sábado, 17 de abril de 2010

Beira-mar

Eu estava à beira mar, enxergando o que eu sempre fui. O que meu corpo sempre quis me dizer e eu nunca escutei. São corpos que falam. São corpos que, frágeis, sentem o que é cair. Alçam o mais complicado vôo na esperança de continuar ser humano. Sendo. Fenda exposta na pele da incompreensão. Os pés sussurram. A boca pisa. Enquanto o coração escuta. Com atenção. Com pré-tensão.

Queria dizer tanta coisa, mas me falta agora a memória que tive alguns minutos atrás... Faltam gestos que possam descrever o que foi que aconteceu naquele instante fatídico em que os seres se encontraram e não puderam mais realizar a incógnita separação. Já não sei mais se serei amanhã o que sou hoje, pois é tudo tão mutável, tão intransigente, tão gente, tão sem. Tão eu desligado de tudo o que está em volta de ti... Em volta de mim.

Estar ciente não é dizer que aceita, é dizer que vai até o fim sem reclamar, sem se arrepender de qualquer prejuízo que possa saltar aos olhos de quem não vê. Parece tudo tão lunático. Parece tudo tão poético. Mas a vida é dura. Duríssima. E ela segue, sem pena, com choro, com dó do que não pode ser, do que não foi, do que não sou, do que sempre desejei e não aconteceu. Acho que eu me basto, senão as reticências já teriam me engulido.

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