terça-feira, 2 de setembro de 2008
Bolinhos de chuva do mar
Quero apenas dar um pontapé na brisa marítima que cobre de arrepios as nêsperas do deserto habitado por criaturas insalubres e descontentes ao sabor de seu azar. No dia de São Longuinho vão comemorar o achado daquela preciosidade embutida no pé de laranja-lima. Nunca tinha visto um ipê. Que amarelo impactante e delicado. Também não havia tucanos em sua terra, pensava que eles habitavam apenas o zoológico perto de sua casa. O tucano comeu comeu comeu e ainda assim não saciou sua sede de corpos navegantes pelos extremos da crosta terrestre. A Terra. Da janela vislumbro timidamente uma estátua com auréola de anjo [tem auréola de outra coisa?] e iluminada pelo sol refrescante daquela tarde de inverno. Torrando ali diariamente. Ela estava parada [sim, não se mexia de modo algum!] no alto de alguma igrejinha com paredes e ornamentos desbotados e tomados pela ação impiedosa e nada vulgar do tempo. Que não tinha cabimento nenhum, ela sabia, e tinha plena consciência disso, mas sua resolução não foi a esperada pelos demais simplórios que viviam em palacetes de hipocrisias e mentiras disfarçadas de luzes ofuscantes e cheias de beleza estonteante. Dizia que no seu entender o mundo não passa de uma pequena constelação de estrelas. Mas e essa imensidão de mares e terras? São menos do que o menor dos seres inanimadamente vivos que figuram no universo. Figuras montadas ao bel-prazer do criador de causos e crendices. Lembrei do fogão à lenha da minha avó, com suas labaredas que eram incitadas a cada instante para cozinhar o alimento do dia. Eu fui buscar a lenha e a plantei aos pés de Rosa Rosalina e ela abriu um sorriso de agradecimento. Seus netinhos não ficarão ao léu naquele fim de tarde. Irá preparar mais um saboroso arroz doce. Hummmm. Já sinto o aroma que minha memória não esquece nunca. 'Dindinha, faz bolinho de chuva também?'
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