Um ser andante e apaixonado pela lua... eis o que sou. Eis o que pretendi ser durante muito tempo, até conseguir. Até canalizar minhas energias para projetos nunca antes navegados. Tudo isso foi tão custoso que pode-se comparar ao sangramento de uma vaca na hora do abate. Muito suor rolou. Muita preocupação. Muita insatisfação. Muita doutrinação das minhas vontades inimagináveis. A construção de um repertório depende mais do querer do que do ter propriamente. A propriedade do intelecto é só sua e de mais ninguém. Quem será audacioso o bastante para roubá-la de ti? De mim e de nós? Eu duvido.
Estava pensando sobre o ceticismo da vida, sobre a obra não acabada todos os dias. Ou você deita sua cabeça no travesseiro e pensa: 'nossa, hoje eu fiz tudo o que eu queria fazer'. Acho difícil. Sabe por quê? Porque somos demasiadamente insatisfeitos, e talvez aí resida o segredo de viver. De estar aqui. Ou ali. De permanecer. De correr. De ficar a ver navios. De não se mover. De se resignar. De lutar. De chorar. De não dormir. De gritar. De espernear. De beijar. De 'fazer amor'. De transcender. De duvidar.
Mas o que passou, passou, dizem os mais desavisados. Mas e aquela velhinha que estava na calçada esperando o semáforo fechar para conseguir atravessar a rua? Alguém se importou? Alguém lhe estendeu a mão? Alguém sequer olhou? Eu olhei, sem demagogia e pedantismo. E estendi meus dedos finos em sua direção, no que ela me deu presente um lindo sorriso de agradecimento. Pequenos gestos podem conter grandes acontecimentos.
É verdade. A minha verdade ou a sua. Não importa. A verdade nem sempre é a melhor parte do dia.
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