domingo, 19 de outubro de 2008

Sábado inédito

Foram todos exibidos naquela espécie de plástico branco. Criava-se ali um momento exclusivo e emocionante. Era o cinema na praça. Lacrimejando, meus olhos lembram-se daquelas cenas e ângulos em foco naquela noite nublada e com a chuva anunciando uma festa interrompida. Não foi o que aconteceu. São Pedro deve ter segurado um pouco o desabamento de suas lágrimas, ou talvez tenha se emocionado também e, por isso mesmo, tardou jogar seus pingos d’água sobre o povo.

Fico numa contradição só ao perceber que me faltam palavras para descrever aqueles instantes de comunhão e multiplicação de risadas, sonhos, olhares atentos e expectativas pelo próximo filme. As palmas pipocavam aqui e ali e as pipocas eram distribuídas gratuitamente. Ah, mas eu tô com vontade é de fazer poesia. Versos e mais versos. Poeta em construção ou a construção de um poeta? Talvez nem um nem outro. Apenas um homem querendo expressar seus mais íntimos desejos. Para si mesmo, principalmente, porque eu não posso me desgrudar de mim. Felizmente.

As arquibancadas? Não foram doadas
O escurinho? Foi proporcionado pela noite nublada e cálida
E os espectadores?
Muitos passavam por ali e se depararam com o diferente
O novo sendo mostrado e apresentado de forma tão simples e contundente
Resvalou nos olhares presentes
O reflexo das cenas fictícias e delatoras
Da realidade exacerbada na mente de cada um
Alguns bancos foram tomados rapidamente
Todos se acomodaram para viajar na tela, não tão gigante, mas quem liga?
José diz que depois de 28 anos poderá dizer que foi ao cinema no próprio bairro
Na hora incerta, todos aceitam o convite para embarcar
E seguem admirados pela tecnologia e acontecimento
Palmas e mais palmas reverenciam a projeção de sonhos
A projeção de imagens nas quais se identificam muitas vezes
Em outras tantas, é possível ver balõezinhos saindo de suas cabeças
Minha nossa, as pessoas estão sonhando acordadas!
Quem foi que disse que era proibido sonhar?
Quem foi que disse que era pouco ou quase nada?
Quem foi que disse que não era possível?
Quem foi que disse?
Com certeza, não foram aqueles espectadores
Pois estavam inebriados pela luz
E comovidos por perceberem, de repente
Que a vida deles é só deles
E o filme também.
Serão os próximos a serem projetados nas telas
A contar suas histórias...
E olhares.

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