Papéis e objetos que são apreendidos e observados com muita atenção e interesse nunca podem ser transmutados e traduzidos em emoções, pois eles são uma espécie de documentação e fazem parte das regras e obrigações impostas por nós e pelos outros. Ah, os outros, esses seres quase sempre inomináveis mas tão presentes quanto a ventania que bagunça nossos cabelos e nos tira de nossos corriqueiros e confortáveis lugares.
O auto-retrato foi composto por arroz, feijão e muita carne, muita carne. E também tinha ossos, tadinho, era tão magro, tão magro que todos pensavam que não havia comida em sua casa. Mas o que tinham a ver com isso também? Cada um por si e o famoso Deus por todos. Este é o consolo, espere sentado para não cansar e sempre haverá alguém fazendo por você, movendo as palhinhas, movendo as marionetes lá de cima. É isso aí, se conforme e não viva. Desperdice os poucos e frágeis anos que tem pela frente, afinal de contas, a vida foi feita para ser acorrentada, ou não?
O abandono é a pior das ações. Dos outros também, mas principalmente de si mesmo. Uma vez, vi uma mulher totalmente despida de seu próprio eu, de sua própria vontade, de suas próprias emoções e afetos. Ela era mais um ser andante por esse mundão perdido e perdedor de almas. Mas o que é a alma senão um amontoado de energias dispostas aleatoriamente num espaço físico que não se pode quantificar e delimitar?
O poder emana dos poros mais entupidos que possa existir. Pelo menos, era assim que ditava a velha utopia que costumava impregnar nas mentes mais esperançosas e sonhadoras. A diferença estava no porte ser legal ou não, permitido, liberado, atravancado ou comungado por meias palavras que não conseguiam transmitir o absurdo que é viver. Mas como é bom este absurdo, um dos absurdos mais lindos e intensos que já vi e senti.
sábado, 4 de outubro de 2008
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