segunda-feira, 4 de maio de 2009

O vento uivante

A chuva caiu. O tempo gelou. O moço não viu. E não esquentou.

Hoje o vento uivou. Uivou tanto que lembrei de uma pergunta. Um dia, em um dia já muito distante daqui, me perguntaram se eu tinha medo de algo. Respondi que não. Mas hoje eu descobri que tenho sim. Tenho medo de ventos uivantes. Eles entraram pela janela e eram de todos os formatos. Se eu vi as formas? Mas é claro que eu vi. Você nunca viu? Tinha um triangular, bem traiçoeiro; o outro, era arrendodado nas pontas e tinha um corpo-violão que o deixava com aparência bem engraçada; já o outro parecia um ovo mal frito. E tinha muito outros formatos. Mas só te conto quando você também puder ver as formas do vento. E cada um deles uiva de uma forma. Não é nada bonito de se ver. Muito menos de se ouvir. Ainda mais quando você está em uma casa fechada e escura. Não recomendo nem disfarço o medo. Antes - bem antes - tinha medo de escuro. Mas o escuro já não inspira mais nada num mundo que é cada vez mais fúnebre e tocantemente manchado de negras, brancas e pardas manchas de dor.

O baile começou. A chuva parou. O homem dançou. E a mulher brilhou. E a lua ficou no seu pedestal. Aquele pedestal que os ventos uivantes não ousam nem pensar em se aproximar.

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