quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Marcas

As marcas se embrenham na face como o machado cortando a lenha, como os traços que vão sendo desenhados no papel. Mesmo que o desenho não seja belo [mas o que é ser belo?], cada um vai construindo os seus contornos. O tempo passa, a idade chega e as marcas ficam para sempre. Depois se dissolvem. Mas ficam por muito tempo. Para uns, é apenas um detalhe. Para outros, aquelas pequenas rugas tornam-se um dramalhão mexicano. Mal sabe eles que são extremamente necessárias. São cheias de significados, emoções, histórias. E as marcas de infância? As marcas das peraltices. Você, com certeza, deve ter alguma aí pelo corpo. Na infância, eu gostava de brincar com fogo, até que o fogo um dia resolveu brincar comigo e deixou uma marca eterna na minha perna esquerda... Crianças: não misture plástico com fogo. Vocês podem se machucar. Mas se se atreverem, como eu, sejam mais cuidadosas. Ou não.

O olhar submisso abaixou para o lugar onde estava acostumado. Para o lugar onde ele achava que era o seu. Mas não era, de jeito nenhum. Eu tentei dizer com meu olhar que não podia ser sempre assim. Que não era pra ser. Mas ele tentou de leve, timidamente, me encarar. Mas a opressão estava tão estampada em sua expressão que não pude fazer muita coisa. Mas espero que ele encontre forças internas, onde ninguém acredita que tenha, para quebrar as correntes e seguir adiante. Independente. Dono de si. Do corpo. Da alma. De sua existência. Curtíssima.

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