terça-feira, 7 de outubro de 2008

Tédio e meditação

Aquele parece este dia em que tudo denota um marasmo tão tranqüilo e entediado que até o relógio se contorce de pavor das horas e do percorrer dos ponteiros, mesmo que eles existam apenas imaginariamente. Que saudade da presença física dos pobres ponteiros, que deixava mais clara a urgência das ações e o corre-corre de corpos se debatendo entre si nas ruas infestadas de piolhos e pestes. Eles estão nos lugares menos óbvios.

Despertou do sono dos justos e abriu os olhos para um dia ainda nublado e horripilantemente feio. Sua vontade era de voltar para a cama quentinha e aconchegante. Mas batiam lá fora na janela de forma insistente e insolente. Era a vida cobrando ação e mostrando que mesmo nos dias nublados é preciso levantar e ir debater-se nos cruzamentos empilhados de gente. Uma pessoa estava e andava em cima da outra porque não havia mais espaço. A Terra já era pequena e a viagem para outros planetas ainda não era acessível para todos.

Com os olhos lacrimejando de sono e cansaço, já não podia mais prestar atenção ao essencial do que pulava aqui e ali à sua frente e pedia clemência para que o deixassem em paz com sua melancolia. Queria meditar, meditar, meditar até o seu cérebro começar a ferver por dentro e fazer uma grande fogueira de São João. Mas já passou! E daí? Façamos outras festas, inventemos mais uma, afinal de contas a vida é uma festa e a festa representa a vida insaciável que há dentro de nós.

Tenho medo da auto-ajuda, das palavras de consolo, dos bons conselhos, dos falsos amigos, da maré cheia, do fogo abrasador do sol, do esplendor magnífico da natureza. Tudo isso porque sou só e pequeno, pequeno e despido de mim mesmo diante de julgamentos pérfidos e nojentos. A julgar pelos próprios julgadores o resultado do julgamento não poderia ser outro, mas apenas um só, dentre tantos outros sóis: foram condenados a trabalhos forçados até que conseguissem não apontar o dedo imundo para corações tão puros e leais à essência instalada ali desde os anos mais longínquos.

Falar é difícil, mais complicado ainda é ouvir. Nem todos têm esse dom, essa habilidade, esse arroubo de realização do imprevisto. Não é privilégio, é apenas sucesso daqueles que se propuseram a vencer barreiras que pareciam intransponíveis e puderam ver o mundo de outro ângulo, criando seu próprio panorama, se inserindo de uma vez por todas nesse universo abalável e inacabado de estações passageiras e sentimentos etéreos e eternos.

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