Um dia eu sonhei que já não conseguia mais me fazer ouvir. Gritava, gritava e discursava com velhos discursos daqueles que ainda têm esperança de mudar alguma coisa nesse mundo tão desconjuntado.
Sim, eu consegui lembrar no outro dia desse meu sonho. Curioso isso. Quase nunca lembro.
Aos meus pés se desenhava uma favela, essa, aquela, não, aquela outra, era uma favela, mas não tinha barracos de madeira, mas ainda assim era uma favela.
Favela, lugar de desprivilegiados, daqueles que nada esperam e de muitos que só esperam, mas que felizmente têm alguns que não esperam e vão à luta, que ainda acreditam na luta, e também no sorriso de uma criança.
Mas eu sonhei! Sonhei que perguntava à todos os moradores daquela favela o que faziam eles levantarem todos os dias para ir trabalhar, apesar de todas as dores, de todo o sofrimento.
“O que mantém vocês de pé ainda?” Não tive respostas, só lacunas, só surdez, só murmúrios.
Lamentos e gritos de acomodados, mas em algum canto, em alguma viela daquele lugar eu ainda pude ouvir um grito de alguém que queria mudar a situação do lugar, levar cultura, levar lazer, levar uma nova perspectiva para aquelas pessoas sem horizonte, esquecidas à própria sorte.
Não, não era época de eleições, não tinha nenhum oportunista segurando crianças no colo naquele momento. Era alguém que já tinha sofrido muito, e que transformou sua dor em luta, em arma contra a exclusão.
No fim do sonho, descobri que não gritava sozinho, que eu podia contar com alguém, que não era só eu que queria mudar o mundo.
A minha voz não estava sendo ouvida naquele momento, mas o grito daquele ser de uma viela qualquer de qualquer favela dessa imensidão de desespero estava sendo ouvido e reverberava nos ouvidos daqueles outros, que naquele momento passaram a tomar consciência pouco a pouco do seu papel e da sua importância para transformar a si próprio e o cenário ao redor.
O sonho não terminou. Continuei e continuo vivendo ele. Podem me chamar de socialista, protetor de pobres e oprimidos, reacionário, marxista, baderneiro, esquerdista.
Eu entendo a necessidade de se criar rótulos. Eu aceito todos eles. Contato que me deixem continuar sonhando com aquela voz transformadora, inquietante e conscientizadora.
E você, quer vir e ouvir comigo essa voz?
ps.: devaneios inspirados em algum tempo atrás [ou à frente] quando a sensibilidade esperançou grandes mudanças.
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