sexta-feira, 29 de agosto de 2008

As vozes esbravejam, mas ninguém nota

Lustre com luzes apagadas. Ainda era dia. Procura-se uma mão branca com veias saltadas a olhos nus. O trem passou no meio da favela e a pobreza já não o espantava mais. Mas a mim sim! Ainda me arrepia ferozmente. Camisa amassada pelas ruas que não se encontram quase nunca, ou só de vez em quando.

Um outro universo. Eu fui lá hoje. Uma feira de perdições e perdidos, mas que talvez ainda tenham uns restos de esperança [a tão frágil e inegável esperança] de poder reerguer a cabeça, o corpo, a vida. A alma que vive pregada nos alicerces maculados de dores do parto, da infância, da juventude, da velhice. Ó, também para eles deve haver alguma salvação, pois ela espia com arrogância aquelas criaturas subjugadas.

Observam lá de baixo dos bueiros danificados, esquecidos e igualmente cheios de odores que, na maior parte do tempo, ficam relegados à segundíssimo, ultimíssimo plano. Se é que algum plano há nesta confusão anunciada fora do tempo e do relógio cronometrado. Ainda não despertou, não é a hora de levantar, abrir os olhos para uma realidade que bate à porta todos os dias e os esmurra com toda a força de sua desumanidade e incompreensão.

Estes vis sentimentos figuram em livros suntuosos e propagados por esse mundão afora [sem fora nem dentro, muito menos alento], e que espalham e fazem zumbir e sucumbir até as mais tristes existências. Mentes.

Mentes, mentes muito bem.

E aquele vento parecia querer dizer: “Tá vendo? É possível varrer... não para debaixo do tapete, mas varrer os incompreendidos nas fuças daqueles que insistem em não notá-los”. Sim, é preciso, meu caro e inebriante vento. Não só é preciso, mas urgente! Façamos, segure minha mão e caminhemos aferrados no desejo de transformar a rua, o mundo, as pessoas. Portanto, não mintas para si mesmo. Meta o pé por entre as portas da dúvida e creia que a esperança [ah, a esperança de novo] pode ser mais do que um sentimento; ela pode ser também AÇÃO!

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