quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Passado o presente

Tudo parece que faz tanto tempo. O tempo não significa nada às vezes, sabia? Pelo menos para mim. Ele é apenas uma medida que de vez em quando não serve para medir nada. A medida é ditada pelas próprias ações no dia-a-dia. Ontem eu lembrei que faz tanto tempo que conheço algumas pessoas que até parece mais tempo. E me toquei: o que realmente importa são elas, são as pessoas que amo e que estão ao meu lado, que me mostram o que têm de melhor e de pior, que me mostram suas fraquezas e me revelam suas incongruências e sorrisos marotos. Depois de 2005, todos os anos parecem tão transformadores, tão diferentes uns dos outros, parecem que tiveram muito mais que 365 dias... muito mais. Tantas experiências. Tantas angústias. Tanto crescimento. É. Parece que eu corri atrás do prejuízo. Parece que eu vivi nos últimos cinco anos tudo o que eu sempre quis viver. Mas ainda quero mais. Afinal de contas essa é a lei da vida. Querer cada vez mais. Sair de mim e dos lugares comuns e voar para o mais alto dos sonhos, mesmo aqueles que parecem tão irrealizáveis. Não são. Acredite! Parece balela falar "apenas acredite!", mas não é não. Acreditar é o primeiro passo para se fazer algo de diferente e inovador nesta vida, para o bem ou para o mal. Mas se esforce para que seja a favor do bem - não aquele bem maquiado das novelas, mas o bem humano, o bem real -, porque o mal já está infectando demais este nosso mundo. Viajar e conhecer. Conhecer e propagar. Amar e enxergar. Ouvir e sorrir. São palavras que me revelam: vão estar mais presentes no próximo ano, que, sem dúvida alguma, será um ano de conquistas, de perdas, de emoções, de sensibilidades, de lutas, de suores, de desejos, de dúvidas. Sabe por quê? Porque quero me manter contraditório pro resto da vida. Quer coisa melhor do que isso? A contradição, ao contrário do que nos fazem acreditar, é mais benéfica do que maléfica. Então, viva a contradição. Viva a música, a arte, o ser humano. Eu ainda acredito nele.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

[des]Conectado

Até quem vive das palavras, quem não consegue viver sem elas, às vezes, sofre de um mal: não vêm quando mais queremos que elas apareçam, como um foguete sendo lançado à lua. Elas pirraçam e insistem em não dar o ar da graça. Mas não há outras formas de se manifestar? Mas é claro que há. Mas e se essas outras formas também não suprirem o poder de transbordamento do próprio eu? Recebi por e-mail algumas linhas de um amigo, que não se diz poeta, mas é sim! Ele fala sobre uma experiência transcendental que estamos vivendo em Perus, bairro periférico da zona noroeste de Sampa. Para entender o que estou falando, acesse Comunidade Cultural Quilombaque clicando aqui. Antes disso, leia seu relato:

"Desconectar
E logo eu que falo tanto, tenho tantas palavras.
Desisto, não consigo dizer qualquer uma que defina tudo isso que aconteceu, que está acontecendo, que as fotos mostram e tornam ainda maior minha impotência. Mesmo que fale por dias, semanas, meses a fio, sem parar, não conseguiria descrever, muito menos explicar. Tentei experimentar só sentir, não deu, o corpo ficou pequeno, transbordou. Compartilhei com mais pessoas, e mais, e mais, e mais, e mais, e mais...
Resolvi voltar à racionalidade, reforçada pelo pragmatismo, até pela filosofia, pela sociologia e pela poesia. Não dá, sempre transborda, escapa e volto pra lá.
Desisto. Não consigo explicar.
É... bem... enfim... ahh... deixa estar...
Vou me esconder no secreto blog de poesias do Silvinho!

Se ainda sei quem sou,

Soró"

domingo, 8 de novembro de 2009

Fel e mel

Que negócio é esse de alma gêmea? Não pode existir mais de uma? É tão complexo viver e sobreviver. Cada um com suas devidas [e indevidas] reservas, com seus receios e infinitas desculpas. São tantas que muitos se perdem em suas próprias mentiras. É por esse e tantos outros motivos que estou tentando exercitar diariamente a sinceridade. Por quê é tão difícil falar o óbvio? Por quê existem tantas coisas que nunca contamos? Por quê nos fechamos em nossas conchas, firmes e confiantes de que esse é o melhor para nós e para o outro? Não quero levar tantas coisas para o túmulo. Nem certezas, nem medos. Apenas uma viva vivida ao extremo, valorizada em cada sorriso e lágrima. Para o céu ou para o inferno? Se eles realmente existirem, que eu vá para o que for menos cômodo. Minh'alma inquieta quer seguir vagando, sem descanso. As pessoas aqui ao lado tentam olhar o que estou escrevendo agora. Será paranóia minha? Que sensação boa ouvir a voz de quem foi amado antigamente, nem tão antigamente assim, mas me parece que faz muito, mas muito tempo mesmo. Mas isso aconteceu no outro dia..
Hoje - mais precisamente agora - sinto que a solidão ainda não se estreitou nem se esgueirou por entre suas garras felinas. A persistência do coração não vai deixar que ela se aproxime muito. Não deixará que ela se torne perigosa e, ah, vai transformá-la rapidamente num monte de cinzas. Mas e sobre aquela alma que parece estar tão intrinsecamente ligada a mim? Por quê ela faz estas coisas? Por quê se faz de vítima e finge que todos têm que entendê-la? A compreensão deve partir dela, antes de mais nada. Isso me consome tanto... às vezes. Será que minha posição involuntária de apenas ouvir e ouvir está ajudando? Será que precisa ser ajudada? Será que um dia ela realmente vai ter noção do que é importante? De que seu coração merece ser mais bem tratado? Até quando? Me sinto triste por ela... Me corta o coração ver o sofrimento estampado em sua face. Nesses momentos, ela não é uma vítima. Ela é humana e quase idiota. Mas quem não está fadado à imbecilidade quando está amando, sobretudo quando o amado não está lá muito preocupado com atitudes imaturas e inconsequentes? É... amar é fel e mel, mesmo!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Fato consumido

A beleza de viver sem medos (isso é belo?) nos traz questionamentos que mal conseguem se levantar. A roupa da beleza nunca é tirada completamente, porque ela é feita de um material que até a própria natureza duvida. Mas se ela duvida, então como pode ser chamada de bela e maravilhosa por muitas bocas por aí? Outro dia perguntei à minha mãe se Deus era a natureza e se a natureza era Deus. Ela se calou e não soube responder. Não deu trela. A pergunta, apesar de estar carregada de provocação, também estava cheia de inocência de uma criança que começa a descobrir o mundo. Mas não era mais criança há muito tempo. No mais, esta é uma questão que se acende com certa frequência ultimamente aqui em minha caixola. 21 anos. A construção de mim e do mundo. Qual o grau de interferência minha nisso tudo? Será pelo menos uns 50 por cento? Não importa se as decisões são certas ou erradas, o que realmente importa é que elas foram tomadas. De assalto. O resto é consequência. É fato consumido e consumado!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sem máscaras

19 de outubro. Quase noite. Ao som de música clássica (estou tomando gosto por discos!), devaneio sobre as águas chuvosas que caem sobre o meu teto, telhado. Ter você ao lado me faz feliz sempre. Mesmo quando você não está presente. Mesmo que você ainda não exista. A felicidade é feita de fórmulas, mas nenhuma delas é lá muito eficaz. Então o que fazer? Olhe para frente e perceba (sinta!) o quão bela e renovadora é a brisa que bate em seu rosto. Estamos no topo do mundo. Observe as casinhas lá embaixo. Olhe só aquela estradinha no meio da imensidão da floresta. Que nostálgico! Que campestre! Que pureza! Consigo até ver a cor do ar. Instantes degustados até o último suspiro. Tragados sem estragos. A fantasia não escondeu ninguém. Pelo contrário! Revelou ainda mais a sintonia de almas e a felicidade dos encontros certeiros. Os amigos estão aqui. Não do lado esquerdo do peito, mas no dia e no espaço de hoje. Não mais do que isso. Quero hoje e somente hoje, pois o amanhã é apenas uma invenção da mente humana. Só se É uma vez na vida. Então porque perder tempo com teias de aranha que não levam a nada? Que não revelam ninguém? Revele o que há de mais singelo aí dentro. O resto é uma reles consequência do meu e do seu ato. Ate-se a mim. A ele. A ela. A nós. A todos. Ate suas mãos. Ate seus pés. Só não ate sua alma e seus ideais. Eles jamais poderão ser encarcerados.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um sol encarnado

Ainda bem que inventaram as palavras. Bendito! Se não fossem elas, como eu sobreviveria? Respiraria? Enxergaria o mundo? Será? Como colocaria estes meus anseios e insatisfações para fora, pela janela, pela porta, pelas escadas, pelas ruas? Como vomitaria minhas dores banhadas de sangue? Como seria? Eu seria alguma coisa? Algum humano? Algum bicho pensante? Os gambés entram aqui agora e se mostram revestidos de ordem. Mas que ordem mais desordenada e cruel!

Como bom canceriano, não jogo para fora toda a água contida aqui nos meus culhões (sim, porque eu os tenho!). Ela fica aqui. As palavras também. Muitas, mas muitas vezes mesmo, não saem. Elas ficam aqui borbulhando e me fazendo muito mal. Muitos deveriam ouvir estas palavras... Mas quem sabe aprendo isso qualquer dia desses... Procuro não ter tanta pressa assim. No entanto, me orgulho de não ser capaz de rir com o corpo e chorar com a alma. Pior? Não é a pior. A minha dor é do tamanho que eu quero!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Viajando por 1984

Eu estou aqui dentro da televisão, compreendendo como eles fazem para nos manipular. É tão sutil, que passa desapercebido. É uma das melhores formas de manipulação. A outra melhor forma é a igreja e suas falácias jogadas ao vento. Eu não me sinto aqui. Não mesmo. Como pude vir neste corpo e nesta vida? Neste período? Parece que vim da Lua. Um lunático? Não. Acho que é de Marte. Então eu sou um marciano. Não, mas é sério. Deixa eu voltar para aquela história anterior. Eu vinha andando pela rua de cima da minha casa, que é a avenida principal. Aí desde logo percebi como o sistema era esperto e vil. Todos, naquela noite de quarta-feira, estavam voltando para casa de mais um dia inteiro de trabalho, cansaço e exploração. Todos vão levantar logo pela manhã, bem cedinho. Parênteses: e a minupulação continua aqui na tela da TV do meu quarto. É um mundo de 1984, previsto por Orwell há muito tempo atrás. Ele foi um visionário! Olhe para cima quando estiver no elevador. Olhe para o número do seu documento denunciando que você é mais um número. Olhe para o seu ir e vir sem fim e sem sentido? Olhe, eu lhe faço o convite. Você está ouvindo o que digo? Está? Não sei, mas continue dizendo, agora já sou outro. Mas esse outro já está cansado. Com fome. Hummmm. Ele precisa comer. Agora e não mais que agora. Ah, eu também preciso tomar um banho. É sério agora, os punhos começam a fingir que vão doer. Adeus. Adeus. Até algum dia desses.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Mente solidão

Mentes solitárias. Caminhando pelas ruas desse lugar indecifrável vi e vivi momentos tão meus que jamais poderia prever que eles viessem tão desajustados e cruéis como uma navalha na carne do olho. Para lá e para cá, os questionamentos se avolumavam, velozes e vis. A parafernália distinguida logo a frente, ao longe não significava muita coisa. Aquela pessoa viajante e em brisa permanente despertou em mim mais do que compaixão, porque ela estava ali, mas já não pertencia a este mundo. A ressurreição só depende dela. Vai mudar? Vai conseguir? Não sei julgar. Nem posso. Só ela tem as respostas, mesmo que ainda não tenha percebido sua força interior. Espero que haja tempo. As igrejas envolvem multidões e vão espalhando suas redes por cada beco, cada esquina e cada boteco que fica logo ao lado. Vi as luzes da lona do circo brilhando ao longe e novas emoções se remexeram e se inquietaram por aqui. Um suspiro e outro, e mais outro. Logo pegarei no sono. Logo começarei a devanear sobre o que não me arrisco a pensar quando estou de olhos bem abertos. E de repente, não mais que de repente, surge a certeza da felicidade momentânea: os meus espaços, horários, olhares, sensações, visões, sentidos, texturas e meu corpo são todos meus. Meu!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Guarda-chuva

Por que quando a idade vai chegando, as pessoas saem de casa com o guarda-chuva na bolsa, mesmo com um sol de rachar a cuca? Faz tempo. Não sei mais quem sou. Não sei mais que faço. Eu sei, sim! Dormir. Escrever. Ouvir. Pensar. Estratégia. Não quero parar de sonhar esse sonho bom, no quilombo urbano. Jamais. Nunca. Jamais. Família unida com o ideal de transcender a própria existência. Minha grande crise era a ideia de passar por aqui sem ter feito algo realmente relevante. Agora, essa dúvida passa longe dos pensamentos. Aquele senhor me disse uma vez que eu seria o homem mais feliz do mundo. E não é que ele acertou? Só por hoje, só agora, só no momento presente. Só as relações sedimentadas no amor fraterno é que me interessam. Como diz o grande poeta Lenine: "Quando eu olhar pro lado, eu quero estar cercado só de quem me interessa". A tempestade cai lá fora, e a minha mente se traveste de cada gota e pedra de granizo que perfura as cabeças andantes e atingem, como se fosse um torpedo, as ideias de progresso. Nenhum dia é igual ao outro. E era isso que buscava. Sensação de deja vu. Será que já vivi isso quando era outra pessoa em outra era? O bigodinho provocante chamou a atenção, mas a boca escancarada e a timidez de não saber onde pôr as mãos levou tudo por água abaixo. O que eu esperava? Senti como se as cataratas do Iguaçu desabassem como pesadas correntes em meu corpo. Mas não recuso a experiência. Nunca. Jamais. O olhar - novamente e somente ele! - ficou gravado e foi tema do primeiro pensamento do dia. Às vezes dá vontade de ser um pouco menos coração. Mas se fosse assim não seria eu, não estaria aqui. Não seria essência, não teria cheiro. Não teria razão. A lógica se desconcertaria e eu não habitaria mais em mim mesmo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sinfonias do Reino Unido

Uma conspiração. Um valor jogado no lixo. O mundo abre os olhos e esquece de descansá-los. Mal olha para a lua. Para os pés de galinha que surgem na face atrevida de quem sempre sonhou com novas janelas, resplandecentes e carregadas de futuro. É tão surreal viver. Você nunca vai saber se aqui é realmente tudo isso que pensa que é, que faz você diferente. O piano e suas teclas intercaladas promovem e movem uma tempestade de lacunas, dúvidas e desejos. Elas também fazem respirar aquele distúrbio vivido em anos passados. Evolução desde o óvulo. Quando comecei a escolher, não sei. Também não faço ideia de como seria o seio da família sem os atrevimentos e utopias justificáveis aqui em mim. Queria apenas uma orquestra para me fazer um concerto. Um dia. Com todos os tons. As lágrimas. Os sorrisos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Poemas soltos

O batuque ferve o desejo
Insaciável quando questionado
Com o dedo em riste cheio de malandragem
Aquela mesma que aprendi desde sempre
Desde que me conheço por um humano
Habitável e incompleto. Agora.
Diante da ladeira, capenga, íngreme
Como o meu coração quando é cutucado
Com vara curta. O sabor da música
Veloz, correndo por entre as veias
Solícitas, cardíacas, cheias de desfaçatez.
E sua tez? De que cor é?
Só consigo sentir a pele incandescente
Que queima junto a minha e se confunde
E nos confunde. E nos norteia.
E nos deixa bobos, como se um abacaxi
Estivesse pendurado. Na cabeça.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Lar para uma criança

Um turbilhão de pássaros com asas frenéticas invade o imaginário destas mãos sôfregas e sedentas por escritos e mais escritos. A movimentação costeira, com suas ondas gigantes, me leva para o universo onde sempre pretendi estar. Sentir o cheiro da relva molhada. Viver as aventuras daqueles livros que lia quando ainda estava na escola. Tudo isso me toma de assalto, mostrando que hoje é o dia para olhar para dentro do eu desconjuntado e regenerado a cada piscar de um ou outro par de olhos esbugalhados diante do mistério do nascer do dia e do clarear da lua. Um novo lar foi dado àquela criança. Será que ela vai se adaptar? Quanto tempo ficará por ali? Os pais - se realmente a amam - vão continuar a visitá-la? Ou vão esquecê-la à sua própria sorte? Será que eles não entendem que talvez ela precisasse só de uma dose maior de amor? Que talvez ela precisasse de um tratamento intensivo de carinho e cuidado? Ela também já tem suas responsabilidades, mas ainda é uma criança que está se tornando uma mocinha. Que está se dando conta, aos poucos, que a infância está ficando para trás e que nunca mais retornará. Será que não conseguem entender? É tão claro como a água do rio em dia de chuva fininha. Torço para que ela fique bem. Para que ela consiga encontrar um aconchego melhor do que tinha, mesmo com todas as regras e obstáculos que terá de enfrentar. Torço também para que seja um aprendizado mútuo e que o sofrimento se amenize no coração daquela mulher que um dia sonhou construir uma família feliz para sempre. Enquanto isso, continuo a ouvir os pássaros cantarem lá fora. Hoje eles estão demais! É tão estranho - mas ao mesmo tempo recompensador - ouví-los enquanto o mundo se agita lá fora na correria por mais um pão de cada dia. É tão cruel todo esse esquema. Eu só queria prestar atenção em coisas que ninguém - ou quase ninguém - bota reparo. Eu só queria olhar... e refletir sobre o mundo. Tarefa nem um pouco fácil. Mas quem foi que disse que seria fácil? Eu prefiro os desafios! Cheios de desejos e crenças inalienáveis.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A danada cheia de desfaçatez

Voltei pra casa pensando sobre ela. Foi um lampejo. E ela logo me apareceu em forma de ideia e pensamento. E logo ela se concretizou. Soube que uma amiga de umas primas havia partido dessa pra melhor (pra melhor?). Antes eu tinha pensado: a hora da morte deve ser gostosa e prazerosa, porque não deve ser o fim, deve ser apenas mais uma etapa da vida. Sim, mas é preciso viver para sentir este prazer. Se não aproveitar os momentos sob o sol escaldante ou sob a chuva torrencial, você não saberá nunca como é esta sensação. Eu não sei. Você não sabe. Só o morto sabe. Pois "quem morre é o último a saber". Ou o primeiro? É nessas horas que penso em marionetes. Quem nos controla? Quem decide se é hoje ou amanhã, ou depois? Estou fazendo cada instante valer à pena. O tempo urge e o relógio me apressa em direção às ações que são estritamente necessárias. Para quê? Por quê? São perguntas que devemos responder ao longo da estrada, sem olhar pra trás, sem pestanejar, transformando o medo em força, e a força em transformação. É preciso mudar sempre. Não quero morrer como vim ao mundo. A menos que seja despido pedindo carona para mim mesmo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Carência tênue

Escrever. Tela. Centrar. Umbigo. Hoje sou aqui. Amanhã o Deus vai esquecer de mim. E até eu vou me esquecer de ser. Vegetais. Cavalo voando e interceptando outras vidas pelo caminho. A beleza saltou diante de mim. Em mim. Olhei no espelho e descobri que ela estava ali, escondida em algum canto. Preciso do meu tempo. Conversar comigo mesmo. É um processo tão doloroso, mas eu tenho que passar por ele. E este é o momento. Quando a solidão ataca sem dó, eu me despeço até dos meus valores mais retrógrados e me entrego e não sei mais em que esquina me encontrarei. O berimbau soa com toda a sua ancestralidade, que vem à tona aqui em minhas memórias de outras vidas. Um ser iluminado? Quem disse? Será eu? Estou na busca. Algum instante encontrarei pela frente. Que console essa dor solitária e tão pungente. Outra visão da vida: observo tudo por outros ângulos, até eu mesmo refletido na água do rio. Será isso que chamam de maturidade? Então que ela venha com toda força, mas que ela nunca me canse diante das injustiças mundanas, nem desvaneça o jovem e a criança que habitam aqui dentro desde os tempos remotos. Desde os tempos...

Um suspiro. 25 de agosto de 2009. É, agosto está indo embora... Acho que nenhuma catástrofe conseguiu se materializar. Ufa!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Explodindo

A minha bexiga tenta explodir como uma dinamite. Eu odeio me sentir como uma bola no escanteio. Eu realmente lamento quando me sinto usado. Mas não só lamento. Viro as costas e saio andando. Agora me lembro de algumas palavras que ouvi enquanto atravessava aquela passarela mal-iluminada: "Eu tô procurando um bagulho. Eu tô virado no demônio". Você pensa que aquilo me arrepiou? Imagina. Eu preciso de muito mais do que isso. Muito, muito mais. O coração está confuso. E o que sou sem o meu coração? Nada? Nada! Dá vontade de chorar. Mudando o mundo daquele meu irmãozinho ali. Um reconhecimento de uma criança. Mudou a minha vida hoje. Eu tenho certeza que mudei, de alguma forma, sua vida ontem. A pimenta arde. O chicote estrala. A praça está efervescente. Uma enchente. Uma avalanche. Eu quero o discernimento. Não pra dizer o que é, mas pra dizer o que não quero. Olhe no meu olho, sempre. Não olhe para a esquerda. Olhe aqui dentro e me responda: consegue sustentar? Então vem e segura! Quando eu tenho vontade? Quando ela vem? Preciso de um papel logo aqui para escrever, escrever, escrever e escrever mais um pouco. Você não entende. Mas eu preciso registrar tudo isso aqui. Até o último suspiro. Até o último fôlego. Quando será o último? Não sei. Mas suspeito, desde o nascimento, que será logo menos. Rapidamente. Sem dor. Sem estertor. Sem lamentos. Sem velas. Sem você. Coloco a música pra tocar de novo. A mente é o mundo. O mundo é a mente. Reconhece? Então pode soprar lobo mau, porque eu estou aqui de novo. E aí?

E aí?

As reticências pedem para aparecer. Pedem para serem escritas... Querem ir te procurar. Em quem acreditar? Em você mesmo? Será que você pode? São tantas interrogações que as respostas se fecham em si mesmas, sem saber quem são.

Você sabe? Você faz? Você é?

Eu estou. E você?

sábado, 15 de agosto de 2009

Não desvie de mim

Minha mãe me fez assim. Meu pai também. Olhos, boca, nariz. Quem sou e para quê sou? Para onde estou indo nessa caminhada veloz? A multidão me envolve. Sinto vontade de escrever nos peixes. Eles estão em polvorosa com as palmas dispensadas. Ridículo. Sou só eu e eu mesmo no ridículo do dia-a-dia. Do inexplicável. Do inesperado. Do nada.

Não faça isso, meu querido. Não desvie o olhar desta forma. É você quem está me ensinando a sustentar o olhar e invadir as almas alheias sem permissão. Não desvie de mim, mesmo quando tomar o teu rumo. Não desvie. Mesmo quando se perder. Não desvie. Não se perca. Não se conforme. Não se submeta. Faça o que tiver de ser feito...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Escute, depois diga

Tenho tanto a dizer. Você consegue perceber? Não, às vezes você não consegue. Você fala, fala, fala e esquece que eu ainda tenho muito a dizer. E preciso dizer rápido. Ponderadamente, é claro, mas rápido. O tempo é curto. A passagem é estreita e veloz como o vento. Não sei até quando terei ouvidos. Não sei até quando terei bocas. Só sei que terei amigos que andam sempre comigo e me olham no fundo dos olhos, sem piscar, sem desviar a atenção, sem pestanejar. Para todos esses eu só tenho uma coisa a dizer: venero vocês. Não se considere privilegiado por isso. Sabe por quê? Porque eu sou eu e ninguém mais. Nem mais, nem menos, nem igual. Eu sou o inesperado que esqueceu de acontecer. O instante que já passou. O vagalume que pisca frenético em busca da sua luz mais ofuscante. A compreensão que não busca mais ser compreendida nem aceita, apenas respeitada. Me ouça. Reserve seus ouvidos ao menos uma vez para mim. Você vai sentir, lá no fundo, tão contundente quanto a lança afiada que percorre as veias em noites de euforia alcóolica, que eu estou aqui e tenho uma voz que clama por atenção. Talvez eu não consiga. Talvez você não consiga. Mas o que faz de cada um de nós diferentes é a vontade de se tornar um outro dentro de nós mesmos. Nos metamorfosear diversas vezes durante minutos fugazes. Sentir a brevidade da vida. Sinta isso de uma vez por todas, agora! Me ouça. Ao menos uma vez na vida... Ela é curta. Ela é finita. Mas o meu eu ainda continuará vagando por aí por anos a fio, sem descanço, porque eu não sou daqui, nem daí. Sou apenas de mim mesmo e nada mais.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Arquivado sem aviso

O rato correu velozmente com toda a sua desfaçatez pelos córregos e becos. Ele tinha uma arma na mão. Eu corria atrás dele. Tentava espremê-lo com um cabo de vassoura. Mas era pouco para toda a sua maldade personificada naqueles enormes olhos vermelhos de sangue odioso. Um corpo estava estirado logo atrás, com dois tiros que perfuraram a sua vida. Ele foi levado para o inexistente, para o nada. O dinheiro roubado não terá outra serventia que não o da degradação perene daquele corpo que empunhou a arma e atirou a queima-roupa. Quanto vale a sua vida? Quanto vale a minha vida? Quanto vale míseros trocados pelos quais lutamos um mês inteiro, passando por situações humilhantes, vivendo uma escravidão mascarada e imunda? Há momentos que você sente vergonha de ser humano e compartilhar desse carma com o outro, que tem coragem (coragem não, covardia) de fazer o que fez. A polícia só fez a cena, só fez o seu papel: nada! Um helicóptero sobrevoou a região. E nada. Só cena. Só choro. Só vela. Quando isso irá mudar? Conseguiram reanimar aquele corpo estirado ali no chão de concreto em plena luz do dia. Mas até quando? Ele foi reanimado, mas já não estava mais vivo. Decidiram por ele que era a hora de partir...

domingo, 2 de agosto de 2009

O refúgio

É preciso voltar sempre atrás e mudar de opinião. Não totalmente. Parcialmente talvez. É preciso viver cada instante depois do outro, sem medo de ferir ou chocar o que está logo ao lado. A música toca e a vida segue adiante, sem pestanejar, sem vacilar, sem perguntas, sem respostas. Saudade dos velhos amigos? É claro que bate! Mas e o que eu estou vivendo agora? Não se pode jogar pela janela. É aprendizado! Dia após dia! Olhar após olhar! Ação após ação! É minha vida! É amor. É tambor. É mudança. É a saída. É o refúgio.

Olho para minha cama e vejo um filme passando. Ele não é linear. E muito menos ficção. É um filme da vida real. A realidade que eu vivo. Não aquela realidade que eu almejo. É a transcendência do meu eu para o seu eu e para todos os eus que estão a sua volta. A percepção está mais apurada, mesmo que existam críticas que te levam a refletir sobre tudo o que está acontecendo. A visão diferenciada do lugar onde vivo e do lugar onde sou é um passo sem igual para o sucesso de um ser humano que só veio aqui buscar um pouquinho mais de compreensão, mesmo aquela compreensão que poucos compreendem.

É hoje. É agora. É amanhã. Porque amanhã nunca mais será igual ao ontem. Eu juro e prometo. Tudo ao mesmo tempo e agora.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Samba nos neurônios

A felicidade, atrevida, meteu o pé na porta e entrou. E o corpo pensou: "eu sou habitado apenas por coisas boas, e é por isso que as coisas boas sempre tornam a mim". Os olhares, os gestos. E sobretudo os ouvidos são parte essencial do processo de viver o dia-a-dia e os encontros inesperados e rotineiros. Em outra dimensão, eu olhei para mim mesmo e percebi o poder que abrigava. Eu não tinha noção, talvez porque não o saberia usar no instante da surpresa. Mas hoje a consciência grita de alegria (daquelas que até dói) e revela que já sabe quem é e que está tão livre quanto o pequeno passarinho naquela árvore cheia de flores cor-de-rosa. Dizem que a cigarra morre quando canta. E eu vou morrer se não sair agora sambando por esta sala imensa, festejando o dia que passou como se o penúltimo. Porque o último não serve pra nada. O que importa mesmo é o penúltimo. O primordial mesmo é viver sempre nos minutos penúltimos. (Êta que palavra engraçada: penúltimo. Tenta falar ela sem parar e bem rápido. Você vai ser obrigado a concordar comigo!) E com quem eu falo? Para onde quero ir? Onde estou agora aqui ali acolá falando estas palavras que talvez tenham um significado superior ou simplesmente signifiquem apenas traços fictícios e digitais. Eu só quero que esta minha irmãnzinha (I Love You Forever) fique bem e seja feliz o tanto que merece. Nem menos, nem mais. Só o tanto que ela realmente merece. Ela até podia aguentar um tanto mais, mas é melhor dar somente o necessário. Sem exageros. Porque exagerar não consta em seu vocabulário. Sabe por quê? Porque ela é simplesmente ela, sem acompanhamentos e sem máscaras. Eu vejo seu sorriso estampado no rosto, mesmo quando ele não existe fisicamente. Será que vejo sua alma? Será que sinto sua alma? Entrelaçadas, todas elas estão entrelaçadas. Sossega, minha irmãnzinha! Por um instante pensei pertencer e existir em outro corpo, que nunca vi antes.

Só queria um mar, uma cerveja gelada e um amor logo ao lado.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A certeza

Eu queria morrer escrevendo. Escrevendo loucamente até sentir o sangue parar de correr nas veias das mãos. É esse o meu único desejo. Agora e sempre. A única certeza que carrego aqui comigo. O resto é amor, muitas vezes dissimulado e não sincero. Mas o abraço verdadeiro logo me faz sentir que eu faço parte disso aqui...

Aquele cenário me fez refletir sobre a vida. Sobre a condição humana. Sobre não ser nada e pensar em ser tudo ao mesmo tempo. Em pensar que ontem o desânimo se abateu sobre aquele pobre homem que perdeu todo o seu dinheiro na cachaça. Esta é apenas a desculpa para a destruição de corpos, famílias e relacionamentos. Não há nada mais terrível do que isso, por que ela parece normal, mas não é. Todos ali estão eufóricos. Correndo para fugir do precipício que se agiganta diante de cada um. A corrida é cruel. É nefasta. As barracas de pinga estão uma ao lado da outra, cumprindo o seu rigoroso papel: não deixar um só escapar. Ninguém. Nem mesmo o mais desavisado que passe por ali com seu guarda-chuva em dia de tempestade.

A tempestade um dia não será mais de água, mas de aguardente.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Madrugadas

Eu comi a carne. E ouço pingos de chuva no telhado. Quem será? O meu é de vidro! E o seu é derretido? Não, é como sabão. Parênteses: me sinto conversando comigo mesmo e ainda por cima sendo observado por um terceiro, que não passa de uma tremenda alucinação. As palavras pedem para dizer que elas se engalfinharam. Não sobrou uma viva para contar a história? E como seria sem elas? Não me sinto dono das minhas mãos agora. A direita está doendo. Pára! Esquizofrenia. Não é a primeira vez que salta por aqui esta ideia. Fico ouvindo sons dos meus neurônios e me sinto transcendendo outra galáxia. Será que sou de lá? Mas eu faço questão de ser por aqui mesmo. Esplêndido. Isso resume bem os meus últimos dias. Após leve desânimo, muito aprendizado e progresso. De almas, não de status. E os neurônios continuam frenéticos. Sou daqueles que ficam lentões e acelerados, além de gargalhante e gargalhado, depois disso aqui. Cada hora parece uma letra e uma pessoa. Veja isto. Vêm memórias de letras de colegas de escola esquecidos há muito, muito tempo. Imagino a vaca mugindo no pasto e fugindo, horrorizada, de mim. Deve ter algum motivo, não é? Afinal de contas, sou o seu maior predador. A vida é da boa e o meu amigo disse, como num estampido: "Tamo na vida é pra se fudê!" Não sei, acho que vou dormir... e tentar descobrir qual deles EU SOU.

Um dia não está sendo igual ao outro. Era isso que eu buscava.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

É preciso!

Talvez eu nem saiba. Talvez você nem saiba. É tarde da noite. Você está vivendo? Eu estou! E os olhares? Às favas! Eu não vivo por eles... Outro dia pensei: E se eu tivesse noção da morte instantes antes dela se concretizar? Risos. Às vezes parece que brinco comigo mesmo. É sério. Não acredite em mim. Só acredite numa coisa: eu tenho pouco tempo. Muito pouco tempo... Talvez amanhã eu consiga encher isso aqui de palavras e palavras. Muitas delas vazias. Muitas delas desnecessárias. Qual o verdadeiro valor da palavra quando aparece um vírus e a destrói, desde o bê-a-bá? É preciso persistir. É preciso sonhar sempre. Se emocionar. Chorar. Derramar lágrimas por mais um sonho realizado. Mais um passo. Mais um. Mais um...

Mais um...

domingo, 12 de julho de 2009

Final sem ponto

Que alegria desenfreada! Mal aguento as borboletas batendo suas imensas asas aqui entre as tripas de meu estômago. Tornando físico o que comungo com minhas próprias palavras, consigo permanecer suspenso nas invisíveis redes do pensamento, instransferivelmente imutável. Ouço sonzinhos de videogame. As lembranças da infância passam pela porteira arrebentando tudo o que encontra pela frente. Alma suspensa e pensamento lá adiante... Sei lá. Uma sensação boa, de borboletas no estômago - já escrevi isso, não? -, e vontade de derramar lágrimas de alegria. É tudo tão contundente, que eu mal sinto minha mente latejar. Será isto poesia? Isto pode ser chamado de poesia? Estas mal traçadas linhas? São só rabiscos, ou não passam de rascunhos sem cor nem teor. Um ponto sem final. Um final sem ponto. É isto a vida. Ou o que eu penso a respeito dela. Estou caminhando na linha tênue da sua consciência pesada. Na minha, eu surfo para lá e para cá, desafiando a lei da gravidade nesta corda bamba. Queria aprender a empinar pipa, pensou ele. Será que é tarde? Será que há tempo? As pessoas não fazem ideia do mistério de despertar em todas as manhãs. O peso do dia é maior do que todos os raios de sol juntos, mesmo os mais nocivos. Todas as noites injeto um veneno nas camadas mais profundas, sensíveis e suscetíveis à mudança dos meus [i]limitados sentimentos. Viver é conviver com as limitações, mas também transpor os muros mais abismais e incrivelmente parecidos com fortalezas dos filmes de ficção. O que faço é poexistência. Está decidido. Penso nisso vez ou outra. É tudo transcrição das sensações dispostas aleatoriamente nas horas aceleradas impostas pelo nosso próprio corpo, educado de forma vil e cruel em tempos vis e cruéis. Me deixa escrever! Me deixa! Me deixa, porque eu fiz uma importantíssima descoberta. É sério. Seríssimo: faço da vida um ponto sem final e um final sem ponto. [Assinado: o autor, imerso na ponte fictícia chamada diariamente de realidade. Só que essa tal aí foi criada agora há pouco. Amanhã ela já não vai mais existir. Não mais. Amanhã, e também depois de amanhã, eu penso que poderei criar outra.]

Que felicidade estapafúrdia!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sei lá...

Sei lá o que sou. Sei lá onde estou. Sei lá para o que sirvo. Só sei para onde eu vou e como estou. Esta é a verdade única e absoluta que eu persigo enquanto meus dedos parecem dois foguetes acelerados e sedentos por mais e mais produção. Ininterrupta. Sem parar. A manivela é cruel. É feroz. Ela nao para. Não para. Não para não. Será que alguém aguentará suas provocações? Suas provocações que desmbocam em tantas chagas que quase ninguém liga para tudo aquilo. Mal sabem que existe. Elas apenas desconfiam desta existência. Nunca poderão sentir a verdade que sinto aqui nesta hora e instante imediato e imediatista. Se ele pode, porque não podemos? Temos que meter as caras. Mesmo que haja uma cerca de arame farpadíssimo logo em frente. O mal gosto parte de mim sempre que vejo a fuga pelos cantos, como se as pessoas fossem ratos, como se fossem nada, como se fossem nada menos nada. Não sei até quando me transfiguro no eu que transparece para o mundo exterior. Não sei até que instante me confundo com o outro, que pode estar em todos os lados possíveis. Não sei que não sei tantas coisas, que ainda faltam ser descobertas. Caminhar no incerto. Disse Abujamra em uma de suas entrevistas. Pascal. Eu transcendo até mesmo o fígado e o bolor que trago aqui por dentro. Convide você mesmo a uma visita pelos escombros do passado e descobrirá que o medo está mais receoso do que imagina.
Imagine. A vida não seria possível se você não imaginasse que está vivo. Vivo onde? Vivo por quê? Vivo para quê? Que realidade? Para quê você imagina? Ou para que você vive diariamente? Consegue entender a profundidade de viver diariamente? De entender em que realidade ou realidades vive? Vivo. Balela. Todos estamos é muito bem mortos. Quer ressuscitar? Então venha agora! Sem pestanejar...

Escrever é um sono mais profundo do que a morte.

A chave

O molho de chaves. Ele está lá pendurado. Uma é azul, a outra também. A outra é amarela e mais redondinha. Já a outra é vermelha. E ainda tem mais duas, que me mostram o caminho de volta para casa. Todas elas também me revelam que galguei um passo maior no degrau da confiança. Mudei de lugar e estou aproveitando ao máximo estes instantes tão passageiros e marcantes, e que num piscar de olhos já não estarão mais aqui.

Estou aqui, mas minha mente cavalga velozmente por becos e vielas que são tão desconhecidos quanto o próprio desconhecido. Ele está logo ali no despenhadeiro, recheado de olhos brilhantes e vontades que ditam destinos. Destinos que ditam valores. Valores que ditam uma vida inteira. Sossego. É o meu momento. Sou eu comigo e contigo. Ouço a voz aqui de dentro e logo me emociono com a pureza e inocência daquela criança. E também desta criança aqui que vos escreve. E não quer mais parar. Nunca mais. Jamais. Produzir. Esta é a palavra que me faz levantar todos os dias da minha humilde cama. Vitória. É onde vou estar. É para onde estou indo.

Me encontre lá.

sábado, 4 de julho de 2009

Despedidas

As lágrimas formam um rio imenso de água tão doce quanto límpida. É possível ver os peixinhos alegres no fundo, mas não é possível saber quantas despedidas ainda serão necessárias nesses caminhos tortos da vida. No entanto, mais importante que as despedidas são os encontros. A gente pode se encontrar consigo mesmo todos os dias, basta ter anseio de se transformar e se lapidar a cada minuto transcorrido...

Os amigos também se vão, tão facilmente, às vezes, quanto a ventania que passa e deixa alguns vestígios marcantes pelo chão. Parece tudo em vão, mas não é. Isto tudo me lembra mais uma orquestração das teias e trilhas que se movem em todas as direções, até se encontrarem desesperada e surpreendentemente.

Divagar se vai longe. Ou devagar se vai longe? Divagar e devagar, conceitos tão relativos que eu já nem sei mais o que é sonho ou o que é pressa de viver...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Futebol

Êta que quebrada linda. Cada dia que passa posso gritar cada vez mais alto e mais forte: "Eu sou da quebrada e esta quebrada é linda demais!"... Muitos problemas à parte, o que eu vislumbro é uma força descomunal, que muitos começam a descobrir aos poucos. O processo pode ser lento, mas é contínuo. Vou deixar um mundo melhor para os descendentes? É claro! Respondo com propriedade e sem titubear...

As escolhas estão sendo feitas. Estão erradas? Estão certas? De qual ponto de vista? Do seu, do meu ou daquele terceiro elemento que está logo ali? Não sei. Só sei que as escolhas têm de ser feitas e eu não vim aqui apenas para acertar, mas também para aprender com meus erros. Será que temos todo esse tempo para aprender? Acho que não. Mas enquanto vamos nos consumindo em nosso próprio tempo, vamos tentando adequar nossas vidas ao mundo, aos outros, aos eventos naturalmente arquitetados pelo destino...

O futebol estava lá no telão. Até eu me surpreendi com minha própria empolgação. Que dia tão pincelado... O desenho completo, acompanhado de seus respectivos rabiscos, se enraizou desabridamente aqui na pele e na memória. Não sai mais. Nunca mais. Que bom sentir emoções que pensava não existirem mais... Que bom sentir! Que bom viver um dia após o outro. Que bom ser responsável pelos próprios atos. Que bom tomar as rédeas da vida. Que bom ser incompreendido. Que bom falar "que bom!".

domingo, 28 de junho de 2009

Brisa de domingo

Lambada. Acho que era Beto Barbosa. Que periferia linda! Viajando no bonde das ideias. Olha, ela estava "um homem", disse aquela outrazinha desocupada de tudo. Paquera, conversa e depois sacanagem debaixo dos lençóis. Aposto! A minha irmã. Minha irmã querida. Preciso estar mais próximo de ti. Dizer que te amo. E vou fazer isso antes mesmo do seu aniversário, que é nesta semana. Já perdi as noções do que é certo ou errado, bom ou ruim. Projetando o futuro, e ainda por cima brisando diante do passado, que é agora. E o triângulo come solto aqui na música delirante que ouço agora. É sempre agora. O tempo é sempre agora. Ah, mas como esse filme é chato. Pensei alto, liga não. A ladeira inclinada em meu coração descamba morro abaixo e até acima de sua cabeça, se duvidar. Acho que deve ser assim na lua, esta mesma sensação que sinto agora. Liberdade entranhada na cabeça e na veia. Ela tinha dito que de ataque do coração eu não morreria, porque minhas veias estavam fluindo muito bem, tudo isso ao examinar os papéis dos exames que eu tinha feito recentemente. A dimensão superior me faz sentir um ardor aqui na barriga. É tão latente... Fome quase satisfeita e ardilosa. Falta só um pouquinho para encher a vasilha e isto tudo começar a transbordar. Um ramo no corpo liga nós dois numa união tão ferrenha quanto deliciosa, como essa frutinha que irei comer já. Já. Já foi. O pensamento vai e volta, incansável. Ele está alucinado pra dedéu (Ha-ha, pra dedéu é engraçado pra dedéu. Ha-ha). Os tombos e escorregões parecem tão necessários quanto a própria vida. Carambolas. Gomos de mexerica. Partes do vazio da vida. Partes do vidro dos seus olhos. Estou viajando aqui no papel (no papel mesmo, porque muito disto registrado aqui foi rascunhado em papel vivo e elétrico, sim!), mas a mente se perde por meandros que até eu (e também meu coração) desconheço. Amanhã é outro dia ainda mais incerto. Quando eu fui imaginar que um dia estaria exatamente onde estou? Onde os meus queridos irmãos de família estão. Tenho muito o que viver ainda, por isso não posso perder tempo. Por isso tenho pressa de respirar, de ser. Até explodir em partículas indecifráveis e fugazes. Amigos dignos de encontros arquitetados pelo acaso e pelo destino (tudo ao mesmo tempo e misturado), e além disso, inimagináveis. São todos estes que eu quero. Para ontem. Para hoje. Amanhã e sempre. E se eu fosse ou tivesse nascido mulher? Não. Acho que sou mesmo é Deus, porque tem hora que eu acredito em mim, e tem hora que não. Um sonoro não para esquentar a sua noite! Eu gosto é das perguntas que não parecem perguntas, que parecem ação! Nossa, de que planeta eu estou voltando? Planeta luz, só pode. O que você acha? Está ótimo! Beleza é igual à palavra relativo e à palavra relatividade. Quem está embaixo sempre pode cair para cima. Acredite! E vice-versa também. Ha! Agora que eu vi que não estou escrevendo aqui com a caneta que eu estava imaginando na minha mão. A morte que eu terei não importa. Morte é morte. O que importa é a vida que terei (ou estou tendo). Um pensamento estranho surgiu agora (não exatamente agora, porque eu escrevi isso há uns minutos). Mas ele se foi de repente, da mesma forma que uma estrela cadente se apaga. Ela vinha cadenciando pelas ruas estreitas. E cadenciava as cadeiras mais do que tudo. Lá-lá-lá-lá-lá. Alongamentos do pescoço e dos contornos e curvas do cérebro. Uma brisa de domingo. Pronto, foi aqui que o título destas linhas saltou na minha frente, diante dos olhos indagadores. Não posso fazer nada se escrevo o que vem à mente. É a velocidade mais quente pela qual já passei. A mão já pede descanço. As palavras estão eufóricas para pular aqui nesta folha, nesta página. Mas é preciso deixar mais um pouco para amanhã. Até lá. Au revoir.

Ecoando o passado

As lembranças insistem em permanecer presentes como se fossem independentes e donas de si mesmas. Mas elas são, não são? São sim! E ainda por cima conseguem surpreender. Mas o que fazer se não somos vítimas delas, muito menos escravos? Somos elas e elas também são nós. E isto basta para entender que não conseguimos nos desvencilhar jamais delas. Você consegue não ser você por toda a vida? Acho que não aguentaria. Ah, mas não era aí que eu queria chegar... (onde mesmo eu queria chegar? Pode me ajudar a compreender esta pergunta?).

Chuva. Ruínas. Cimento. Chão. Muro. Matagal. Linha de trem. Trem. Bate-papo. Pingos. Viagem. Admiração. Imensidão. Fúnebre. Mágico. Místico. Passado. Pessoas. Segurança. Abismo. Precipício. Fuga. Dimensões. Imaginação. Consternação. Limpeza. Pureza. Liberdade. Sonhos. Transformação. Aventura. Amizade. Mulher. Amor. Pinhas. Estrada. Silêncio.

Silêncio.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Aos 21

Sonhei tanta coisa em forma de pensamento que quase não me lembro de ter dormido profundamente. Estava à margem do eu sonolento e não pensava em mais nada, a não ser a vida. Ou seja, pensava sobre tudo. E quando pensava, logo queria escrever. Mas quem disse que eu lembro das coisas que me assaltaram durante o sono? Nada! Deveria ter um caderninho ao lado, porque a cada sobressalto eu ia lá e escrevia uma ou outra palavra. É, boa ideia. Quem sabe amanhã. Ou hoje à noite. Ou de madrugada. A vigília nem sempre é derradeira e finita.

Talvez fosse ansiedade. Talvez fosse a maturidade. Talvez fosse a precocidade. Talvez fosse os desejos ininterruptos. Talvez fosse a vontade insana de voar para longe. Talvez fosse a certeza de que o perto vale mais a pena. Mas por um momento tirei da cabeça os talvezes e mirei a certeza dentro de mim: é hoje, mais um ano, mais 365 dias. E aí? O que isso importa? No quê isso faz tanta diferença? Sei lá, essas indagações sempre estão pairando por aqui, mas não exigem respostas absolutas. Elas só são indagações. Mas o que é mais importante então?

As letras? As pessoas? Os amigos? O mundo? A confiança? O respeito? A vida? Tudo se encontra e se contradiz. Tudo sou eu a partir do momento que eu assumo que o eu é essencial para o coletivo. Que o eu está aqui não apenas para ser eu, mas para ser todos. Ser um cara de 30 e uma criança de 5. Ser um idoso de 80 e um jovem de 21 alucinado pelas expectativas de alcançar o infinito. Um suspiro e daqui a pouco serão mais 365 dias corridos, úteis e necessários. Mais 365 para repensar o meu papel aqui nestas esquinas fartas de vida e amor.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Dia nublado

Sentir é tão complexo, mas tão complexo...
É complexo mesmo. De verdade. Não duvide. Não duvido.
E tão complexo quanto tirar um cochilo depois do almoço em uma grande cidade.
É preciso pegar na enxada. Não todos os dias... Ou sim. É urgente fugir da cidade. Fugir de vez em quando. Sabe por quê? Porque a cidade já está entranhada aqui. Mas será que é impossível? Imagina. É possível e necessário. Mas só em alguns momentos. Será que é este o momento? Talvez não. Acho que não. É bem possível que não. Porque a vida aqui não está de todo ruim. Não mesmo. O otimismo exacerbado talvez contribua para isso...
Talvez.
Otimismo perante a vida. Otimismo perante o outro. Otimismo perante o eu irregular e inconstante.
Enquanto espero a música, danço a vida com o jogo de cintura que me foi concedido.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Mente poderosa

A corda bamba anda mais equilibrada ultimamente. O que será que está acontecendo? Não falo de mesmices. Eu falo de encontros com a essência. Estou de cara com a minha. De cara mesmo. Passadamente passado. E me pergunto novamente: o que será que está acontecendo? É bem possível que eu já tenha a resposta, mas é tão bom fingir que eu não sei... Não saber é tão bom. As pessoas precisam experimentar mais isso. É o lance da crise que eu sempre digo. Buscar sempre e não encontrar jamais. Essa crise é das boas! Melhor do que o balanço da gangorra, melhor do que os altos e baixos da montanha-russa, melhor do que um domingo preguiçoso ao lado da pessoa amada, melhor do que o sorriso de uma criança. Melhor do que o sorriso de uma criança? Ah, também não exagera!

domingo, 21 de junho de 2009

Cheiros e sensações

Sem pesos na consciência, me deitei, relaxei e repassei pela memória tudo o que tinha acontecido naquele dia. O corpo estava cansado, mas a vontade de fazer cada vez mais e melhor não me deixava em paz. É tão íntimo, singular e transformador que muitos não entendem. Ou não querem entender. Eu entendo. E te digo: há muitas coisas melhores nessa vida do que dinheiro. Se você não descobriu ainda, sugiro que faça um esforço a mais para encontrar a linha que segue até o horizonte de possibilidades incomparáveis, únicas. Densas. Tudo foi muito denso. Essa é que é a verdade. Até os arroubos de irritação. Os abraços contundentes (aqueles que te fazem sentir com a alma mais leve). Os olhares e as pessoas que estavam ali, com expressões que iam do espanto à admiração. A praça é nossa e não tem mais volta. A união vai prevalecer e o desejo de mudar vai continuar aqui. Pelo menos enquanto houver a chama da vida acalentando os mais belos princípios. As escolhas têm que ser feitas. Fiz a minha. Não me arrependo. Não há mais como retornar. Esse cheiro, essa sensação jamais sairão deste corpo e desta mente que vos fala. Nunca. Levo as mãos à cabeça, olho para o céu (esta noite não tem luar) e agradeço por ter visto a transformação acontecendo a um palmo do meu nariz. Mais uma vez.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Crepitando

O garfo. O fogo. A vontade. A resistência. A pipoca. A panela. As pessoas. As cadeiras. Os banquinhos. Os cantinhos. Os gravetos. A emoção. A imaginação. O macarrão. O crepitar. O fogo de novo. As palavras. O comum. O primordial. Os amigos. A fome.
O cheiro.
A fogueira estava lá e não discordou em nenhum momento dos presentes. Apenas se manteve neutra, tão neutra quanto um raio de luar. O seu fogo hipnotizava a todos ao seu redor. Era uma brincadeira eterna. Brincar com fogo faz lembrar a infância. Os tempos que já foram, mas de qualquer forma continuam nos rodando por toda a vida.
Os troncos e gravetos viram brasas incandescentes rapidamente. É o nosso calor. Ou melhor, o calor da mãe natureza. Depois de virar brasas vivas, elas viram cinzas. E talvez ainda renasçam para uma nova vida, numa encarnação (ou embrasação) perene e inflexível.
Esqueço até da música, pois as outras dimensões me assaltam. Aterrissam em mim como se fossem deusas onipotentes e oniscientes. E o pior (para mim) é que são mesmo. Vai saber.
Nos últimos dias... ah, estou fazendo sim. Fazendo o que senti vontade desde a primeira vez. Experimentar. É preciso experimentar a vida, mesmo naqueles lugares que parecem despossuídos dela.
Experimente a vida, antes que ela te experimente. E acabe com você de uma vez por todas.

sábado, 13 de junho de 2009

Sopa no barco

Fome. Fome. Fome. Um monte de fome. E uma sopa aqui na frente. Está tão deliciosa. Mais deliciosa do que o dia de hoje? Duvide-o-dó! Apenas um complemento da noite anterior. Você nem imagina sobre o quê eu estou falando. E isso me faz gargalhar ainda mais aqui por dentro. A-ha-ha-ha-ha. Não me localizo neste espaço. Não me pertenço a isto. Estou em outra dimensão. Ouço ruídos de lá, mas não tão perceptíveis. Nem um pouco parecidos com aqueles que nós produzimos, mais em nossas cabeças devaneantes do que ali fisicamente falando. Mas que a energias estavam boas, ah, isso estavam. Para lá de de boas. Enquanto isso a sopa dá uma esfriada. Mas a fogueira está lá para alimentar nossas veias artísticas. Sim, porque é preciso ser artista, seja lá de que tipo for, para viver por estes percalços mil. Sabia que eu pensei que algumas palavras e combinações desta frase anterior aí jamais poderiam ser lidas por um gringo? Ela é só nossa! Todos os seus vértices e cheiros. Cores e formas. Cada traço é totalmente nosso. E aí que me dá mais vontade ainda de gargalhar. Por dentro. Por fora. Pelos lados. Pelas dimensões possíveis e imagináveis, mas definitivamente essenciais para um caráter menos falso de se viver. As coisas nem encontram mais lados por onde escapar. Estão todos entupidos, de outras e mais outras palavras, que correm em busca do seu cultuado prêmio, como se fossem milhares de espermatozóides em disparada para alcançar o segredo absoluto da vida e da morte. Agora o sono embarca... E levou o barco embora.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

À beira

Às vezes a solidão é tão penetrante que é como se você sentisse que o frio está tão entranhado na sua alma, que jamais, nunca mais!, conseguirá aquecer o jardim dos desesperos. Mas logo o vento passa e vira a página e leva para longe o que há de mais perto possível. O perto disfarça tão bem a sua distância...

A margem vista daqui parece tão extensa, mas tão extensa que meus olhos se perdem em suas curvas sinuosas, que mais parecem o meu estado de espírito. Elas somem e reaparecem fulgurantes. A água é límpida. Curioso. Fiquei bem curioso porque aquilo parecia um sonho que eu tive por esses dias aí... Não lembrava tão claramente, mas ele estava ali na frente. Tinha se materializado. Era impressionante...

Ainda bem que ainda conseguia me surpreender. É que eu já não lembrava de como é bom lembrar. De como é bom ser sincero, ouvir vozes cortantes, sentir o sol bater na janela pela manhã, sentir a brisa uivar pelas frestas da janela...

Pelas frestas da minha janela passam tantas brisas, mas poucas permanecem. Assim, os porquês ficam cada vez mais indecifráveis...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Sei não...

Não sei. Sei não... É difícil. Mas quem foi que disse que seria fácil?

Pareço intransponível até para mim mesmo, principalmente quando me olho no espelho...

As lágrimas podem descer, mas...

Enfim.

Fim.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Onomatopéias dançantes

Não foi bem esta palavra que eu havia pensado ontem à noite, mas foi a que me veio à cabeça agora. Fazer o quê? A memória é um fio que vai se encurtando a cada dia. O movimento do corpo e das ideias é necessário para a evolução de uma dimensão totalmente nova. É preciso experimentar. É preciso balançar. Não há salvação se não balançar. Ha-ha!

Os encontros acontecem diariamente. Mesmo que não sejam físicos, eles estão aí, a nos pregar peças e mais peças. E rever os velhos conceitos que enfiamos na bagagem desapercebidamente. Observar sinceramente é o segredo para não ter calos na mente. Outro dia deu uma travada, lá mesmo no meio da mente, e eu pensei que fosse um calo. Mas não era. Ufa! Ela só queria dormir porque estava exausta depois de sucessivas viagens pela crosta terrestre.

Mas então... as onomatopéias. Você já brincou de onomatopéias? Brinque! É tão lúdico que você nunca mais vai querer brincar de outra coisa. E eu falo sério, apesar de estar rindo aqui lembrando daqueles momentos... Bem, mas faz tempo que não brinco de onomatopéias dançantes. Alguém se candidata a balançar para lá e para cá no ritmo das lindíssimas onomatopéias (nome bonito e pomposo, não acha?)?

domingo, 7 de junho de 2009

Sorriso da lua

À espera de alguém que me revele São Jorge e seu dragão, antigos habitantes da lua. Você sabe distinguir o desenho lendário? Nunca consegui... Eu também gostaria de imaginar outros traços e outras figuras. Será que posso? A lua está lá deslumbrante, não está? Então eu posso!

Como num estalo percebi que o sorriso precisa ficar estampado mais vezes em meu rosto. Não que tenha que rir de tudo, mas rir um pouco mais não matará ninguém. Pelo contrário, talvez até ressuscite.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Acordes serenos

A flor da pele está na pele. Tudo no seu devido lugar. Se bem que a memória falha uma ou outra vez. Às vezes são muitas vezes mesmo. Mas o que fazer? Viver é esquecer. Esperança começa a bater tão velozmente quanto o coração em disparada. Sim, ele disparou e anunciou que ia durar o tanto que desse e pudesse. E que a felicidade estaria nele mesmo quando ela estivesse passeando por outras paragens. A sensação do novo nem sempre é tão nova assim. O novo é tão subjetivo que eu acabei de criar o novo e ninguém viu. Ninguém percebeu porque para aquele ninguém o meu novo era velho demais para os seus padrões, que, por sua vez, são tão antigos quanto o próprio mundo. E as outras galáxias? Você está sozinho aí de onde lê isso? É bem provável que não. E é quase certo que não. E os extraterrestres conseguem me ouvir e ver? Vai saber... é melhor não duvidar. Apesar de cético, resolveu que era melhor não duvidar do desconhecido. Este mesmo desconhecido que nos causa tanto espanto e nos coloca num patamar que nunca imaginamos habitar. A mesmice talvez faça isso mesmo com as pessoas. Elas ficam tão habituadas em suas habitações consideradas normais, que esquecem de ir habitar este mundão aí afora... Ah, mundão, espere aí que eu te alcanço. Se não hoje, amanhã com toda certeza que eu consegui colocar aqui na bolsa...

No sinal de trânsito

Penso e me levo para longe daí. Peno e me distancio cada vez mais de mim. Permaneço e mesmo assim consigo voar por entre as nuvens mais densas. Perco mas não consigo entregar os pontos. A saudade de alguns lábios não me fazem sentir dor, apenas esperança de que muitos outros deles voltarão a mim, não os mesmos, mas outros totalmente distintos e tão carinhosos e suculentos quanto aqueles. E novamente me pego pelas mãos e me bifurco por entre os caminhos congestionados, por entre os desabafos e as dolorosas cicatrizes que encontro pelas veredas. Não sei definir ao certo o que faço, só sei que faço. Pergunte à sua mente doida (se ela também o for) e verá que não há resultado, que a (in)sanidade não é como uma conta de subtração ou adição, ou ainda de multiplicação (divisão é mais difícil né?). Mas às vezes sinto a necessidade de escrever e viver sem pontos e vírgulas. Isso não é novo, eu sei, mas o que importa é sentir, mesmo que seja parodiando outras vidas e outros rumores. Estes me lembram sussurros que ouvia durante os sonhos mais angelicais, naquela época de pequenino adorável e horizontes fartos para serem digeridos. Então quando falta a atenção, ou as engrenagens da imaginação travam, eu continuo a permanecer, mas acredite: nunca estou parado. Nem ao menos no sinal de trânsito.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Pensamentos involuntários

Crises existencialistas. Turbulências emocionais. Desequilíbrios insanos. Dias mal vividos. Tempestades que se anunciam no horizonte... 

Ele se perguntava por que corria atrás de tanta coisa, atirava para todos os lados, suava todos os dias de sua vida para alcançar sonhos que talvez nem fossem seus, para no fim dar de cara com o nada, com a única certeza da vida: a morte. O sentido ele ainda procurava, mas tinha certeza que não encontraria em nenhuma esquina daquela cidade, mas dentro de si próprio. Ainda bem que ele descobriu isso a tempo... 

Ainda bem. 

terça-feira, 2 de junho de 2009

Pé gelado

Depois da freada brusca, a querida magrela se estatelou no chão, e seu dono teve o mesmo destino. Ou foi o contrário? Acho que eles se estatelaram ao mesmo tempo, intimamente. Porque até nisso eles são camaradas até o fim. Só lamentaram a destreza das pessoas em serem imprudentes, atravessando as ruas como se fossem apenas delas. Esquecem - e erram feio ao esquecer - que a rua é habitada por tantos objetos e é tão congestionada quanto uma feira livre.

- Ai, meu pé está tão gelado que quase não consigo andar.
- O vento está batendo forte. Ele realmente está forte hoje.
- Frio é uó, disse a outra.
- E essas mãos? Você as colocou na geladeira?
- E esse coração?
- O que é que tem?
- Também está gelado. Estou sentindo daqui...
- E essa música doida?
- O que é que tem?
- É bem doida. Você tem cada uma...
- É?
- Pois é.
- Então venha dançar coladinho...
- Agora?
- É, você está morrendo de frio aí, está até tilintando os dentes.
- Então venha... Vamos bailar.

sábado, 30 de maio de 2009

Leveza

Toques e reverberações. Energias e sonhos. Lágrimas e suor. Pingos de chuva e orvalho congelado. Amor fraterno e leveza de alma. Encontros e perdão. Divagações e esperança. Poder e pernas firmes. Senso de direção aguçado e esquinas inclinadas. Sentimentos pela rua e corpos em contato físico e psíquico. Transformação solitária e cheia de amigos ao redor, tudo ao mesmo tempo e agora.

O interfone toca. Um momento. Já volto.

Passeio. Dormi tão profundamente que fui transportado para dentro de mim. Quer dizer, para fora. Para dentro? Ih, já não lembro mais. O que sei é que eu vi meu corpo flutuando. Quer dizer, não era o corpo que flutuava, era eu, entende? Era eu na forma mais fugidia e serena que você pode imaginar. Era como se eu dançasse em cada acorde daquela bela canção. É, aquela mesma que não consigo parar de ouvir. Perdi as contas de quanto falta para viver ainda... Mas quem é que sabe? Mas por que ter pressa? Por que correr, se você pode analisar melhor o caminho que tem pela frente?

Estava cá a refletir... refletir sobre mim, sobre a vida, sobre as pessoas... E estou otimista. Fui tomado de esperanças (elas vieram de todos os lados possíveis e imagináveis), e logo fui envolvido em mim mesmo, na minha própria fé... fé na vida, fé na natureza, fé em tudo o que respira e transcende o asfalto...

Me sinto como se fosse um grande saco plástico, sendo inflado como um monumental balão. O material é frágil, mas o conteúdo (o sopro) é eterno.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

(des)Esperado

Sabe o desespero? Então, o desespero. Mas não o desespero tão desesperado assim. É um desespero quase sutil e íntimo. Não revelado nem para quem o sente. Talvez esse desespero seja ainda pior, porque alimenta as entranhas de medo e de desejos reprimidos. Esmurre a porta e saia daí de dentro. Já. Escreva. Borre estas linhas insanas de libertação. Borre a vida de mais vida. Não desista de escrever. Não desista de tentar. Não desista de amar. Não ainda. Não agora. Não. Mas o desespero se aloja como uma bala que vai semeando a destruição onipresente e onipotente na vida de pobres mortais como nós. Canso de dizer que não há sentido em tudo isso. Mas por que procuro então? Por quê? Por que me alimento diariamente de esperanças despretensiosas? Por que tento construir um otimismo como um castelo de areia? Provavelmente porque já nasci com ele. E daí? Se sua mente é perturbada, use isso a seu favor. Se apaga tudo isso tantas vezes seguidas, é por que não tem certeza do que pensa e do que fala? Não necessariamente. O suspiro nem sempre é de dor, não é verdade? O suspiro nem sempre é de lamento. As confusões nem sempre são mal-vindas. Mas plantei uma árvore. E ela floresceu. E deu tantos frutos que tive de estocar uma parte e distribuir outra. E o sonho acabou. E os pensamentos retornaram. E o desespero voltou a afligir. Mas logo foi embora. Assim é bom. Ou não. A angústia de viver jamais será revelada diante de corações não sinceros e dissimulados. Escute bem: JAMAIS.

Enquanto me desespero, espero.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Samba seco

Cutuque o estômago. E não sambe ainda. Não saia por aí dando voltas. Não ainda. Não agora. Se adiantasse esperar, os urubus atacariam mais cedo ou mais tarde. É mais provável que fosse mais cedo.

Amanse o gado. Amanse a alma. Amanse os céus. Amanse a fera. Amanse o sol. Amanse a lua fulgurante. Amanse o dia. A noite. O chão. A floresta. A coruja. O rato. Os olhos. Menos a cantoria. Esta tem que ser gritada e esperneada na cara de quem vive sem música. Como pode? Como deve? É proibido! E eu estou dizendo e registrando. Registrando para amanhã. Não para hoje. Nem para ontem. Sempre para amanhã.

Você viveu hoje! Ou não? Ou apenas passou pelas horas, minutos e segundos sem perceber que o dia era pra ser vivido hoje e não amanhã... Percebeu? Comeu? Roncou? Sofreu? Resvalou? Calou?

Silêncio. Até os pássaros fizeram o pacto. O pacto do silêncio ensurdecedor.

domingo, 24 de maio de 2009

Máscaras no metrô

O frio friorento. A neblina densa. A serra sem árvores. O despenhadeiro sem fundo. O mar sem Iemanjá. A vida sem música. A tristeza sem motivo. O motivo de andar pelas ruas da cidade, ensandecido e disforme, não se explica por si só, nem de qualquer outra forma. Os rostos no metrô também não conseguem responder aos questionamentos daquela pequena criança em crise. Criança em crise? Os tempos mudaram mesmo, não é? Pois então, ela estava em crise. E tinha apenas oito anos. Tinha acabado de completar. Não ganhara presente. Era muito simples. Era tão modestamente simples que não gostava nem de pensar em ser rica algum dia. Na chaminé dos seus sonhos não via escapatória para um mundo melhor. Pensava que mais cedo ou mais cedo se tornaria mais um objeto nas mãos daquela sociedade que não a compreendia. Falo dela, mas também falo de ti. Num dia ainda distante você irá me dar razão. Quando faltar a água de beber e a água de abençoar. Não haverá... Não haverá... Fugiu. Ficou. Errou. Não aprendeu. Afinal de contas, não haverá... Só haverá. Só haverá choro e velas. E deserto. Os corações ficarão desertos de sangue e de ar... O ar faltará. Não haverá. O céu finalmente revelará a ilusão que sempre personificou... O céu. E Deus. Não haverá...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Fuja enquanto há tempo

Os sons da caixinha de música não me espantam, me enlevam em sua beleza serena das noites enluaradas e mornas. A brisa vem balançar os seus cabelos de vez em quando. Mas só muito de vez em quando mesmo, porque eu olho feio e ela logo muda seu rumo. Na sala escura do cinema, ele se diverte. Ri às gargalhadas. Quer dizer, nem tanto assim. Mas ri. Se diverte de verdade. Sorri e se emociona. Também, com aqueles poemas musicados todos pulando diante de seus olhos sem descanso, não poderia ser diferente. Diferente... Você é diferente, sabia? Diferente de tudo o que existiu. Mas mesmo você não existindo em carne e osso e detalhes desinteressantes, está aqui comigo... seja por meio de seu timbre que sonhei na outra noite, ou pelo perfume que senti na rua outro dia, sem poder identificar o portador. Mas a poesia está aí, basta você abrir seus olhos. E seus poros também. Abra sem medo. Abra sem preconceitos. Abra os braços e corra velozmente pelos campos verdejantes da imaginação sem cabrestos. Mais quer dizer mais e mais. Mais toques, mais cheiros, mais lábios, mais faces, mais passos, mais ruídos, mais olhares piscados, mais compreensão diante da folha que cai da árvore solitária na calçada. Ninguém a olha. Ninguém a sente. Ninguém a nota. O que eles anotam são seus compromissos super importantes da sexta-feira lotada de afazeres. E a vida passa. Veloz. Curta. E contundente. Ela passa e você nem percebe. Nem a olha. Nem a sente. Nem a nota...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Fazia tempo que não estava...

... naquela biblioteca onde foram construídos diversos sonhos e alimentada a esperança de que as letras um dias seriam minhas melhores amigas. Amigas tão íntimas que elas não se desgrudam nem durante o sono, nem durante o amor. Por sinal, o amor é repleto de letras e símbolos. Letras não faladas. Letras não reveladas. Letras que ficam para sempre debaixo dos lencóis brancos. 

Cada livro e cada cheiro daquele lugar me levaram de novo para aquele mundo, para aquela época, para aqueles anos tão conturbados em minha estada neste mundo. É claro que o espaço passou por transformações, mas o clima continua o mesmo. As prateleiras estão repletas de lembranças e obras nem sempre em bom estado, algumas bem velhas mesmo, caindo aos pedaços. Até nisso elas conseguem nos dizer algo. 

Falando nisso, acho que conversei com tantos livros hoje... Conversei por meia hora. Meia hora? É, não sei ao certo. Acho que foi isso. Aquele mundo parecia tão perfeito, que eu senti vontade de ser só um livro numa estante. Já pensou em ser um livro? Que livro você seria? Talvez eu fosse Robinson Crusoé ou algum da série Os Karas, de Pedro Bandeira. Ou ainda um livro cujo protagonista fosse Hercule Poirot, o famoso detetive dos romances policiais da grande Agatha Christie. Quanta saudade. E sempre que falo de livros eu lembro daquela que me fez tomar gosto e sede por eles. 

Ô Milla querida. Te dedico. Para sempre em mim. 

Faz tempo que não vejo

Fui assaltado. Calma, calma. Nada grave do ponto de vista físico. Fui assaltado pela minha memória, que vez ou outra costuma funcionar. E lembra de coisas que julgava já esquecidas por séculos. Sim, porque o sistema de contagem aqui é outro, indecifrável por você, mas totalmente claro para mim. É bem possível que eu já tenha vivido dez séculos ininterruptos. Claro que são ininterruptos né, ou você acha que terá chance de ir e voltar quando bem entender? Ah, vai saber... Essa vida é tão louca que eu não me arrisco a construir paradigmas absolutos.

Mas então, tenho certeza absoluta que lembrei de tudo aquilo. De detalhes. De toques. De cheiros. De olhares. De bocas. E de outras tantas enumerações que podia passar o dia inteiro aqui só para falar de cada uma e de todas. De todas as emoções sentidas olhando para as janelas dos apartamentos daquele prédio diferente e simplório, incrustado no meio dos ares culturais da cidade. Parece que faz tanto tempo já. Como está? Com quem está? Está vivo? Está trabalhando? Está amando? Está vivendo? Está respirando? Eu estou, então provavelmente deve estar também. É a lei da vida. Ou vive ou vive, enquanto há vida, obviamente.

No entanto, a lembrança não vem acompanhada de lamento. Foi o melhor que fiz. Que fizemos. Que desabafamos. A separação é o pulo para o crescimento (mas que papo de divorciado é esse? Você nunca se casou!). Enfim, dê o pulo antes que o pulo se dê por conta própria.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ai, os ossos...

A idade quando chega, chega de verdade. Ah, ela não disfarça não. Ela ri na sua cara e você nem pode rir de volta. A tortura psicológica te domina como se fosse os grilhões mais pesados da face da Terra. 

Mas o que a idade diz quando chega? Sim, porque as regras de etiqueta recomendam que se dê pelo menos um "oizinho", não? A sua idade te cumprimentou? Acho que não também. Só riu. Só gargalhou. Não titubeou e continuou a farfalhar seu corpo sedento pelo tempo passado. 

Sabia que daqui a dez minutos já é o futuro? Não acredita? Então olhe para o seu relógio - seja o de pulso, da parede (ainda há relógio de parede na sua casa?), da TV, do computador, do despertador, do celular, dos olhos sedentos por mais uns minutinhos de sono... Olhe para o relógio. E não dê trela. Não dê, não. 

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Magrela sorridente

Assim que a magrela põe suas duas rodas na rua, todos os olhares se voltam e se alegram. Os pequenos garotos quase não se aguentam e a admiram. O seu esplendor é como mel, ou melhor, como o doce comprado na pequena vendinha perto de suas casas. Os olhos brilham. Eu consigo ver daqui. É sério. É sério e tão lúdico. É tão terno que me enterneço junto e sorrio com a alma. Com os olhos me desfaço em compulsão por ver aqueles sorrisos fulgurantes que ainda perdurarão por anos a fio.

Foi bom voltar a andar com minha magrela. Ela me lembra aqueles anos onde o mundo parecia o melhor lugar para se viver. Ele ainda é, mas hoje preciso criar outros mundos para suportar as realidades que se jogam na minha frente tão apressadas quanto o trem atrasado.

Foi bom também voltar ao passado. Aos lugares do passado. Às ruas do passado. Às salas de aula do passado. Ao passado propriamente dito. É como um flash back. É como o passado tão vivo quanto ele não conseguiu ser enquanto acontecia. Ele não foi tão forte naquela época. Mas hoje ele é sim. Tinha tanto medo que o passado ficasse marcado apenas com suas manchas encardidas, mas não, não permiti. E não permitirei enquanto houver um lampejo que seja de fututo. De futuro e de raios. Sejam eles do sol ou da tempestade.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A ambulância na mente

Hoje, a saudade bateu na porta. Não bateu de se chocar, mas bateu de bater mesmo. Ontem também? Não sei. Se ela se achegou para perto não se mostrou muito presente e foi bem sorrateira. Mas as lembranças são assim mesmo, quando menos se quer elas estão lá. Mas eu queria e deixei elas pipocarem. Lembra do dia do atraso? Lembra do dia do corre-corre? Lembra do dia da catuaba? Lembra do dia chuvoso? Lembra das viagens? Lembra das besteiras? Lembra dos momentos estressados? Lembra do falso coleguismo? Lembra da velha metida a teórica e que adorava Antônio Nóbrega? Lembra da falta do que fazer? Lembra de não ter se arriscado tanto quanto poderia? Lembra da mesmice das botas de astronautas? Lembra das discussões e da falta delas? Lembra dos olhares tortos? Lembra dos botecos na grande avenida barulhenta? Lembra do muito sono que sentia e que não te deixava raciocionar direito? Lembra das descobertas? Lembra do aprendizado? Lembra daquelas pessoas? Quantas ficaram? Quantas se foram? Quantas nunca estiveram? Quantas sempre fingiram muito bem? Quantas foram ternas o tempo todo? Quantas lembranças são pertinentes? Quantos desejos são derradeiros? Quanta vontade acumulada em um só ser...

domingo, 10 de maio de 2009

A tiazinha psicodélica

Ela estava lá. Mas que grande surpresa. Ela realmente tem bom gosto. Já a encontrei duas vezes. E suas coreografias psicodélicas são as melhores. Super original. Fico embasbacado quando vejo. É incrível, porque só tenho olhos para ela. Com sua blusa de frio - mesmo não estando frio - e sua bolsa a tira-colo, ela dança sem medo de olhares tortos. Ela dança e encanta com sua fé em si mesma. Será que é mãe? Será que é avó? Cadê seus filhos? Cadê? Um dia ainda vou responder estas questões. Da próxima vez, terei que ter uma foto dela, um vídeo, ou algo do tipo. É sensacional. Você também precisa ver. Precisa ver que é possível dançar da forma que se quer, não da forma que se pede. Cada acorde é um balanço. Cada nota musical é um sorriso. Cada batuque é um olhar para o céu e outro para a Terra. Até a próxima tiazinha!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Risco de vida

É tão estranho quando se houve algo do tipo: "fulano está correndo risco de vida". Mas o risco de viver já não nos é intrínseco desde a hora que a luz do mundo vem à tona (ou seria a luz dos olhos, das janelas da alma?)? Então, não seja descuidado ao usar esta expressão. É feio, mocinho. O melhor é dizer "risco de morte". Este sim é tenebroso, cruel, abominável, mas é mais real do que a própria vida. Mas isso é papo de quem está à beira de cortar os pulsos e jogá-los pela janela do décimo terceiro andar. Pare com isso. Já!

Mas digo e torno a dizer: sai pra lá, não se achegue nem se aconchegue muito perto. Perigo de contaminação. Perigo de enlouquecer. Perigo de não viver. Perigo de deixar para trás tudo o que se viveu. Perigo para as importâncias tão desimportantes. Perigo para o carinho que nunca recebeu. Perigo para o amigo fraterno e terno. Perigo para a família e sua base maculada de mundanos sacrilégios. Perigo para as vaias que advêm de todos os cantos. Perigo para o humor que anda tão mal-humorado. Perigo para a esperança desesperançosa. Perigo para a inspiração, que torna e retorna para o sopro da vida.

Da vida. Não da morte. Porque a morte não tem sopro. Apenas silêncio.

terça-feira, 5 de maio de 2009

A flor da pele

O umbigo não consegue se concentrar no centro do seu universo. A Terra já não gira da mesma forma que girou ontem. O sol queima mais. A lua às vezes se esconde. A voz não sai. O dia não é mais tão claro. Mas a luz ainda é ensurdecedora.

A flor da pele já não está mais floreando nas primaveras. As pessoas já não completam mais primaveras. Apenas anos e mais anos, que passam tão desapercebidos. As cenas da vida real são cortadas, os planos se sucedem velozmente. O corpo estendido no chão, dormindo pesadamente, não incomoda, não existe, não é.

Já já é dia. E logo é noite. E o outro dia não demora a chegar. E o outro ano está batendo na minha porta. E a urgência da vida às vezes oprime, incomoda, reflete, inverte. Mente.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O vento uivante

A chuva caiu. O tempo gelou. O moço não viu. E não esquentou.

Hoje o vento uivou. Uivou tanto que lembrei de uma pergunta. Um dia, em um dia já muito distante daqui, me perguntaram se eu tinha medo de algo. Respondi que não. Mas hoje eu descobri que tenho sim. Tenho medo de ventos uivantes. Eles entraram pela janela e eram de todos os formatos. Se eu vi as formas? Mas é claro que eu vi. Você nunca viu? Tinha um triangular, bem traiçoeiro; o outro, era arrendodado nas pontas e tinha um corpo-violão que o deixava com aparência bem engraçada; já o outro parecia um ovo mal frito. E tinha muito outros formatos. Mas só te conto quando você também puder ver as formas do vento. E cada um deles uiva de uma forma. Não é nada bonito de se ver. Muito menos de se ouvir. Ainda mais quando você está em uma casa fechada e escura. Não recomendo nem disfarço o medo. Antes - bem antes - tinha medo de escuro. Mas o escuro já não inspira mais nada num mundo que é cada vez mais fúnebre e tocantemente manchado de negras, brancas e pardas manchas de dor.

O baile começou. A chuva parou. O homem dançou. E a mulher brilhou. E a lua ficou no seu pedestal. Aquele pedestal que os ventos uivantes não ousam nem pensar em se aproximar.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Estalos

Como será meu rosto quando velho?

Eu ouvi o meu nome. Você também ouviu, xará?

O chá esfriou.

A pomba sujou tudo ali após despencar lá de cima sua arma letal. Caiu ao meu lado. O barulho trazido pelo vento é pavoroso. Escapei. Ufa!

Quando tapo os ouvidos, mesmo no meio da ventania, costumo ouvir meus sussurros interiores.

As pessoas estão tão expressivas hoje em dia que acabaram se tornando caricatas ao extremo.

Depois do estalar de dedos, nada mais foi do jeito que era, nada mais será o que será...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Transborda felicidade danada!

A razão foi feita para esconder, e a emoção, para sentir. Sempre que penso racionalmente me embrulho num manto intransponível, me guardo e não me revelo nem a mim mesmo. Mas quem disse que eu consigo? Um ser emocional dos pés à cabeça não consegue disfarçar nem um olhar enviesado, muito menos a paixão que transmite com um simples aperto de mão, ou simplesmente com a energia que emana do seu corpo. Por isso, me declaro emocional até que a morte me separe da vida, ou a vida me separe da morte, como preferir.

A felicidade me visitou hoje. Ela meteu o pé na porta, escancarou-a, falou um ilustre palavrão e apontou o dedo em riste contra minha cara. Mas que atrevimento desconcertante e provocante, não? A beleza me emociona tanto, mas tanto, tanto, que eu nem sei medir nem remediar. Lágrimas vertem do meu rosto quando eu vejo a beleza, mesmo que ela não seja bela para você, para os outros e para elas ali.

Todos se surpreendem - outros reprovam e invejam - com meu ar contundente e feliz. Estranham ao ver meu riso de canto de boca. Mas sabe qual é a verdade? Me transbordo porque acho que estou quase cara a cara comigo mesmo.

Hoje eu me sinto tão eu...

terça-feira, 28 de abril de 2009

Uma réstia de lua

A dor adormeceu o ardor e esqueceu de adornar as adoráveis criaturas dormentes...

Às vezes, os músculos da minha face tornam-se impenetráveis, não se movem de jeito nenhum. Mas não se engane, meus olhos entregam o que vai aqui dentro...

Deleitáveis. Deleito. Que palavra linda e encorpada! Vixi menino, não faça isso comigo não... É linda ou não é?

Ver a transformação de perto é tão transformador que provoca um arrepio da espinha até o dedinho mindinho do pé.

...Quando eu fecho os olhos, ouço a música, sou a música.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Vento frio

Trin. Trin. Trin.

Não acha que já é a hora de decorar outro número de telefone? Talvez sim. Talvez não. Quem é que sabe as horas das coisas? Se soubéssemos, não teria a menor graça colocar o pé gelado no chão na manhã - ou madrugada? - de uma segundona preguiçosa.

As vírgulas nem sempre são colocadas em seus devidos lugares. Mas quem se importa? A vida hoje parece tão comum e blasé que as pessoas passam umas pelas outras sem se olharem, sem se notarem. Sem dançar ao som da música alta em um sábado eufórico fica mais difícil suportar o dia a dia cheio de "corriquices", que é a mistura de corriqueiro com esquisitices. Você é tão esquisito! Eu sou tão esquisito! O mundo é tão esquisito! Apenas a vida é normal. Tão normal que quando ela acaba, acabou para sempre.

Há vida depois do corpo? E quem disse que a vida é só corpo? E quem não tem alma? Morreu, acabou? Acabou, morreu? O fim é realmente o fim de tudo? Para quem pensa que a vida é apenas pão e água, lamento: morreu, acabou sim! Adeus.

domingo, 26 de abril de 2009

O inimigo

Certa vez, ouvi uma história sobre o inimigo, que começava assim: "Era uma vez...". Te peguei, não é? É, a brincadeira não foi engraçada, eu sei... Agora sim: ela começava e se encaminhava já para o final, como se tivesse vontade própria. Não vou contar aqui a história toda porque ela é muito longa, mas contarei a essência daquilo tudo que a envolveu. Tudo principiou assim: "Mulher, eu nunca mais volto naquela igreja. Uma palhaçada só, todo mundo sambando... tinha até dança de rua, onde já se viu! Que algazarra doida! Nunca mais volto lá." (depoimento de uma crente descrente da arte e da vida, ela só acredita em Deus e mais nada).

Ao ouvir este depoimento roubado perto da esquina insaciável de sussurros, pensei: talvez por trás desta fala está o que eles chamam de inimigo. O inimigo que os amedontram e os fortalecem. Que os fazem combater o mau e acreditar num ser superior. Naquele instante compreendi tudo, como num lampejo de luz ensandecida: "O inimigo é a desculpa para a existência de Deus".

E comecei a gargalhar.

Pronto. Acabou a história, tão longa quanto a fé neurótica de meio mundo inteiramente paranóico e tristemente fundamentalista.

sábado, 25 de abril de 2009

No supermercado

Andando pela rua. Centro da megalópole. Transeuntes fazem o que mais gostam: transitam. Juntamente com seus preconceitos. E me olham. De cima a baixo. De todos os lados. Me perseguem tão rápido quanto seus olhares conseguem. As idéias fervilham aqui e ali. Mas eles continuam me olhando. Paranóia? Ou nóias? Ah, isso tem bastante! Será que ser nóia é não perceber a vida que gira e desvira ao entorno? Então todos somos nóias? E despidos de pudor? Jamais. As esquinas se revelam cada vez mais cruas. E as pessoas continuam a me julgar. Me julgam com suas intenções ferinas e pecados insanos.

- Será que ele é?
- Será que ele não é?
- Mas será que ele é o quê?
- E será que ele não é o quê?
- Será que isso pega?
- Será que isso desapega?
- E se meu filho for?
- E se eu virar?
- E se eu for influenciado?
- E se eu for atacado?
- E se eu atacar primeiro?
- O que eu faço para não olhar?
- O que eu digo para não revelar?
- E aqueles homens sem camisa?
- Não posso olhar! É pecado.
- Não posso ser, nunca!
- E não vou conviver com a dúvida! Simplesmente não sou.
- E quem você é, então?
- Sou você estampado num retrato que ainda não foi tirado.
- Sou o mar, sou a lua, e ao mesmo tempo sou o tempo.
- Sou soma, subtração e subversão.
- Sou livre, sou homem, sou deus.
- Mas Deus não existe.
- Então crie o seu mundo e seja Deus.
- Mas eu só sei olhar...
- Então olhe para si e para o outro... e crie. Crie sem parar.
- Prefiro não ser a ser um deus criador.
- E se todos fossem deuses?
- Mas nós já somos... julgar é nosso principal passatempo.
- O tempo passa e a cabeça do feijão muda.
- Mas a cabeça daquele homem carcomido pelo tempo e pelo pudor...
- Já sei!
- O quê?
- Ressuscitou em mim a certeza de que amanhã não haverá olhares.
- E, por acaso, o mundo ficará cego?
- Não, a lua cansou de brilhar, e o homem terá de se reinventar.
- Sério?
- É sim.
- Mas com quem converso? Quem é você que me atormenta com estas vãs palavras?
- Sou você, sou eu, sou as estrelas. No fundo da sua inconsciência inconstante.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ontem

O mundo está lá fora e mandou dizer: estou a lhe esperar. Para sempre? Aí é você quem decide.

Ande debaixo do meu guarda-chuva? Só por hoje? Só por agora? Amanhã não existe, é apenas uma invenção do pensamento contemporâneo. Amanhã é ontem, assim como ontem não significa mais nada.

A possessão das energias negativas às vezes prevalece diante do enfezado garotinho que acha que vai conquistar o mundo quando crescer. E não duvide. Talvez ele consiga mesmo.

O apito me acordou. E a imaginação travou. E o carro foi embora. E o trem passou. E a chuva caiu. E o vento soprou. E o amor desabrochou. E o sol reclamou. E a lua aplaudiu.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Danada esperançosa

Só tenho isso a dizer e a desabafar e a explorar e a expressar e a mostrar:

"A danada da esperança me invadiu, bateu o pé e proclamou: não saio daqui tão cedo".

Então tá. Eu que não vou reclamar, não é?

A crença em ti é um reflexo da segurança que tem em viver e encarar de frente [redundância redundante] tudo o que, por desventura, aparecer em seu caminho.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Caraminholas

Passamos pela vida sem sequer desconfiar sobre o que realmente viemos fazer aqui. A existência é realmente o mais importante? É tão difícil descobrir porque tudo é como é, que simplesmente não buscamos mais respostas. Apenas perguntamos timidamente porque o sol é quente e a chuva molha. Mas não perguntamos para ter respostas, porque temos aquilo que chamamos de fé. E quando a gente decide acreditar para valer em algo, aí pode esquecer para valer também. Se alguém se pergunta o que é a vida, você acha que um outro alguém a leva a sério? Isso é apenas para os loucos, os únicos que ainda não perderam a esperança de encontrar o seu caminho, não importando se ele é certo ou errado, apenas o caminho. Por que nos preocupamos tanto com miudezas do dia a dia tão aturdido de emoções e ações? Talvez porque somos seres humanos. Esta raça indecifrável e irracional que somos. Balela dizer que somos mais racionais do que emocionais. Esta é a maior mentira que já ouvi em toda a minha vida. Você não concorda? Para mim é sempre o coração que manda mais. E não entorte esta cara aí não seu durão, que eu te conheço muito bem. Você também é humano! Ou não? Ou você é apenas uma máscara sobreposta por carnes e ossos vis? Ah, a vilania um dia acaba. A raça humana também? Também. Ela nunca foi eterna. Ela nunca foi para sempre. Ela nunca foi, na verdade. E depois ainda inventam esta tal história de 2012, de que a raça humana se regenerará. Ha-ha. Se isso fosse acontecer, já teria acontencido há muito tempo. O tempo não importa. O que importa é a vida. Seja em qual forma for. A vida sempre é a essência da montanha-russa que move este mundão aqui. Outros mundões virão. Quando? Não sei. Mas virão. E virão intensa e desabaladamente. Espere. Ou melhor, espere vivendo.

domingo, 19 de abril de 2009

Bote reparo

Arroubos. Gestos. Expressões.

Gente.

Jardim São Francisco.

Excrementos.

Botar reparo. Fazia uns dias que tentava lembrar desta expressão. Taí.

Lembrei.

Ele era bem apessoado. Bonito, para ser mais claro.

Ou estava muito carente?

A solidão é tão minha que ninguém se atreve roubá-la de mim.

O que será que tem naquela janela daquele apartamento onde tem aquele varal de histórias penduradas?

Aponte para o céu e acredite como aquela senhora loucamente feliz e despreocupada acreditou. Ela se entregou. Quero me entregar como ela quando eu amadurecer. Dance mais, dance.

O tema da partida tem tanto a cara daquele irlandês. Muito! Demais! Exageradamente demais.

sábado, 18 de abril de 2009

A banguela

Amor. Desamor. A morte. Amorando. Memorando. Amora.
Clamor. Cavernoso. Cabide. Caçamba. Cata-vento.
Sonho. Só. Soma. Sonharia. Solicitude. Sergipe.

A banguela representa que você cresceu, ô minha pequena menina. A banguela é a chave da vida. A banguela é o símbolo maior da busca contínua por transformação, por melhora. A banguela se transfigura, desaparece, mas não morre. A banguela não morre na memória. A banguela está registrada em muitas fotos, mesmo que as fotos não se revelem assim de cara. A banguela é o passo necessário diante do infinito.

Já ouviu falar de Santa Maria da Bicicleta? Pois eu já. Uma expressão que só poderia sair da cabeça de uma mãe que eu nem sei de onde saiu de tão perfeita e divina. É uma das perguntas que jamais saberei responder. Eu devo merecer mesmo, viu! Sou merecedor. E pronto.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Deitando a fé

A fé precisa de um descanso quando nós também estamos descansando. Caminhar nem sempre é totalmente necessário. Muitas vezes, a mente caminha por si própria. Não é preciso "parar para pensar". Pensar andando é tão interessante que eu acabo sempre pensando muito. Penso tanto que chego a pensar em nada. Sabe quando você olha para as coisas e não consegue pensar em nada? Mas pensar em nada já é pensar, não? Pensar que não pensa em nada já é um ato de pensar. Ou não? Ou estou com um parafuso a menos? Ou a mais? O julgamento do outro ainda me aflige. Mas vou vivendo mesmo assim. Continuem a julgar. A apontar os dedos contra minha face. Na face que o tempo não vai perdoar. Na face onde carrego os meus anseios e sonhos de além-mar. Mas é preciso se reunir em volta de uma grande mesa, em um dia de grande festa. É preciso e urgente. É preciso se olhar mais, andar pelas ruas e olhar, olhar sempre. Mas não um olhar distraído e apressado. É preciso se deter nas esquinas e olhar para o mundo. Ele pede e implora. As pessoas também. Mesmo na individualidade de cada um [redundância para reforçar], todo o mundo espera mesmo é ser olhado. É ou não é? Não falo dos 15 minutos de fama. Falo de ser olhado com atenção e humanidade. Ser olhado como um igual. Ser olhado com os olhos da alma.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Adotivos

E já dizia Rachel de Queiroz: "E tem os amigos que são os irmãos adotivos, tão amados uns quanto os outros". A idéia é de uma simplicidade tão latente que chega até a incomodar. É claro que eles são irmãos, são da família. Eles são garimpados involuntariamente aqui e ali, para seguir conosco durante toda a vida, na caminhada insaciável de ser feliz. Eles estão ao nosso lado quando deviam estar. Eles, muitas vezes, são mais irmãos do que os próprios irmãos de sangue. Mas escolher um irmão não é melhor? Escolher uma alma para compartilhar sorrisos e lembranças, sem pedir nada nem cobrar presentes, não é realmente genial e transformador? Pegar em sua mão e chamar para lutar não é um gesto de extrema força? Sem temer o horizonte, foram para a cidadezinha encantada e foram felizes ao pôr-do-sol. Ou ao pôr-da-lua, quem sabe. Ser amigo é não se incomodar com os silêncios que, por ventura, são enlaçados pelos sussurros do vento na manhã fria da cidade grande. Fazer e ter amigos é construir uma família ideal, com todos os problemas e obstáculos, é claro, mas uma família que você sabe que estará ali para funcionar como a base para todas as pragas que rogarem contra você. São escudos chamejantes e tão poderosos quanto o pensamento.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Impulsividade

Quando ferve tudo, mando o chefe às favas
Quando não tenho nada, me descubro no meio de tudo
Quando me sinto em mim, me transporto para lá
Quando abro os olhos, os ouvidos se distraem
Quando sinto um frenesi, os sonhos se elevam
Quando passa a raiva, a respiração serena
Quando vejo TV, esqueço da vida
Quando vivo, esqueço de morrer
Quando apareço, me escondo em mim mesmo
Quando te quero, te quero por inteiro
Quando me entrego, me perco deliciosamente
Quando almejo, fico impregnado de comichões
Quando vejo um velinho ou velhinha, penso no futuro
Quando eles se arrastam, tremem ou não lembram, eu penso
Quando eu penso que logo serei eu [será?], penso ainda mais
Quando pensar demais fica cansativo
Eu durmo.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Comédia dramática

Você não ama o que não conhece.

Até aí, totalmente óbvio, certo?

Quanto de mim já foi descoberto? Se eu não posso responder, não é você quem vai poder, não é? Ai que enrolação de vida!

Só sei que tem cor de canela. Sabe como é cor de canela? Achei tão linda esta definição. Cor de canela. Qual é a sua cor? E a resposta é: cor de canela. Ou canela de cor?

Essa cidade é tão gélida, distante e monocromática! Sobretudo nos dias nublados e chuvosos. Olhe pela janela e confira você mesmo. Não dá para ver nem sentir a energia que normalmente emana dos corpos em circulação. Depois ainda dizem que São Paulo não pára. Blá-blá-blá.

Me afogo em meus prantos e renasço a partir do indizível indivisível das minhas vãs e necessárias palavras. Ao vento. Ao sopro do vento inflamável.

domingo, 12 de abril de 2009

E o boi renasceu...

Festa popular. Criativa. Muitas cores suingadas. Muito brilho impronunciável. Ao som dos tambores e cantos da terra distante, o boi entrou na roda e fez a festa das centenas de pessoas presentes. Fez a festa ficar na memória de todos que estavam ali. Fez a festa ser valorizada em mais uma etapa da proteção de uma cultura que nunca morre. Mesmo que ela não esteja mais em seu berço, ela se reinventa a partir dela própria e de seus guardiões. Recomendável ao extremo da enésima potência. Vá dar corda à sua emoção!

E, para você, o que é ser brasileiro?

Pense e me diga. Ou não diga. Mas pense...

Ser brasileiro é sentir, como um tapa na cara, a racionalização da esperança que está intrincada em nós desde o nascimento e que nos acompanha em cada passo mal dado ou mal planejado durante a vida.

sábado, 11 de abril de 2009

Elucubrações

A danada da palavra saltou lá do fundo do meu vocabulário e não pude mais controlá-la. Simplesmente tomou impulso e pulou do penhasco para a vida e para o mundo.

Para o mundo, que nunca se cansa de ser possuído por nós e nos possuir, concomitantemente [nossa, que palavra estranha!]. Você já possuiu o mundo? Já se sentiu pertencer a ele? E a si mesmo? A loucura diária transtorna as inquietações flamejantes aqui dentro de mim. A angústia é a base da minha sensibilidade. Eu a idolatro. Eu a venero. Eu a amo. E estou descobrindo e me inventando a cada dia. Será que ainda vou fazer isso quando estiver velhinho?

Falando nisso, outro dia estava caminhando e ouvi o seguinte diálogo:

- Saiu para dar uma caminhada? - disse um velhinho de um lado da rua.
- Sim. Estou andando um pouco, não muito, só um pouco - respondeu o outro do lado oposto da calçada.
- Ah sim. - completou o outro.

Imediatamente um sorriso brotou do meu rosto ao perceber como os pequenos e singelos diálogos podem ser tão enriquecedores. Você não acha? É, você aí que está com esta expressão de incredulidade em relação à vida!

Que tal caminhar um pouco? Não muito, só um pouco?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Imaginação vermelha

"Borboletinha, tá na cozinha/Fazendo chocolate/Para a madrinha/Poti Poti/Perna de pau/Olho de vidro/E nariz de pica-pau pau pau". A criança cantava e encantava, com sua coleguinha ao lado, enquanto atravessavam a ponte da linha do trem. Me lembrou tantas coisas, sobretudo a alegria de ser e estar criança.

O pequeno garoto, filho de um amigo, começou a me chutar sorrateiramente e alegremente assim que me viu. Mas era só uma brincadeirinha, de animação por me encontrar. Dizem que levo jeito para a coisa. Não sei. Ou melhor, sei. Acho que sim.

Quero, para sempre e para agora, uma imaginação tão vermelha quanto a vivacidade de uma criança em plena expansão de seus poderes e de suas forças inigualáveis. Uma imaginação vermelha.

domingo, 5 de abril de 2009

Flocos de nuvens

O avião passou e prosseguiu viagem e o pensamento na minha mente navegou ("Que audácia! Alcançar os céus de forma tão íntima e sincera!"). Alcancei e o persegui com meu olhar limitado, até ele se esconder por trás daquela montanha. Daquela montanha naquele lugar montanhoso e íngreme. Põe íngreme nisso. Não desejo que você experimente as subidas daquele vilarejo, que um dia sonhou em ser bucólico.

Sereno e perene como as nuvens que correm a toda velocidade pelos céus azuladamente estáticos, movidas pelos ventos que varrem até os ciscos dos cantinhos mais desencantados. No entanto, os flocos branquinhos não se moviam naquele momento. Cadê o vento? E a saudade? Uma ou outra conseguia significar uma imagem. Mas provavelmente era eu que não estava tão inspirado para imaginar. Será que é por isso que as pessoas assistem a televisão? Pegue um livro. Aquele livro. Não qualquer um. Aquele especificamente. Não outro. Não aquele que está aqui ou acolá. A colar na prova.

Mas as nuvens continuaram lá, significando algo que minha vã imaginação não conseguiu captar. Porém, outras por aí afora conseguiram intimar a sua descabida e incompreendida beleza natural. Quase chorei.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Aquelas que cutucam

O título é obsceno? Talvez. Depende do seu grau de obscenidade. Mas eu falo mesmo é sobre frases que te marcam intensamente na hora que você as ouve ou as leem, ou ainda as imaginam. Veja estas duas que me cutucaram com vara bem curta:

"Cultura é identidade. Mais que isso, é tudo o que o homem imaginou para moldar o mundo, para se acomodar nele e torná-lo digno de si próprio. É isso a cultura: tudo o que o homem inventou para tornar a vida vivível e a morte afrontável". (Aimé Cesaire, poeta martinicano)

"Daqui a mil anos, não haverá homens ou mulheres, só veados. Eu acho legal. Acho que somos heteressexuais por omissão, não por opção. É só uma questão do que é teatral. É uma questão estética, e não tem porra nenhuma a ver com moralidade" (Trainspotting)

Fenomenal.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Seguridade insegura

Estive pensando sobre a intolerância humana. Mas isso é uma coisa que sempre penso, ainda mais quando esta insana intolerância salta tão desabridamente aos olhos, como se fosse uma dama da noite travestida de bondade e desfaçatez. Ha!

Rechaçar é combater até os frutos maléficos dependurados da árvore tão frondosa e bela quanto à nuvem carregada de estridência. Ardência.

Discutir vai além de pontos de vista distintos e contraditórios... Discutir é viver a vida na mais profunda troca de essências.

Frases soltas ao vento são somente frases soltas ao vento, entumescido de sementes despossúidas de razões por todo canto. É a emoção que grita sua verve instingante.

Verve. Instingante. Intrincada.

terça-feira, 31 de março de 2009

A escolha

- O poder da escolha está em mim ou está em ti?
- Jogue tudo para o alto então!
- Mas e depois?
- Depois não há nada, não existe nada, só o breu.
- O breu nem sempre é prejudicial. É no breu que encontramos a luz.
- A luz está onde você quer que ela esteja. Simples assim.
- E a maldade mundana também.
- E será que o futuro um dia chegará?
- A pergunta deve ser outra: vamos ficar esperando ele chegar?
- Eu não, e você?
- Não sei, estou em dúvida. É tão duvidoso viver.
- E é tão insano decidir, você não acha?
- Claro! Decidir e escolher. Escolha viver e decida o tempo todo.
- Então quero ser um expert em decisões.
- Ah, mas isso é ser muito idealista. Você nunca será o rei das escolhas.
- E o rei de mim mesmo?
- Jamais igualmente.
- Mas há sentido em vivemos de talvez e jamais?
- A revelação está em você, simplesmente.
- Que revelação?
- A de que eu falei na semana passada, tão desabaladamente que você nem prestou atenção.
- Eu não presto é para nada, homem!
- Você é quem está dizendo...

sexta-feira, 27 de março de 2009

A mulher das argolas

Ufa. Acabou. Mesmo depois de ter corrido que nem a Lola pela rua Tabapuã para vencer o tempo e o atraso, finalmente cumpri o que tinha de cumprir. Fiz o que tinha de fazer. E ainda por cima corri mais um pouquinho. Um ponto a mais para meu período saúde, saúde, saúde.

Mas o que me deixou perplexo mesmo foi aquela motorista no ônibus. Minha nossa! Ela era muito bonita para estar ali. Primeiro que a gente quase nunca vê mulheres dirigindo ônibus. Segundo que quando a gente vê, elas não são tão bonitas e delicadas assim. Pois ela era. E era bem engraçado ver a expressão das pessoas, sobretudo dos homens, quando entravam e se deparavam com ela ao volante, com suas grandes argolas brilhantes nas orelhas, o cabelo escuro e liso e luva preta na mão que empunhava o sistema de marcha do veículo.

Eu amo as mulheres, mas preciso confessar: naquele ônibus lotado, havia espaço de sobra para todo o despeito de algumas delas em relação à motorista. Uma moça boquejou: "Eu tento defender a categoria, mas ela não está ajudando". Só por quê o veículo teve um problema mecânico numa das subidas? Ah, faça-me o favor, minha senhora, e controle a inveja, pois ela mata, viu!

Mas o que ficou enfatizado mesmo foram os olhares e suspiros masculinos, que podem ser resumidos na onomatopéia Uia!

Arrasou mesmo, motorista. Volte sempre! Foi um prazer.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Um galho solitário

As estrelas cintilavam mais do que qualquer diamante do mundo inteiro, mesmo naqueles lugares nunca antes inundados pelo ar humano. Quer dizer, elas cintilavam bastante sim, mas eu só fiz a comparação porque elas raramente brilham assim aqui na cidade grande. Ou a gente raramente as percebe sob olhares mais atentos e aguçados.

E enquanto a luz amarelada do poste tingia a rua com sua penumbra disfarçada de borrões indistintos, a pequena árvore sem galhos tremulava para lá e para cá naquela noite friorenta e despida. Tão despida quanto a própria árvore, que perdeu suas folhas algumas semanas antes. Não, não foi a natureza, foi a mão do homem mais uma vez. Tanta sabedoria e tanta vilania podem coexistir em uma espécie só?

Você não viu aquele pequeno tornado que se formou ali? Mas minha nossa! Isso nunca aconteceu por aqui! Pois é, minha filha. Mas você sabia que se ele atingisse aquele prédio gigantesco ali poderia causar uma destruição de até dois quilômetros?

...

E a árvorezinha continua a morrer de frio na alma a cada dia que fica ali sob a luz amarelada da lâmpada do poste.