridão do entardecer tempestuoso.

Eu falo coisas que nem se podiam prever anos atrás, eu penso sem nem saber que estou pensando, sorrio sem ao menos notar o movimento dos lábios em direção a uma sonora e contagiante gargalhada. Mas o mais importante: eu sinto coisas que até o coração duvida, de tão intenso e desabalado que é.

domingo, 5 de outubro de 2008

Sonho socialista, marxista, esquerdista e outros istas...

Um dia eu sonhei que já não conseguia mais me fazer ouvir. Gritava, gritava e discursava com velhos discursos daqueles que ainda têm esperança de mudar alguma coisa nesse mundo tão desconjuntado.

Sim, eu consegui lembrar no outro dia desse meu sonho. Curioso isso. Quase nunca lembro.

Aos meus pés se desenhava uma favela, essa, aquela, não, aquela outra, era uma favela, mas não tinha barracos de madeira, mas ainda assim era uma favela.

Favela, lugar de desprivilegiados, daqueles que nada esperam e de muitos que só esperam, mas que felizmente têm alguns que não esperam e vão à luta, que ainda acreditam na luta, e também no sorriso de uma criança.

Mas eu sonhei! Sonhei que perguntava à todos os moradores daquela favela o que faziam eles levantarem todos os dias para ir trabalhar, apesar de todas as dores, de todo o sofrimento.

“O que mantém vocês de pé ainda?” Não tive respostas, só lacunas, só surdez, só murmúrios.

Lamentos e gritos de acomodados, mas em algum canto, em alguma viela daquele lugar eu ainda pude ouvir um grito de alguém que queria mudar a situação do lugar, levar cultura, levar lazer, levar uma nova perspectiva para aquelas pessoas sem horizonte, esquecidas à própria sorte.

Não, não era época de eleições, não tinha nenhum oportunista segurando crianças no colo naquele momento. Era alguém que já tinha sofrido muito, e que transformou sua dor em luta, em arma contra a exclusão.

No fim do sonho, descobri que não gritava sozinho, que eu podia contar com alguém, que não era só eu que queria mudar o mundo.

A minha voz não estava sendo ouvida naquele momento, mas o grito daquele ser de uma viela qualquer de qualquer favela dessa imensidão de desespero estava sendo ouvido e reverberava nos ouvidos daqueles outros, que naquele momento passaram a tomar consciência pouco a pouco do seu papel e da sua importância para transformar a si próprio e o cenário ao redor.

O sonho não terminou. Continuei e continuo vivendo ele. Podem me chamar de socialista, protetor de pobres e oprimidos, reacionário, marxista, baderneiro, esquerdista.

Eu entendo a necessidade de se criar rótulos. Eu aceito todos eles. Contato que me deixem continuar sonhando com aquela voz transformadora, inquietante e conscientizadora.

E você, quer vir e ouvir comigo essa voz?

ps.: devaneios inspirados em algum tempo atrás [ou à frente] quando a sensibilidade esperançou grandes mudanças.

sábado, 4 de outubro de 2008

Hoje

Papéis e objetos que são apreendidos e observados com muita atenção e interesse nunca podem ser transmutados e traduzidos em emoções, pois eles são uma espécie de documentação e fazem parte das regras e obrigações impostas por nós e pelos outros. Ah, os outros, esses seres quase sempre inomináveis mas tão presentes quanto a ventania que bagunça nossos cabelos e nos tira de nossos corriqueiros e confortáveis lugares.

O auto-retrato foi composto por arroz, feijão e muita carne, muita carne. E também tinha ossos, tadinho, era tão magro, tão magro que todos pensavam que não havia comida em sua casa. Mas o que tinham a ver com isso também? Cada um por si e o famoso Deus por todos. Este é o consolo, espere sentado para não cansar e sempre haverá alguém fazendo por você, movendo as palhinhas, movendo as marionetes lá de cima. É isso aí, se conforme e não viva. Desperdice os poucos e frágeis anos que tem pela frente, afinal de contas, a vida foi feita para ser acorrentada, ou não?

O abandono é a pior das ações. Dos outros também, mas principalmente de si mesmo. Uma vez, vi uma mulher totalmente despida de seu próprio eu, de sua própria vontade, de suas próprias emoções e afetos. Ela era mais um ser andante por esse mundão perdido e perdedor de almas. Mas o que é a alma senão um amontoado de energias dispostas aleatoriamente num espaço físico que não se pode quantificar e delimitar?

O poder emana dos poros mais entupidos que possa existir. Pelo menos, era assim que ditava a velha utopia que costumava impregnar nas mentes mais esperançosas e sonhadoras. A diferença estava no porte ser legal ou não, permitido, liberado, atravancado ou comungado por meias palavras que não conseguiam transmitir o absurdo que é viver. Mas como é bom este absurdo, um dos absurdos mais lindos e intensos que já vi e senti.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Reencontros

O inesperado pode acontecer quando muito se espera, mesmo que seja inconscientemente. As pessoas passam muitas e muitas, mas depois elas podem voltar, de uma hora para outra, com muitas novidades, com novas vidas, experiências, sonhos, ideais.

O passado é estampado no velho rosto que significa toda uma amizade, um tempo com alegrias e desalentos. Realizações talvez, mas apesar de tudo essas pessoas ficaram de alguma forma, fizeram diferença. Quase ajudaram a ceder o silêncio que se abatia sobre a minha boca e emoções. Naquela época, o olhar era triste e vago, como tudo o que habitava no corpo. Porém, como ninguém consegue sobreviver assim como um gato sem dono, era preciso criar contentamentos.

Alguns contribuíram: uns com muito desajeitamento, outros sem saber ao certo que ação estabelecer para furar o bloqueio que havia. Muitos pensamentos passaram de relance, muitas lembranças voltaram à tona, mas o melhor mesmo foi perceber que o tempo é implacável e que ele não quer nem saber: ou você vive ou ele te engole com toda sua característica pressa.

Dedico estas palavras a tudo aquilo que já foi, mas que de certa forma ainda é, pois permanece alterável e suscetível às mudanças de anseios. Com seu desajeito engraçado e inocente, como se nunca tivesse deixado de ser criança, disse: “Li umas coisas do Dalai Lama e descobri que passamos muito tempo preocupados com o futuro e esquecemos de viver o presente”. Ao ouvir isto, lancei um olhar e comuniquei sem palavras toda a minha gratidão por compartilhar aquilo comigo.

Terno encontro e reencontro. Em cada um deles, a surpresa de descobrir uma nova faceta nunca antes explorada.

O destino são escolhas incessantes tomadas a cada piscar de olhos.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O caso das bolsas

Quem foi que trocou as bolsas? Quando? Foi um sonho? Não me lembro! A pergunta me martelou insistentemente no começo da tarde de hoje, mas até agora o enigma permanece tão misterioso e desconhecido quanto a face nunca vista nem tocada pelos mares e maresias de pecados contestados nos tribunais de excepcionais expurgos.

Um mundaréu de opiniões e opções se adensa velozmente, competindo com o desejo ininterrupto de dizer tudo aquilo que não foi dito, renegado às reprimendas bobas de um ser que sonhava ser elevado ao mais puro das moradas celestiais e desregradas.

Inconfesso. Essa palavra insistiu em sair desde o começo. Não pude mais segurá-la, conter a sua vontade própria de se criar e se jogar no mundo, de se transformar em algo concreto e passageiro. Porque ela nasceu e morreu ao mesmo tempo, num rápido instante que nenhum cronômetro de toda a face da Terra poderia captar.

Quantificar é separar através de baias tudo aquilo que pode ser misturado e devaneado em conjunto, em rodas, em cantigas. Em cirandas ficou ferozmente incandescido de luzes estelares e repentinas. Tudo era um repente estranho e desajeitado, um momento do não-momento, do não-tormento, do não-alento.

A frondosa fronte fresca fundiu-se ao fatal destino destampado do desejo dilacerado e endiabrado no corpanzil corcovado diante de dados e destinos. Cidade.

Ah, até o presente instante não faço a mínima idéia de como resolver o mistério das bolsas.