quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Perversão e Luxúria

Ouviu um barulho de ronco e não se enganou: era seu estômago que roncava de fome depois de um dia estafante de trabalho na lavoura. A enxada provocava calos calamitosos em suas mãos, que mais pareciam uma parede sem reboco. O temor do amanhecer não foi capaz de fazer acomodá-lo na sua finitude de vontades.

Disseram que o humor é diretamente influenciado por aquilo que se come. E as pessoas que não comem ou só avistam um grãozinho de feijão de vez em quando? A chuva não se anunciava no céu ensolarado há mais de seis meses. Esse era o tempo das vacas magras. E das pessoas também. Subnutridas, esqueceram até o que é o prazer de comer.

Não é preciso caminhar muito longe, pois a disparidade e injustiça batem a porta, mais dia menos dia. Crescimento, melhor distribuição de renda. Tudo não passa de mais bananas jogadas aos que não esperavam nada mais, a não ser a triste realidade dura e crua e mal passada dos dias atuais.

Passou da conta e transbordou o copo de pinga. E em seguida entornou a boa idéia de fugir da crueldade impelida para cima de si como se fosse um furação enraivecido pelas burrices que imperam hoje em dia. O Brasil é o braseiro inflamado só em ocasiões muito especiais, disfarçado de fogos de artifício no ano novo repleto de coisas velhas e recobertas de ares de ineditismo.

O pessimismo é tratado como se fizesse parte apenas da imoralidade descomposta de despudor e perversão. Pois eu declaro [mesmo que a fogueira me espere lambendo os dedos em praça pública] que a libido é minha e a mente também. Então, o deleite pelo prazer intenso e carnal não será dispensado como se fosse nada, pois não é. É mentira. Apenas intriga da oposição mal-amada.

Pervertido e luxuriante. Eis a solução óbvia que proponho. E viva a vida!

Nenhum comentário: