quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Escrever nas flores

O canteirinho estava repleto de pequenas flores – aquelas chamadas de boa-noite, ou bom dia! – vermelhas, laranjas, lilases e rosas. Quase ninguém as olhava, mas elas estavam ali exalando a beleza sem pedir nada em troca. Elas apenas existiam por elas mesmas, sem se preocupar com a próxima estação ou vidas futuras.

No entanto, é engraçado como se assanham quando o vento bate nelas. É como se o macho cortejasse a fêmea sedenta de amor, carinho e atenção. É uma troca tão singular que chega a emocionar quem dispõe de sensibilidade suficiente para expandir os horizontes, para ser o próprio horizonte que se estende pelos passos irregulares do dia-a-dia.

Ao chegar ao trecho do túnel lá depois do monumento que tomava quase todo o espaço dos olhares, parou e percebeu como o sol pode ser distraído e despreocupado. Palavras se remexiam e gritavam interiormente, pois era preciso expressar, falar, berrar, se mostrar. Comunicar. Necessidade básica e primordial na vida de qualquer mortal. Elas, as lindas palavras – mesmo as mais feias e impraticáveis – explodiram uma a uma a toda a velocidade.

De certa forma, não era possível avançar para mais adiante daquele semáforo. As pernas já não obedeciam às ordens cerebrais desconexas. Elas foram parar na ponte onde não havia nada do outro lado.

Era vazio e puro.

O começo de tudo.

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