O velho estava no bar. Esse é o começo da conversa. Marque bem isso. E estava sozinho, bulinando em algum brinquedinho em cima da mesa. Não cheguei tão perto, por isso não posso descrever com precisão o objeto. Mas percebi que havia muitas lembranças pairando por ali...
- Está completamente recuperada?
- Só por hoje. É só isso que posso dizer.
- Que sorriso lindo.
- Obrigada, é que de repente lembrei que a vida vale a pena.
- E as promessas?
- Que promessas?
- Ela havia me prometido que não se cansaria de viver.
- Mas cada um aprende o que for necessário, ou não.
- No entanto, não há tanto tempo para aprender.
- E para falar?
- Ah, isso é o que mais tem, viu...
- Pois é, uma boca e dois ouvidos e as pessoas não se cansam de exercitar a língua...
- E acabam esquecendo de agir.
- Ou de viver.
- Ou de volver.
- Ou de voltar.
- Atrás.
- Mas é claro que é atrás!
- Nem sempre... Nem sempre.
- Por quê?
- Porque os porquês são tão misteriosos quanto o farelo no chão, ainda intocado pelo vento.
- A ventania.
- Lá na serra depois de onde passou o avião. Viu?
- Vi.
- Me sinto tão bem no meu refúgio...
- E qual é o seu refúgio?
- Eu mesmo e todo o mundo, ao mesmo tempo.
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